domingo, 27 de maio de 2007

O drama de Carvalho da Silva

A SIC Notícias acabou de emitir uma entrevista com Carvalho da Silva. O líder da CGTP esforçou-se por explicitar os motivos que justificam esta greve: perda do poder de compra dos trabalhadores, aumento do desemprego, redução do valor futuro das pensões, desmantelamento do Serviço Nacional de Saúde e um ataque sem precedentes, em todos os domínios, aos funcionários públicos. São motivos válidos e mais do que suficientes para se convocar uma greve. Mas que não chegam para fazer dela um sucesso. Faltam as tais condições subjectivas, tão caras aos marxistas. Falta uma bandeira (como foi o código de trabalho em 2002), falta mobilização e falta a convicção no instrumento político da greve. No sector privado, a greve será marginal, ainda mais do que o habitual dados os vergonhosos serviços mínimos fixados nos transportes. No sector público, os trabalhadores estão cansados das inúmeras greves «que não servem para nada» e sem cheta (têm as progressões na carreira congeladas há quase dois anos e parece que assim vai continuar). Carvalho da Silva sabe isso perfeitamente.

Claro que a greve geral trará alguns frutos. Servirá para agitar a semana, garantindo algum algum tempo de antena nos meios de comunicação social e abrindo espaço à discussão das políticas do Governo e à denúncia dos ataques aos interesses dos trabalhadores. Mas, no final da semana,virá a ressaca e a percepção de que a jornada de luta fracassou. José Sócrates saberá capitalizar a fraca adesão, confundindo-a com um apoio tácito dos trabalhadores ao seu projecto governativo. E a maior e mais combativa central sindical do País sairá enfraquecida. E pior de tudo, Carvalho da Silva e a linha heterodoxa que o suporta será responsabilizada pelo fracasso por aqueles que o forçaram a avançar para este protesto. Carvalho da Silva também sabe isso mas dirige-se de peito aberto para mais uma batalha na sua vida. Não a da greve geral, mas a que se está a travar em surdina dentro da CGTP, e da qual vai sair vencido. Mas vai à luta porque ele é um daqueles «imprescindíveis» (que lutam toda a vida) de que falava Bertolt Brecht. Nessa luta, pela liberdade viva da CGTP, pode contar comigo!

3 comentários:

Pata Negra disse...

A greve, por enquanto, continua a ser a arma dos que não tem armas!
Talvez nos falte imaginação para novas formas de luta mais enquadradas nos novos tempos que vivemos!
Mas por favor, não me atirem ao lado com o verbo fácil, não me digam: a culpa é dos sindicatos!

A. Cabral disse...

Entao a greve sera um fracasso porque os numeros serao baixos? Porque choveu e ninguem foi para a rua?

E o contra-factual de nao ter greve, de nao ter objecto de luta e de campanha, que fazer nesse vazio? Ainda que a greve "nao resulte" resulta certamente a agitacao que a antecedeu...

marimarieke disse...

então, a. cabral, convoque-se já uma greve para o próximo mês e outra no seguinte, para termos agitação permanente...

a greve não é a única forma de luta. se calhar, valia a pena começar a puxar pela cabeça... não tenho ideias, mas tenho vontade de as ter...