quinta-feira, 4 de março de 2010

Querido Hipermercado



Já te tinha escrito uma carta no Natal, mas hoje fui visitar-te e aconteceu-me uma coisa que agora me faz escrever-te um postalinho. Já à saída, quando ia a pagar na caixa, perguntaram-me se não queria arredondar as contas para cima. Onde estavam X € e 73 cêntimos ficavam X+1 €. Estão perceber, não estão? “Porquê?” - perguntei eu. “Para ajudar a Madeira”.

Como já me tinha acontecido da outra vez, fiquei dividido. Por um lado, acho bem. Fica-te muito bem a preocupação com a Madeira, a responsabilidade social e tudo. Além disso, o método é muito inteligente: uns cêntimos não custam nada a cada um e muitos cêntimos juntos são milhões (até já houve uns larápios dentro dos bancos que tiveram a mesma ideia). Mas, por outro lado, com franqueza: por que é que havemos de ser nós a pagar a tua responsabilidade social? Isso é que me intrigou.

Tendo de decidir depressa, a minha escolha caiu para “o outro lado”. “Não quero arredondar, não senhora". Ai o que eu fui dizer... A senhora da caixa olhou para mim horrorizada a ver um monstro que não queria ajudar a Madeira.

Compreenderás, querido hipermercado, que isso tenha feito zangar-me um bocado. Não com a senhora da caixa, mas contigo. E não levarás a mal que te diga: Faz-nos um favor, acaba com isto, já te topámos, vai ser socialmente responsável à tua custa. Uns milhões a menos para ti é um quase nada para cada accionista e ainda tens uns descontos nos impostos.

12 comentários:

Francisco disse...

Exacto, não esclarecem quanto ganham com os descontos nos impostos, se tiram ou não algum montante para a gestão do processo, como partilham a transparência do processo, a quem, com que critérios e para que objectivos vão entregar o dinheiro - o teu dinheiro - e o bicho papão és tu.

Anónimo disse...

No Natal o meu querido avençador vincando a sua preocupação e consciência social também mandou um mail aos seus dele empregados pedindo que contribuíssem para uma causa caritativa qualquer

Se fosse empregado dele e tivesse recebido o mail acho que lhe teria respondido para entregar às crianças o diferencial do aumento de ordenado para aí dos últimos quatro anos para este - como não tem havido aumentos talvez ele percebesse a dica.

Dias disse...

Farei o mesmo que o JMC Caldas.
Também não me comovo com as lágrimas de crocodilo…Sim, pagaria para ver serviços competentes, autónomos e independentes, a apurar responsabilidades do que “correu mal” e a planear o ordenamento a pensar no interesse público.

Anónimo disse...

O Estado mete 4000 milhões no BPN;
AJ Jardim diz que a Madeira precisa de 1000 milhões;

Este Estado mãos rotas para alguns, tem a obrigação de financiar a catástrofe por INTEIRO, independentemente de eu achar se devo contribuir ou não com algum extra.

jcd disse...

Próprio da malta de esquerda. Solidariedade, tudo bem, mas desde que seja com o dinheiro dos outros. A si pediram-lhe ajuda. A sua resposta foi "Não, ajudem vocês."

Nada de novo, portanto.

L. Rodrigues disse...

"Solidariedade, tudo bem, mas desde que seja com o dinheiro dos outros"

Tipico de malta de esquerda não, tipico do hipermercado. Ou será que não leu?

Mário Estevam disse...

Não só no hipermercado. Já reparam que cada banco tem a sua própria continha de caridade para a madeira. A CGD ainda nem sequer actualizou. Ainda lá tem a do haiti...

LAM disse...

Coisa mais ou menos parecida se passou com a gala de solidariedade da SIC com a Madeira, no Coliseu em Lisboa. Diziam eles que "até os funcionários do Coliseu nada cobraram para trabalhar nessa noite". Ou seja, até nas "solidariedades" quem paga é o trabalhador, porque não consta que o Zeinal Bava ou o presidente da Galp, também presentes na festa, tivessem abdicado de um dia do seu salário para ajudar a Madeira.

Myriam Zaluar disse...

Exactamente. E o mesmo se pode dizer das linhas de valor acrescentado. Nesses peditórios não me apanham eles. Pena que tanta gente vá na conversa...
Aliás, por esse mesmo motivo não há quem me apanhe a pagar por um saco de plástico! Querem ser ecologicamente responsáveis? Tratem de usar sacos não poluentes e pôr cartões à disposição dos clientes à semelhança do que acontece noutros países.

A lupa de alguém disse...

Olá. Sou caixa num supermercado modelo. Todos os dias e a todos os clientes eu faço a pergunta "deseja arrendondar a sua conta...". Nem imagina as respostas que tenho tido, e quando a resposta é negativa eu mudo de assunto e pronto. Cada um é livre de tomar as suas decisões, a operadora de caixa apenas faz o que lhe mandam.

Bruno Silva disse...

A hipocrisia do José M. Castro Caldas.

Caro José,

Para quem passa a vida a criticar o sistemas capitalista e a acumulação de capital você não passa de um hipócrita de todo o tamanho. Você, como individuo, não se abstém de beneficiar do conforto, oferta alargada e preços baixos (fruto da escala), resultante dos investimentos do Belmiro. Porém, aqui del rei que o Belmiro fique ainda mais rico e que o comércio tradicional empobreça. Santa hipocrisia...

Paulo Brandão disse...

O "a lupa de alguém" apagou o meu comentário... pelos vistos a ocupação desde funcionário da Sonae é por água na fervura...