quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Os custos da crise e quem os suporta

Desde Abril de 2009 que o mundo começou a respirar de alívio: os vários indicadores de conjuntura económica começavam a dar sinais que o pior da crise tinha passado. De então para cá, quase todos os dias os jornais dão conta de mais uma confirmação da retoma da confiança e da actividade económica. Parece que foi uma crise rápida e indolor. Será que foi?

A interrupção da espiral descendente em que as economias mundiais entraram desde Setembro de 2008 só foi conseguida à custa de uma mobilização sem precedentes de recursos públicos, visando socorrer o sistema financeiro (paralisado pelo pânico e pela falta de liquidez) e estimular a actividade económica (paralisada pela falta de crédito e pela incerteza radical face à evolução da conjuntura).

Mesmo que não se verifiquem retrocessos na retoma, esta crise deixa atrás de si um lastro de destruição que os sinais de recuperação económica que agora enchem os jornais tendem a ocultar. De acordo com as instituições internacionais, as economias ocidentais irão demorar 3 a 4 anos a recuperar os níveis de produto que se registavam antes da crise. Consequentemente, o desemprego irá atingir taxas que não se viam há muito tempo (em torno dos 12% na zona euro), ameaçando arrastar milhões de pessoas para a instabilidade e a pobreza duradouras. A Comissão Europeia estima que os custos orçamentais de combate à crise irão representar mais de 16% do PIB europeu. O aumento da dívida pública associado (que em crise anteriores foi superior a 20 pontos percentuais) terá de ser pago por todos nós – sob a forma de impostos mais altos, a continuação da destruição dos serviços públicos e a contracção do investimento estatal em infra-estruturas e outros bens comuns.

Estes são os custos de um sector financeiro desproporcionado, desregulado e favorecido pelos poderes públicos, e simultaneamente demasiado importante para não ser socorrido em alturas de crise. Quando chegar a altura de nos exigirem sacrifícios para a necessária consolidação orçamental, lembremo-nos disto.

3 comentários:

Pedro Viana disse...

O pior da crise já terá passado... para quem? Encontrei recentemente esta interessante comparação da evolução da taxa de desemprego nos EUA nos diferentes períodos de recessão económica ocorridos desde a Segunda Guerra Mundial:

http://www.calculatedriskblog.com/2009/10/comparing-employment-recessions.html

Olhando atentamente para ele torna-se claro que, mesmo que não haja uma recaída na actividade económica, o desemprego nos EUA (e provavelmente também na Europa) vai demorar muitos anos a voltar aos níveis anteriores à crise. E o padrão é claro: desde que a desregulamentação neoliberal ganhou força no início dos anos 80 do século passado tem aumentado continuamente o período de recuperação do emprego há medida que as crises económico-financeiras se sucedem.

Pedro Ribeiro disse...

A propósito de um sector financeiro desproporcionado, desregulado e favorecido pelos poderes públicos, e simultaneamente demasiado importante para não ser, leia-se as recentes (surpreendentes?) declarações do governador do Banco de Inglaterra Mervyn King.

Ver o discurso de King, na íntegra.

L. Rodrigues disse...

Esta crise passou. Definitivamente. A próxima começa dentro de 6 mese.