quinta-feira, 25 de março de 2010

Ensino superior: elitização, financeirização


São "apenas" notícias da elitização e da financeirização do ensino superior, vulgo Universidade S.A.: "Os pedidos de empréstimo dispararam 600%, mas representam apenas 2% dos estudantes" (11 000 estudantes, diz a notícia do Diário Económico online de 23 de Março de 2010).

São "apenas" 2%, somos informados, porque há pouca divulgação, porque a "grande população" ainda não sabe da possibilidade de recurso a esta linha de crédito. Ainda só recorre quem já está mais desesperado, será isso? Como também diz a notícia, cerca de um terço destes 2% de estudantes são os mesmos que já tinham sido obrigados a recorrer às bolsas do insuficiente apoio social (lembram-se de que era para "garantir" um bom apoio social e a qualidade do ensino que se argumentava a favor do aumento das propinas?...).

Daqui em diante, o debate mediático tenderá a centrar-se em quais deverão ser os níveis aconselháveis de endividamento estudantil (2% é "inexpressivo"...), surgirão as comparações internacionais, os puxões de orelhas da praxe. Mas para quem defende o ensino superior como um direito para todos e a formação universitária como vector de desenvolvimento e de justiça social, mais parece que, contra toda a evidência entretanto disponível, se insiste no indefensável: "até aqui, tudo bem"...

5 comentários:

Anónimo disse...

suponho que leram o Boudon (aquele do individualismo metodológico e dos efeitos perversos da acção colectiva soma das acções individuais , né?) pois ,toda a gente com ensino superior é igual a quê ? a nada que preste , em termos de sociedade " mercantil" de escolaridade igual a bom emprego , que parece ser a vertente que apenas valorizam.

( e agora , politicamente incorrecto: mas vocês acham mesmo que há estado social que aguente com ritmos de reprodução tão diferentes? : pobres que nem coelhos , remediados/ semi rico como animal( há-de haver algum , agora não me lembro ) que só tem um filho na vida. vejam se compreendem que um não pode sustentar na boa 4 ou 5...)

Rui Filipe disse...

Quem anda actualmente na universidade, e recebe uma bolsa de acção social, sabe, que as bolsas são justas.

Quem se dá a mordomias paga-as do seu bolso, ou endivida-se. Simples.

Porque, não tenhamos ilusões, esses meus colegas que reclamam aumentos das bolsas não as querem para comprar livros.

João Aleluia disse...

As bolsas são justas?

Bolsas que no mestrado de bolonha, que mais não é do que os antigos 4 e 5 ano das licenciaturas, pagam apenas 1/4 das propinas? Justo só para quem tem dinheiro.

Justo quando se paga + de € 7000 para ter formaçoes "publicas" que nem sequer tem valor lá fora?

A desigualdade de oportunidades é o maior crime dos governantes deste país. Enquanto não se resolver este problema nunca as desigualdades sociais pararam de aumentar e a produtividade de diminuir.

Rui Filipe disse...

As bolsas mínimas das licenciaturas pagam no mínimo a totalidade das propinas.

Quanto aos mestrados, a maior parte das universidades cobra a mesma propina que na licenciatura. 2 ou 3 excepções.

Se uma formação é cara e se não tem valor para o senhor talvez seja melhor não a tirar.

João Aleluia disse...

As 2 ou 3 excepções, que até são mais do que isso, são "apenas" as poucas universidades do país, que apesar de pessimas, ainda têm algum valor junto dos empregadores nacionais.

Quando disse que não têm valor, eu disse não têm valor lá fora, no estrangeiro. Como é que se quer que este país compita com estrangeiro quando as nossas universidades não tem credibilidade nenhuma, e custam (ao nivel do segundo ciclo) 3 vezes mais do que uma formação em inglaterra ou na suiça?

E mesmo estas universidades menos más, que apesar de serem publicas custam fortunas, são pessimas do ponto de vista da qualidade dos cursos. Qualquer pessoa que tenha estudado em Portugal e que tenha formação a sério em qualquer area sabe que ensino superior em Portugal é absolutamente mediocre.

Esta situação é gravissima por duas razões, primeiro porque estamos a gerar gerações de inuteis que nunca poderão aspirar a mais do que viver dos subsidios do estado. E em segundo lugar porque dado a extrema desigualdade de oportunidades que existe, uma vez que apenas que tem dinheiro tem acesso a algum ensino (e mesmo esse mau), as desigualdades sociais iram acentuar-se de tal forma, que os conflitos sociais serão inevitaveis.

A maior parte das pessoas não tem qualificações nenhumas, portanto não se apercebe do descalabro da situação. Hoje em dia em Portugal ao nível pré-universitario apenas quem pode pagar uma boa escola privada (e muita vezes poder pagar não chega, é preciso ter cunha) é que tem acesso à educação. E ao nível universitario, nem sequer existem universidades de qualidade no país, só quem tem possibilidades de ir para o estrangeiro é que consegue ter acesso a uma formação universitaria a serio.