segunda-feira, 11 de julho de 2022

Os rankings são também um problema de mau jornalismo

Ano após ano - e são já mais de 20 anos de rankings de escolas - as parangonas prediletas da comunicação social (com raras exceções) ainda continuam focadas nas diferenças, em registo de competição, entre o público e o privado. Alguns exemplos: «Privados continuam a dominar o topo. Melhor pública em 33º lugar» (Jornal de Notícias); «Escolas públicas de Lisboa e Porto fora do top 50» (Público); «Fosso entre escolas públicas e colégios é menor» (RTP); «As 32 melhores secundárias são privadas» (Diário de Notícias); «Notas descem mas públicas aproximam-se da média no privado» (TSF); «No top 50 há duas escolas públicas» (Observador).

Ano após ano também - e de forma visivelmente concertada (não há um só caso, que pudesse ser apontado como exceção) - os colégios e escolas do ensino privado continuam a não fornecer qualquer informação sobre o perfil socioeconómico dos seus alunos (ver imagem, adaptada da lista de ordenação feita pelo Público), impedindo assim qualquer comparação séria dos resultados obtidos. É como se, numa prova de ciclismo, e ao registar os que vão chegando à meta, fosse irrelevante - para um jornalista - que uns tenham feito a prova num veículo motorizado e outros de bicicleta, dando como válida e fidedigna - em termos de mérito - a ordem de chegada.


Não é verdade, aliás - ao contrário do que refere o Público (caixa verde, na imagem) - que seja o Ministério da Educação a não fornecer os «dados de contexto socioeconómico (...) para as privadas». São as próprias escolas privadas que decidem, por razões óbvias (desde logo a inconveniência de tornar visíveis, e mensuráveis, as práticas de seleção dos melhores alunos), não partilhar esses dados com o ministério, que fica assim impedido de os disponibilizar à comunicação social (juntamente com a informação de contexto dos estabelecimentos de ensino da rede pública).

Tem por isso razão Rodrigo Queiroz e Melo, da Associação de Estabelecimentos de Ensino Particular, quando diz que «não há conhecimento sem informação» e que «em Portugal temos muito pouca informação relevante sobre o que se passa no sistema educativo». Só é pena, de facto, que a sua própria associação contribua de forma reiterada para essa desinformação, optando por não divulgar dados sobre o perfil socioeconómico dos alunos que frequentam as escolas privadas. E que, nestas circunstâncias, jornais, rádios e televisões continuem a não se recusar a publicar resultados destas escolas enquanto as mesmas não forneçam esta informação. Tanto mais quanto, já de si, os rankings estão muito longe de conseguir traduzir o trabalho desenvolvido por cada escola, como lembra, e muito bem, o ministro da Educação João Costa.

2 comentários:

Jose disse...

Os melhores professores para os melhores alunos é o que mais satisfaz uns e outros e maior benefício traz ao país.
Mas é sempre esta ânsia de justificar a mediocridade e de que os medíocres não se sintam demasiado longe da excelência.

Miguel Araújo disse...

Considera, portanto, que no privado estão os melhores professores. Suponho que seja um deles. No entanto, queria ver se os colégios das melhores notas se aguentavam com os alunos que recusam ou que "convidam a sair" quando as notas não são boas.