quarta-feira, 3 de março de 2010

Reler (criticamente) o mestre

No blogue 4R há economistas escandalizados com a entrevista do José Reis aqui recomendada.

Não é caso para menos. Depois da síntese neoclássica feita por Samuelson e outros, consagrada no pós-Guerra como “a Ciência Económica”, e da incorporação de novas teorias de matriz ‘pré-Keynes’ a partir dos anos 70 (expectativas racionais, análise microeconómica intertemporal à Barro-Ricardo), estes economistas não têm a menor ideia do que defenderia Keynes numa crise da procura com aspectos semelhantes (a um dado nível de abstracção) à dos anos 30 do século passado.

Mas estão a tempo de fazerem uma reciclagem começando por comprar o mais recente livro do grande especialista em Keynes, Robert Skidelsky (figura).

Paul Krugman oferece-lhes uma introdução gratuita aqui. Com isto não estou a dizer que Keynes deu a receita 'pronta a aplicar' nas políticas de que hoje precisamos. Contudo, para enfrentarmos os desafios dos nossos dias, é importante resgatar Keynes dos neoclássicos.

Esta crise é também a crise da Economia que se construiu sobre modelos onde uma idealizada economia 'tende para o equilíbrio'.

13 comentários:

André Carapinha disse...

Olá. Peço desculpa pela intromissão, mas é apenas para anunciar que o blogue 2+2=5 regressou após cerca de 1 ano de hibernação.

Obrigado e cumprimentos

João Aleluia disse...

Este José Reis é, como diz Medina Carreira, um duplo i (ignorante e irresponsável). Isto se não também duplo c (corrupto e criminoso). E com aquela conversa repugnante das virtudes dos grandes investimentos públicos, provavelmente é também do partido xuxialista (não confundir com o PS, esses são só uma parte dos militantes).

O que o país precisa é de um sistema de educação gratuito e com qualidade que produza Portugueses qualificados e competitivos. Não é de grandes obras públicas com NPV negativo que apenas vão endividar os nossos filhos e netos e que em nada contribuem para o desenvolvimento.

O que o país precisa é de um sistema fiscal que tribute todos e não apenas os trabalhadores dependentes.

O que o país precisa é um sistema de justiça que faça justiça e que mereça a confiança dos agentes economicos.

O país não precisa nem de metade dos funcionários publicos que tem, se bem que os que tem devem ser pessoas qualificadas e bem remuneradas.

O país não precisa de uma infinidade de autarquias e mais dois governos regionais que são autenticos gangs de ladrões.

O país não precisa dos partidos que tem, cheios de xuxialistas.

O país não precisa de José Reis, o país precisa de Enrique Medina Carreira.

José M. Castro Caldas disse...

João sem Nome: Confusão misturada com calúnia; a facadinha malandra e o pontapé na canela no lugar do argumento, ou como a overdose televisiva de Medinacarreirismo pode produzir lesões cerebrais incuráveis.

João Aleluia disse...

Confusão? Onde está a confusão?

Não percebo qual é a confusão!

E ainda que compreenda que a fraquissíma qualidade do ensino em Portugal é um problema que já tem barbas não percebo como é que alguém que tenha uma vaga noçao de economia, por mais vaga que seja, pode defender as atrocidades que esse ii, digo José Reis, defende.

José Luiz Sarmento disse...

João:

Quem não tem a mais vaga noção de economia é, desculpe-me, você. Julga que tem: mas isso é porque foi sujeito a doses industriais de propaganda duma ideologia a que os medinacarreiras chamam, desonesta e abusivamente, "Economia". E os tavaresmoreiras, e os silvalopes, e os danieisbessas, os joõescésaresdasneves e toda essa caterva que passa por importante e sabedora só porque aparece muitas vezes na televisão.

Toda a gente tem direito à sua opinião, mas as opiniões não valem todas o mesmo. Pode ser que as suas opiniões sobre outros assuntos tenham muito valor, mas a sua opinião sobre José Reis vale exactamente zero.

O homem verdadeiramente sábio é aquele que sabe que sabe o que sabe e sabe que não sabe o que não sabe. Tente adquirir um pouco de sabedoria, pra seu próprio benefício e para bem da paciência dos outros.

João Aleluia disse...

A minha opinião ecónomica não nasceu com Medina Carreira. Medina Carreira apenas tem a coragem de dizer na televisão aquilo que sempre defendi.

Não percebo como é que alguém que tenha uma vaga noção de economia pode defender grandes obras públicas que o país obviamente não precisa ou que pelo menos não são prioritárias.

Para mais, defender uma expansão orçamental insana que vai paga pelas gerações futuras e pelos trabalhadores dependentes, que é que suporta a maior parte da carga fiscal deste país.

Ao mesmo tempo que se negligência a educação, que é hoje em dia o principal factor de competitividade das economias.

Ao mesmo tempo que se ignora um sistema juridico-buracratico kafkiano que dissuade do investimento qualquer investidor nacional ou estrangeiro.

Ao mesmo tempo que se ignora que o monstro estado engole mais de metade da economia nacional, e em percentagem crescente.

Enfim, abram os olhos, o estado central Português vai receber menos de 30 biliões de receita este ano e autorização de endividamento do OE 2010 é cerca de 25 biliões, ou seja, só estado central, semcontar com os ladrões das autarquias, governos regionais, empresas publicas, parcerias, etc..., vai gastar o dobro daquilo que recebe.

Como se isto não chegasse, a divida pública ultrapassa já 100% do PIB. Isto é a divida pública que conhecemos.

Para mais, partindo do principio que queremos continuar no euro, os nossos custos com o serviço da divida vão disparar, uma vez que os alemães não vão suportar inflação de 2 digitos por causa dos PIIGS.

Vocês, economistas do Keynesianismo, esse génio que disse que quando se gasta muito dinheiro vive-se bem, vivem do status quo, dos vossos tenures conseguidos a pala de carreiras puramente académicas sem pinta de experiência da vida, e dos vossos taxos em empresas que dependem diracta ou ndirectamente do estado e que se tivessem que concorrer num mercado verdadeiramente livre justo desintegravam-se do dia para noite.

JOSÉ LUIZ FERREIRA disse...

Para dizer na televisão o que diz Medina Carreira não é precisa coragem nenhuma: basta descaramento, atrevimento e oportunismo. E, desde 2008, cegueira e obstinação. Defender a ortodoxia vigente nunca foi sinal de coragem, defender a "heresia" é que sim.

Obras de que o país obviamente não precisa? Obviamente porquê? Pelas mesmas razões por que não precisava dos comboios a vapor no tempo de D. Pedro V?

A conversa das gerações futuras também já não pega, por muito que os medinacarreiras ainda recorram a ela. Não é novidade nenhuma nem tragédia nenhuma que cada geração deixa um passivo às gerações seguintes: o que é preciso é que também lhes deixe um activo suficiente para o cobrir. Claro que há sempre o risco de o activo que estamos a construir não ser suficiente para cobrir o passivo, mas é um risco inevitável: as gerações futuras nunca nos perdoariam se o não corrêssemos.

É verdade que se negligencia a educação; mas a causa desta negligência está precisamente nas receitas económicas dos medinascarreiras.

O sistema juridico-burocrático kafkiano foi construído para benefício do mesmo poder político e económico que paga os medinascarreiras. ou pensa você que foi construído para o bem comum? Ou que nasceu por geração espontânea? A burocracia é uma arma do poder contra os cidadãos: está do mesmo lado da barricada que os medinascarreiras, e não, como você parece pensar, do lado oposto.

Finalmente: as universidades (ainda) são as únicas entidades razoavelmente independentes do poder político e económico. Confio muito mais num académico que não morde a mão visível que o sustenta do que num propagandista mediático que não morde a mão invisível.

João Aleluia disse...

Ena, comparar as grandes obras que nos são propostas hoje com os comboios a vapor.

Será que já ouviu falar de utilidade marginal decrescente?

Num país onde não há vias de comunicação eficientes, como acontecia nos tempos que refere, a construção de infra-estruturas de transporte comporta uma enorme externalidade positiva que justifica esses grandes investimentos.

No entanto, o problema actual não é a falta de infra-estruturas de comunição, que na maior parte dos casos já existem. Para além disso Portugal produz muito poucos bens transacionáveis, e os que produz já tem canais de distribuição eficientes que em nada vão ser melhorados pela construção de um TGV, um novo aeroporto, ou uma nova ponte sobre o Tejo.

Não há nada de errado em melhorar as infra-estruturas, mas isso actualmente não é uma prioridade.

Quanto ás ideias de Medina Carreira suportarem o status quo, você claramente vive noutro Portugal. Eventualmente o Portugal côr de rosa?

Como é obvio, basta ligar a tv em qualquer telejornal para ouvir o governo, os politicos e os agentes economicos que beneficiam do poder instituido a defenderem o esbanjamento de recursos economicos como meio de desenvolvimento.

As opiniões como a de Medina Carreira, para além de quase não terem tempo de antena, são constantemente discartadas pelo poder instuido como catastrofistas.

E por último gostava de saber qual é a mão invisivel que alimenta Medina Carreira que já mais de 80 anos e não têm nada a provar a ninguém.

João Aleluia disse...

Ena, comparar as grandes obras que nos são propostas hoje com os comboios a vapor.

Será que já ouviu falar de utilidade marginal decrescente?

Num país onde não há vias de comunicação eficientes, como acontecia nos tempos que refere, a construção de infra-estruturas de transporte comporta uma enorme externalidade positiva que justifica esses grandes investimentos.

No entanto, o problema actual não é a falta de infra-estruturas de comunição, que na maior parte dos casos já existem. Para além disso Portugal produz muito poucos bens transacionáveis, e os que produz já tem canais de distribuição eficientes que em nada vão ser melhorados pela construção de um TGV, um novo aeroporto, ou uma nova ponte sobre o Tejo.

Não há nada de errado em melhorar as infra-estruturas, mas isso actualmente não é uma prioridade.

Quanto ás ideias de Medina Carreira suportarem o status quo, você claramente vive noutro Portugal. Eventualmente o Portugal côr de rosa?

Como é obvio, basta ligar a tv em qualquer telejornal para ouvir o governo, os politicos e os agentes economicos que beneficiam do poder instituido a defenderem o esbanjamento de recursos economicos como meio de desenvolvimento.

As opiniões como a de Medina Carreira, para além de quase não terem tempo de antena, são constantemente discartadas pelo poder instuido como catastrofistas.

E por último gostava de saber qual é a mão invisivel que alimenta Medina Carreira que já mais de 80 anos e não têm nada a provar a ninguém.

JOSÉ LUIZ FERREIRA disse...

João, nem você nem eu somos competentes para calcular a relação custos-benefícios do TGV, incluindo as externalidades negativas e positivas. Até pode ser que você tenha razão, e que, consideradas as externalidades, os benefícios acabem por não cobrir os custos.

O que eu questiono é aquele seu "obviamente". Feitos os cálculos todos, a sua afirmação até pode estar correcta; mas óbvia é que ela não é.

Posto isto, sou tão capaz como qualquer outra pessoa de mandar alguns bitaites, na certeza porém que não passam disso. Por exemplo:

Uma linha de TGV Porto-Lisboa trará mais benefícios se for prolongada até Vigo, ou melhor ainda, até à Corunha.

Uma rede de TGV trará mais benefícios se estiver articulada com uma rede ferroviária convencional mas eficiente que cubra todo o território nacional.

O TGV terá maiores benefícios se for pensado para funcionar em sinergia com um aeroporto de vocação intercontinental que possa concorrer com Barajas (o que até nem é particularmente difícil porque Barajas é abaixo de cão).

O TGV trará enormes benefícios se libertar as linhas actualmente existentes, que estão saturadas, para a circulação de mercadorias. Se for possível tirar das estradas uma parte considerável dos camiões que nelas circulam e pô-los em cima de vagões de caminhos de ferro, melhor ainda.

De auto-estradas não precisamos mais, já temos que chegue e até demais. Mas precisamos de ferrovia como de pão para a boca, e essa ferrovia terá que incluir alguns troços de alta velocidade para não estar obsoleta daqui a trinta anos.

Outra coisa: não é impossível que os países produtores de petróleo nos fechem um dia a torneira, ou o ponham a um preço proibitivo. Se e quando isto acontecer; se os aviões ficarem pousados e os automóveis nas garagens por causa do preço dos combustíveis, nessa altura dar-nos-á muito jeito dispor de uma rede de transporte movida a electricidade. E se for preciso podemos fazer centrais nucleares (já devíamos ter começado, de resto). Temos urânio mais que suficiente para isso no nosso território.

Mas tudo isto, como ressalvei acima, são meros bitaites, versando assuntos dos quais não posso falar com qualquer vestígio de autoridade. Alguns deles podem fazer sentido, mas de nenhum deles se pode dizer que é óbvio. Só seria óbvio depois das contas feitas, e as contas são diabolicamente difíceis de fazer - tão difíceis que haverá sempre variáveis que ninguém se lembrará de incluir nos cálculos, resultando daqui que qualquer opção que possamos tomar representará sempre um risco.

É chato, mas é a vida.

João Aleluia disse...

Quando digo que é obvio que não precisamos de um TGV, não estou a mandar um bitaite.

Não é preciso conhecer em detalhe o projecto do TGV para perceber que o valor actual liquido em termos de custos e receitas directas é muito negativo. O que para mais até é habitual neste tipo de projectos.

O que justifica ou não projectos deste genero são de facto as externalidades positivas. E quanto a isso este caso não resiste à mais básica análise economica.

Para começar consideremos o preço dos bilhetes de TGV que em França, para uma viagem Paris-Lyon, por exemplo variam entre 60 e 170 €. E só tenho ouvido dizer que o TGV português vai ser ainda mais caro.

Agora consideremos, mercado para isto? há? Com a concorrencia das companhias aerias low-cost? quando se voa para Madrid e mais longe muitas vezes por menos de 50 €, e de certeza por menos de 100, mesmo partindo de Lisboa.

Quanto ao transporte de mercadorias. Se o transporte ferroviario é assim tão cobiçado, porque é que a CP dá prejuizo todos os anos?

Para além disso, as empresas escoam os seus produtos através dos meios de transporte mais eficientes e baratos, para um pais tao pequeno como o nosso, e para as pequenas quantidades que as nossas empresas expedem, sai quase sempre mais barato expedir mercadorias de camiao do que expedir de comboio para andar uma pequena distancia e depois utilizar o camiao outra vez para o destino final.

O unico beneficio do TGV, do Lisboa-Madrid digo, porque os outros não fazem mesmo qualquer sentido, é ser uma obra de imagem, uma ligação de alta velocidade à europa. E isso não justifica, ainda mais na situação actual, os custos astronomicos que tem, e é isto que é absolutamente obvio e criminoso por parte dos nossos governantes.

Num país que cobra propinas de mais de €6.000 aos estudantes universitarios. Num país que tem cerca de 40% de pobres e cerca de 10% de pessoas abaixo do limiar da pobreza. Num país que já contraiu dividas que sem ajuda internacional não poderá pagar. A prioridade é endividarmo-nos ainda mais para construir uma obra de imagem? obviamente que não.

João Pedro Santos disse...

"estes economistas não têm a menor ideia do que defenderia Keynes numa crise da procura com aspectos semelhantes (a um dado nível de abstracção) à dos anos 30 do século passado"

Um dos problemas do debate em Portugal é precisamente este. A confusão entre a situação global (relativamente à qual mesmo assim haveria muito mais a dizer mas que pode em boa parte ser considerada - e tratada - como uma crise de procura) e a situação portuguesa que (embora tenha sido obviamente afectada pela evolução global) não é, ou pelo menos não é essencialmente, uma crise de procura (mesmo que o fosse muito haveria a discutir sobre a eficácia do tratamento keynesiano típico no contexto de uma pequena economia aberta).

Por isso embora me considere (razoavelmente) keynesiano não posso concordar com o diagnóstico e portanto é natural que existam também divergências quanto à cura. E, já agora, basta ler os posts de Krugman para perceberem que ele também não considera que a "nossa crise" (bem como a da Espanha e Grécia) seja só, ou essencialmente, uma crise de procura.

CdE disse...

Mas ainda não ouviram o Alesina e o Barro dizer que o multiplicador em Portugal é negativo? Ou simplesmente ignoram esses arautos do capitalismo ocidental, esses devoradores de almas, essas bestas?