segunda-feira, 21 de maio de 2007

Sociólogos de combate: hoje no ISEG

Um dos mitos que o paradigma dominante na ciência económica insiste em alimentar é o de que as actividades económicas têm lugar em 'mercados' onde agentes mais ou menos anónimos coordenam as suas acções através do sistema de preços. Neste mundo matemático e plano (para roubar uma expressão a Herman Hess no seu «O jogo das contas de vidro», que não tendo nada a ver com economia tem tudo a ver como o que é hoje a ciência económica), não existe história nem instituições, não existe poder nem relações sociais, os agentes tomam as regras do jogo como dadas e agem segundo essas regras na maximização do seu interesse individual. Este mundo abstracto presta-se com facilidade à formalização matemática, o que dá uma ilusão de rigor que faz os economistas sentirem-se como verdadeiros súbditos de uma suposta rainha das ciências sociais.

Desde há muito que há quem insista em não confundir rigor analítico com simplificação insustentável da realidade. Neil Fligstein é um dos nomes de referência da sociologia económica contemporânea, de onde têm vindo importantes contributos nesse sentido. Nos seus trabalhos, este professor de Berkeley parte da permissa de que, sendo o funcionamento das economias caracterizado pela incerteza, o objectivo de quem conduz as empresas é o de, antes de mais, procurar controlar essa incerteza. Nesse sentido, cada empresa (ou quem as dirige) estabelece padrões de relações com vários dos actores económicos que a rodeiam - clientes, fornecedores, concorrentes, poderes públicos, entre outros - num processo negocial e eminentemente político, o qual molda os termos em que as transacções económicas têm lugar (incluindo a influência das dinâmicas de oferta e de procura sobre as decisões económicas relevantes) e que, como a generalidades das instituições, tende a persistir no tempo não obstante a sua potencial ineficiência em cada momento.

O que nos surge é já não um mundo matemático e plano, mas a noção de 'mercado' enquanto campo de relações sociais complexas, cuja evolução e resultados dependem (pelo menos) tanto das redes sociais, das regras que se foram construindo ao longo do tempo e do poder relativo dos vários agentes para transformar essas regras e utilizá-las a seu favor, quanto das dinâmicas de 'oferta' e de 'procura' reificadas nos manuais de economia.

Neil Fligstein dará hoje um seminário no ISEG, às 18h00, sobre a «Sociologia dos Mercados».