terça-feira, 8 de maio de 2007

Bolonha: de cidade «vermelha» a símbolo do mercado sem fim

As universidades portuguesas têm estado em convulsão graças ao famoso «Processo de Bolonha». Aparentemente, este acordo europeu seria um passo positivo na harmonização dos diplomas do ensino superior - 3 anos (licenciatura) + 2 anos (mestrado) + 3 anos (doutoramento) -, promovendo a mobilidade dos estudantes europeus. Mais, este processo implicaria uma modernização pedagógica e curricular na esclerosada Universidade portuguesa.

Contudo, cedo se percebeu qual a agenda que comanda este processo: a criação de um mercado do ensino superior no espaço europeu, onde os cursos são «produtos» e os estudantes «clientes». A harmonização dos diplomas serve pois à homogenização de «produtos» de ensino superior, agora comparáveis, onde o critério da rentabilidade domina. Paralelamente, o Estado «poupa» com o novo sistema: as licenciaturas, sobretudo financiadas através do orçamento, vêem a sua duração reduzida e nos, agora obrigatórios, mestrados o mercado funciona livremente. Resultado, as propinas para o segundo ciclo chegam a valores escandalosos (13.750 euros por um MBA) para um sistema público que se quer o mais universal possível.



Tudo isto a propósito do editorial da The Economist (não está em linha) desta semana, onde estas «teorias de conspiração» esquerdistas sobre os objectivos mercantis de Bolonha são claramente assumidas e defendidas. Nada que surpreenda aliás, dada a orientação ultra-liberal da revista em causa. No entanto, resta como nota de esperança a resistência que este processo tem sofrido em diversos países, da Suécia à Grécia, onde recentemente o projecto de legalização de universidades privadas foi derrotado pela contestação estudantil. A História não tem nenhum sentido pré-determinado...

Sobre o assunto vale a pena ler isto e isto de alguém que está por dentro do sistema (Miguel Vale de Almeida) e, embora com contributos desiguais, isto (via GAE).

2 comentários:

Gustavo disse...

E a bela Bolonha vai ter que carregar no nome este fardo…
Nuno, as vezes gosto de lembrar o que já se fez por lá (estava no título do seu post)… Como este blog não é só sobre economia, deixo a dica de um filme que gostei muito e que pode nos dar outro simbolismo para “BOLONHA”…
http://www.lavorareconlentezza.wumingfoundation.com/

João Melo disse...

não é verdade que o sistema universitário se queira o mais universal possivel.o mal do ensino portugues já vem de muito de trás .