quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Crises, perguntas e informações

"A lição final é a de que a liberalização financeira e as crises financeiras andam juntas como o cavalo e a carroça". Martin Wolf recenseia o livro sobre a história das crises financeiras de que se fala (ainda não li). Aponta para algo que me intriga desde que, há alguns anos atrás, li um estudo do FMI que tinha um mapa-mundo com várias tonalidades de vermelho, consoante a intensidade das crises financeiras. Não nos esqueçamos que o número de crises financeiras – cambiais e/ou bancárias – mais do que triplicou desde os anos setenta, quando comparado com o período dos “trinta gloriosos anos” do pós-guerra. Pois bem, Portugal era um dos pouquíssimos países que estava a branco nesse mapa. Como lembra Wolf, entre 1945 e 2007, Portugal, apesar de todas as transformações, não conheceu qualquer crise bancária digna desse nome. Alguém conhece algum bom estudo comparativo que identifique as causas por detrás deste padrão? Será que isto se pode dever à presença pública na banca? Ao facto do sistema bancário ser um "clube de cavalheiros" com pouca concorrência e muita expropriação financeira? E será que este padrão explica a aparente falta de preparação para fazer face a esta crise ou a falta de interesse dos economistas nacionais pelo fenómeno da instabilidade financeira? Talvez venha a encontrar respostas onde encontrei a recensão de Wolf: no economia.info. Trata-se de um verdadeiro e generoso serviço público que diariamente faz chegar ao meu correio electrónico uma selecção do debate económico por esse mundo fora. Três excelentes jornalistas económicos – João Silvestre, Rui Peres Jorge e Sérgio Aníbal – são os responsáveis por uma iniciativa sem preço e com muito valor. Subscrevam.

1 comentário:

Luís disse...

Wolf é personagem que evidentemente eu não leio; e por razões várias: desde a colocação da sua crónica na página do jornal, aos títulos das mesmas que logo me enjoam e me fazem passar para outros terrenos, ao pensamento mesclado ou como por aqui se diz, enfim, à sua típica "à redacção da vaca".

Agora, esse facto sui generis de Portugal não ter vivido sequer uma crise bancária entre 1945 e 2007 é de comentar. Claro que as nacionalizações a seguir ao 25 Abril, ajudaram em muito este "padrão"; pq mesmo com bancos tenicamente falidos tinham o Tesouro por trás a dar-lhes suporte - não nenhum mal nisso, tem só o inconveniente das altas taxas de inflação; surpresa: conseguimos sobreviver.

Dizer da "presença pública" na banca, hoje, quer dizer CGD e infelizmente BPN e BPP, que é um factor de estabilização parece-me bem. Mas isso deve-se menos ao facto de quem detém os capitais mas talvez mais à sua dimensão, e ligações ao aparelho estatal. A CGD não trabalha hoje de maneira diferente dos outros bancos privados com os quais concorre pela extorsão da mais mais-valia às empresas e às famílias. Santa, santa, só a Santa Casa da Misericórdia.

Para mais, essa merda de chamar crise bancária, crise cambial, crise financeira, são uns bonitos slogans para não dizer nada de jeito. Os défices das balanças de pagamentos em 78 e 83 que levaram à intervençãop do FMI foram o substituto possível à falência do sistema bancário, financeiro, monetário. Avé César.

E depois, há aquela curiosidade de os bancos portugueses terem passado imunes (quer dizer...) à crise actual, o corolário lógico da actividade económica mais modernizada do país. Paróquia, é o que é. A fulanização e a paroquialização dos negócios financeiros neste pequeno país à beira mar plantada chega e basta para uma dúzia de capitalistas e seus managers enriqueçam, sem precisarem de operações transnacionais à moda da Islândia ou comprar títulos do subprime de alta rentabilidade. Honra lhes seja feita, os banqueiros portugueses ainda são comedidos... tão comedidos que só aceitam uma taxa de IRC de 10%; tudo bem, o Sócrates dá o aval, afinal são eles que fazem a camioneta da campanha ir para a frente...