Sei bem que Thomas Carlyle não é das melhores companhias, mas como crítico romântico da economia política vitoriana, da “ciência esquálida” (“dismal science”) e da sua “filosofia de porcos” (utilitarismo), expressões por si forjadas, a sua pena afiada é útil: “ensinem um papagaio a dizer oferta e procura e têm um economista”. Parece que foi escrito hoje para descrever um economista liberal até dizer chega.
Se a história económica ensina alguma coisa é que não há leis da oferta e da procura, quanto muito há tendências e contratendências histórica e geograficamente circunscritas.
Um exemplo, sob a forma de questão, basta: como explicar as dinâmicas de pânico e euforia nas fases históricas de finança liberalizada e propensa a bolhas especulativas, sem contar com os efeitos, contrários aos esperados pelas “leis”, na procura de ativos financeiros?
De facto, em certas circunstâncias, o aumento de preços valida as expetativas especulativas alimentadas a crédito, aumentando ainda mais a procura e levando à formação de bolhas que acabam por explodir mais tarde ou mais cedo.
Se quereis evitar crises financeiras, a tendência de política económica é clara: controlo de capitais e outras formas de regulação contrárias aos interesses da finança dita privada.
Entretanto, o mais tarde ou mais cedo é crucial, o tempo é crucial. A história é incerteza e os papagaios não sabem lidar com este facto: em contexto de incerteza, um somatório de decisões individualmente racionais, pode gerar uma situação globalmente irracional, mediada pelos preços de mercado e tudo.
Marx, Veblen ou Keynes souberam, e os seus discípulos também sabem, lidar com estes factos brutos. Haja história económica e das ideias económicas, haja crítica económica e economia crítica.
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