Abrir ao capital privado novos mercados praticamente protegidos da concorrência foi uma das linhas de orientação do Novo Trabalhismo de Blair e Brown. A degradação do serviço de caminhos de ferro que se seguiu é hoje um facto incontroverso.
O último episódio da saga privatizadora do Novo Trabalhismo é o serviço dos correios (Royal Mail). A privatização tem sido adiada porque, depois de muitas tropelias na liberalização de alguns serviços postais que dão lucro, encontrou uma forte oposição da opinião pública. Avaliando a fase de 'abertura do mercado', o relatório Hooper afirmava "não ter havido benefícios significativos da liberalização para as pequenas e médias empresas e para as famílias. Estes acreditam que o serviço da Royal Mail oferece uma boa relação qualidade-preço tal como está."
Contudo, a percepção do público é muito mais desfavorável que a linguagem cautelosa do relatório oficial. Em artigo no Guardian, Seumas Milne escrevia: "Longe de "funcionar" ou prestar o serviço, a abertura de alguns segmentos às empresas privadas está a destruir uma rede pública que está no coração dos negócios e da vida social da Grã-Bretanha."
Este último aspecto é central para compreendermos por que razão os socialistas nunca privatizariam os correios. Recordo aqui um livro de Jean Gadrey (Nova Economia Novo Mito, Instituto Piaget) onde se lê o seguinte sobre o serviço prestado pelos correios (p. 149):
"Em geral, esta organização é um serviço de proximidade que, em particular no quadro das suas estações e dos seus balcões, recebe "o público", todos os públicos. A qualidade deste acolhimento é diversa e por vezes problemática em termos de expectativas, mas algo de importante se desenrola ali, que de novo tem a ver com os laços sociais: os agentes no balcão consagram uma parte considerável do seu tempo a ajudar pessoas com dificuldades ou "deficiências diversas" (analfabetismo ou dificuldades de compreensão dos procedimentos, pobreza, isolamento...), ligadas a formas de exclusão identificáveis. (...) A organização tolera por enquanto estes comportamentos não rentáveis ... também porque o monopólio que ela detém sobre uma parte das suas actividades ainda lhe permite libertar os recursos necessários. Mas já surgem pressões para os reduzir. (...) Assim, esta empresa [pública] contribui para produzir integração social, que consideramos um bem colectivo a dois níveis, territorial por um lado, social por outro, a fim de manter a ligação da população às redes constitutivas da pertença a uma sociedade desenvolvida que são o correio, o vale do correio, a conta postal ou a caderneta A [serviços financeiros básicos em França]."
Se a coesão social está no âmago do pensamento socialista, então só posso esperar que os socialistas deste País não deixem passar à prática a anunciada intenção do Governo de privatizar os correios de Portugal. Há certamente outras fontes de receita. Apenas é preciso ver com atenção o que se passa com os rendimentos do capital e com os negócios da urbanização de terrenos.
Os socialistas têm de levantar-se e dizer "BASTA, os Correios de Portugal são nossos"!
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14 comentários:
Muito acertado, o alerta.
Não é mesmo! Isto até me envergonha como membro do PS, embora não tenha nunca votado (digo-o publicamente!) na direcção actual e recem-passada do partido. Uma medida dessas é de total insensibilidade para com necessidades que fazem o quotidiano da chamada "província", é de total insensibilidade para com a coesão territorial/nacional. Se a desculpa "manhosa" é de alguma directiva europeia que "liberaliza" tais serviços, pois que se combata e se elimine nas instãncias europeias.
Cláudio Teixeira Almada, 11/3/10
Caro Jorge Bateira,
estou na luta contra a privatização dos correios.
O Pedro Viana publicou no Vias de Facto um texto que vai no mesmo sentido e sugere formas de acção que me parecem, na generalidade, razoáveis. Ver o seu "Basta!" em http://viasfacto.blogspot.com/2010/03/basta.html
Só um reparo sem prejuízo da unidade na acção e da discussão posterior ao ritmo desta: os socialistas não defendem apenas a coesão social, isso também o Papa faz e qualquer corporativista da "democracia orgânica". Os socialistas defendem a igualdade.
E outro ainda, dado que o ataque é a melhor defesa, e só se consegue o mínimo avançando na direcção do máximo: sermos "contra a privatização" aqui significa que defendemos o serviço público e o seu desenvolvimento através do controle dos cidadãos, mais do que a simples propriedade do Estado.
Mas vamos falando pelo caminho.
Saudações republicanas
miguel serras pereira
Mais um crime dos politicos Portugueses.
A existência de um serviço publico de correios comporta consideraveis externalidades positivas que assim se vão perder. E tudo com o objectivo de arrecadar uns poucos milhões que não vão resolver nada.
A favor da SOBERANIA económica PÚBLICA
Porque não há-de o Estado ter um grupo empresarial forte e lucrativo (para depois repartir pelos cidadãos)?
Só Estados fortes podem controlar e impor regras e supervisão, Justiça e Segurança, que permitam boas condições socio-económicas para a sua sociedade.
E tal estado forte não tem de ser sinónimo de ditadura (de esquerda ou de direita).
Podemos encontrar Estados fortes economicamente e socialmente redistributivos em diversos países... da Noruega (controla o petróleo) a Singapura (sem recursos 'naturais'), com empresas estatais estratégicas ou com ''FUNDOS SOBERANOS'' que investem bem e com altos rendimentos.
Se as empresas (e os empresários e especuladores) cada vez mais deixam de ser Nacionais (as empresas de sucesso são cada vez mais multinacionais e anónimas, com sede em paraísos fiscais) e fogem aos controlos (fiscal e com responsabilidade) do/s Estado/s nesta economia capitalista, global e livre...
porque é que a RES PÚBLICA é criiticada de 'intervencionismo económico' e não pode/deve ser um agente económico de primeiro plano?! usando as mesmas regras capitalistas... e cumprindo todos os requisitos legais.
Não será que os nossos ''empresários de meia tigela'' advogam a livre concorrência mas só para eles, em mercados condicionados e espartilhados por carteis e oligopólios ?!!
para continuarem a explorar triplamente os cidadãos como consumidores, como contribuintes e como descartáveis micro-accionistas ?!!
Por outro lado, a detenção pelo Estado (central, periférico, autarquias) de empresas/serviços económicos pode ser justificado pela relevância do factor social e solidário, apoio ao desenvolvimento ou sector estratégico de segurança.
Nestes casos até é admissível a existência de ''prejuízos'' (pois existe ''lucro social''), o que não é admissível é a existência de má gestão, luxos e despesismo, de compadrios, de nepotismo, de 'desvios', de falta de transparência na aplicação de bens públicos e de falta de responsabilização civil e criminal.
E porque será que as empresas COOPERATIVAS (e caixas económicas, mutualistas, santas casas, ...) não são incentivadas e/ou têm vindo a ser 'capturadas' pelo poder económico-político (que influencia e manipula candidaturas) e pelos novos (tu)barões empresários ?!! que as descapitalizam ou saqueiam.
Os sectores Estatal e Cooperativo podem e devem ser economicamente importantes, viáveis e bem geridas, desempenhando um papel importante para dinamizar a economia, para desenvolver o país e os laços de solidariedade dos seus cidadãos.
-por Zé T., em 11.03.2010 - Luminária.blogs.sapo.pt / Estabilidade e crescimento à custa de quem?
Este governo nunca foi socialista. Nem sequer andou lá perto.
Não é por defender algumas bandeiras da esquerda na área dos costumes que limpam a face.
Naquilo que interessa (economia) foram sempre neocons.
"Os socialistas têm de levantar-se e dizer "BASTA, os Correios de Portugal são nossos"!
E o resto, caro Jorge Bateira? E o resto, da longa lista que consta no PEC?
ai , mas quanto tempo é que acham que vai haver cartas a cicular , seus " velhotes" ? encomendas , ainda vá. Agora , papel ? email ? daaaaaaaaa.
numa geração os ctt estão absoletos. já quase toda a comunicação é feita por mail e chat. mesmo coisas " institucionais " como contas e extractos.
há anos que não mando , nem recebo , uma carta em papel. Salvem a floresta!!!
Caro Miguel Serras Pereira, fartei-me de rir com essa de que o Pedro Viana faz sugestões de vias de acção na generalidade razoáveis. Não costumo fazer publicidades destas, mas sugiro este meu comentário: http://maquinaespeculativa.blogspot.com/2010/03/se-queres-ser-amigo-deles-parte-lhes-os.html
Não percebi nada do que o Miguel disse. defende isto e o seu contrário ? confuso aquilo da igualdade. até parece que sabe que nunca seremos iguais e que pregar semelhante coisa é demagogia , mas depois até parece que igual é bom ( quando não é , é chato : biodiversidade ? allo , Terra? ). homens...
Haverá pelo menos aqui alguém que perceba que Correios/Papel é animal em vias de extinção natural numa década . Há , não há?
Caro Porfírio,
é possível que o Pedro Viana tenha formulado menos claramente a sua atitude perante o PS, que está longe, tanto quanto creio, de ser a que lhe atribuis. A posição frente a este governo já é outra questão. A verdade é que a viabilidade de um movimento em defesa dos serviços públicos ameaçados passa pela possibilidade de ser assumido por socialistas como tu, e tanto o Pedro como eu o sabemos bem.
Convido-te assim a que leias o segundo post do PV sobre o assunto, que torna as coisas um pouco mais claras, até pelos links que sugere. (ver https://www.blogger.com/comment.g?blogID=2525053614363345408&postID=5143432962415884284 ).
Eu próprio, num comentário ao post, escrevi, entre outras coisas:
"embora, evidentemente, os partidos não sejam de excluir da acção que propões, ela deve dirigir-se sobretudo aos cidadãos, com ou sem partido, eleitores habituais deste ou daquele, etc. De resto, sei que estamos de acordo.
Mas, se falamos em partidos, o principal a esse respeito, parece-me, seria para já tentarmos despertar para a acção contra o PEC, via "cidadania activa", os que nas fileiras do PS e na sua área de influência não puseram de parte a ideia de que a liberdade e a igualdade se implicam mutuamente, de que não há liberdade política sem igual poder para todos e de que a organização e funcionamento da esfera económica são um terreno político decisivo".
Desculpa o tempo que te tomo, mas é que penso que não estamos muito longe - o Pedro, tu e eu, entre muitos outros - no juízo que fazemos acerca da eventual privatização dos CTT e outras coisas.
E já agora, gostaria de perceber melhor o que tens a objectar - se é que tens - a uma mobilização de cidadãos que apresente as suas reivindicações nesta matéria. Se falarmos, creio que acabaremos por nos entender, tornando mais claras as posições de cada um para si próprio e para os outros todos.
Até breve, espero - e um abraço
miguel serras pereira
Abaixo os Correios.!!!
Abaixo os selos.!!!
Vivam as arvores.!!!
Já agora os gajos do PS tb podiam privatizar a mãezinha que, coitada, deitou ao mundo semelhantes espécies rastejantes.
oh pá , actualizem-se. quantas cartas mandam por mês ? nenhuma? bem me parecia.
quantas recebem ? umas tantas para as quais ainda não disponabilizaram email com medo que vos comam ? bem me parecia.
velhotes do restelo...só pode.
por vocês ainda íamos a Angola de navio.
e chat , credo , cousa do demónio.
Apesar de muitos não enviarem nem receberem cartas os Correios de Portugal dão milhões de lucro todos os anos (60 milhões em 2008 e 55 milhões em 2009) e no final de este ano a previsão será de 55 milhões de euros que serão entregues ao governo de mão beijada.Como podem ver não é só de cartas que vivem os CORREIOS de PORTUGAL mas também.Com a privatização como irão ficar aquelas pessoas que vivem no interior do país e que são analfabetas que não sabem lêr escrever,que não têm computador?
Também não importa nada,como não importa aquelas pessoas que vivem no interior do país mas que com a privatização dos CORREIOS de Portugal as regiões onde habitam deixam de ser lucrativas também não importam para nada, que comprem computadores (se não houver dinheiro para comer que haja para computadores).
Que tal começarem a escrever mais nem que seja por " desporto" experimentem WWW.postcrossing.com
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