sábado, 6 de março de 2010
Politólogos
De há tempos a esta parte, em parte pela popularidade mediática de alguns politólogos e do seu métier, que vários comentadores (muitos deles com uma clara ancoragem partidária) se insurgem contra os politólogos e a sua suposta imparcialidade: pode ver-se isso aqui e aqui, por exemplo.
E também já vários profissionais desta área têm dados respostas muito bem estruturadas a estas críticas daqueles que (pelo menos aparentemente) gostariam de monopolizar o espaço do comentário político porque partisans. É o o caso deste comentário de Pedro Magalhães, rebatendo João Galamba e outros.
Mas estas críticas (dos comentadores partisans) àqueles que se atrevem a quebrar o monopólio são recorrentes e, por isso, no contexto do V Congresso da Associação Portugusesa de Ciência Política (APCP), que decorreu em Aveiro de 4 a 6 de Março de 2010, o novo presidente da direcção (da qual também tenho a honra de fazer parte) resolveu mais uma vez rebaté-las na sua crónica habitual no Jornal i:
"Politólogos
João Cardoso Rosas
A palavra "politólogo", ou especialista em Ciência Política, entrou recentemente no uso comum da linguagem mediática. É hoje normal que os media solicitem não apenas a opinião dos juristas, ou a dos economistas, mas também a dos politólogos. Muitos estranharam esta mudança, quer porque estão especialmente interessados em monopolizar o espaço público discursivo e em arredar a concorrência, quer porque desconhecem a realidade por detrás da palavra.
A Ciência Política em Portugal só teve a oportunidade de se desenvolver institucionalmente depois do 25 de Abril de 1974. Isso não significa que não existissem anteriormente práticas neste âmbito. Mas eram incipientes e sempre desenvolvidas nas esferas institucionais do Direito, da Filosofia, da História ou da Economia. Ainda hoje alguns dos principais praticantes da disciplina entre nós vêm destas áreas, e não há mal nenhum nisso (pelo menos para mim, embora fale aqui em causa própria).
Ao longo das últimas décadas foram surgindo por todo o país diversas licenciaturas, mestrados e doutoramentos em Ciência Política e Relações Internacionais. Apareceram também jovens formados nas universidades de referência a nível internacional, centros de investigação, publicações. Em 1998 foi criada a Associação Portuguesa de Ciência Política. Tenho acompanhado o rápido desenvolvimento desta comunidade de politólogos - e ela já não é assim tão pequena. Nos primeiros congressos da Associação Portuguesa de Ciência Política apareciam algumas dezenas de pessoas. No seu V Congresso, que começa hoje na Universidade de Aveiro, estão inscritos quinhentos participantes - um número extraordinário, mesmo tendo em conta que uma parte deles vem do estrangeiro.
Será que o debate público em Portugal ganha alguma coisa com a intervenção dos politólogos (para além do seu trabalho mais académico e de bastidores, claro)? Sinceramente, creio que sim. Pense-se em alguns dos principais intervenientes nesse debate e que são também figuras centrais na comunidade da Ciência Política: Adriano Moreira, Manuel Braga da Cruz, João Carlos Espada, Maria José Stock, António Costa Pinto, Pedro Magalhães, André Freire, Marina Costa Lobo e tantos outros. Todos eles têm uma intervenção pública que, na minha opinião, permite elevar o discurso sobre as coisas políticas e afastá-lo do uso tendencialmente instrumental que dele é feito pelos próprios agentes políticos.
A Associação Portuguesa de Ciência Política, à imagem das grandes associações congéneres, como a americana, é extremamente variada. Em sentido lato, a ciência política engloba não apenas o domínio já clássico da Política Comparada, mas também as chamadas Políticas Públicas, a Teoria Política, as Relações Internacionais, os Estudos Europeus e Estudos de Área. É a partir das diferentes metodologias destas subáreas que os politólogos portugueses trabalham e contribuem também para o debate público. É esta, portanto, a realidade por detrás da palavra e da sua recente emergência mediática.
In Jornal I, 4 de Março de 2010"
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5 comentários:
esqueceu um dos melhores profs que tive , Farelo Lopes. nunca conheci ninguém tão sintetizador do importante , palha não é com ele.
Concordo!
André Freire
Concordo!
André Freire
ainda bem que concorda. o prof Farelo não é para todos. só para gourmets. a maior parte dos alunos não o percebe ( anseiam palha , habituaram-nos a isso ) de tão sintético e essencial. é muito bom professor. um desperdicio em maus alunos.
Parece-me uma excelente iniciativa a realização do V Congresso da Associação Portugusesa de Ciência Política como contributo para a discussão da Ciência Política em Portugal. Aproveito para enviar os meus parabéns pela integração do A. Freire na Direcção eleita.
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