quinta-feira, 22 de junho de 2023

Ranking de escolas: os contextos contam


Foram há dias divulgados, uma vez mais, os rankings de escolas. Sem surpresa, as parangonas repetiram-se pela enésima vez: «38 colégios privados no topo da tabela antes da 1.ª escola pública», diz a CNN; «Só cinco escolas públicas entre primeiros 50 lugares do ranking de escolas», assinala a RTP; «No top 50, há três escolas públicas», sentencia o Observador, entre outras. E, também pela enésima vez, constata-se que a imprensa continua a aceitar publicar as classificações dos privados sem que estes partilhem qualquer informação de contexto, nomeadamente sobre o perfil socioeconómico dos seus alunos, indispensável para interpretar de forma séria os resultados.

Ou seja, continuamos a dispor apenas desta informação essencial para o universo das escolas públicas, a qual permite ultrapassar, neste universo, a seriação cega das escolas que resulta exclusivamente da ordenação das classificações, como se todos os alunos tivessem as mesmas condições de partida, em termos de enquadramento familiar e estatuto socioeconómico (ou como se essas condições pudessem ser olimpicamente ignoradas na avaliação dos resultados e do desempenho dos alunos e das próprias escolas).

O «ranking de superação», trabalhado pelo Público, constitui uma das formas de integrar os perfis dos alunos na calibração dos resultados, reordenando as escolas «das que mais se superam para as que mais ficam aquém do valor que seria esperado tendo em conta o seu contexto socioeconómico». Isto é, considerando o peso relativo dos alunos com «apoio no âmbito da Acção Social Escolar (ASE)», a «habilitação média dos pais» e a «idade média dos alunos» face ao ano que frequentam, como sendo «as variáveis que mais “explicam” as médias dos exames».

Assim, quando se ordenam as escolas públicas a partir da ponderação que resulta do reconhecimento dos contextos («ranking de superação»), a desarrumação da seriação ditada pela mera consideração das classificações dos exames («ranking dos exames»), é, digamos, brutal. De facto, como mostra o gráfico lá em cima, apenas 1% das escolas (5 em 455) mantém o seu número de ordem (situando-se em 7% as escolas que mantém a sua posição e sobem ou descem o seu número de ordem até 3 posições). Já as escolas que alteram a sua posição no ranking de exames em mais de 25 lugares (descendo ou subindo) representam cerca de 60% do total.

Quem acha que os contextos são irrelevantes para calibrar as médias dos exames - e interpretar adequadamente os pobres rankings a que temos acesso (onde um exercício como o do Público não é sequer possível para o universo das escolas privadas), talvez devesse prestar alguma atenção a estes dados.

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