Conclusão:
Após esta crise (e provavelmente já no seu decurso porque já vimos o suficiente para perceber que ‘isto’ não vai acabar tão cedo), ocorrerão mudanças nas universidades (nos programas, na organização, na inserção societal) que serão diferentes das que o actual Ministro está a forçar.
Contudo, o ritmo e a direcção das mudanças não podem ser antecipados porque serão o resultado de uma interdependência complexa entre duas dinâmicas distintas: mudança cultural (novos paradigmas, teorias, valores, tecnologias, etc.) e mudança social (aqui incluo o ‘económico’ e o ‘político’, envolvendo lutas em torno de poder, recursos e projectos de sociedade).
Para desgosto de muitos economistas, a actual crise veio recordar-lhes que a história das sociedades não é circular, nem “tende para o equilíbrio”, … é um processo evolutivo que ninguém em particular controla e onde a novidade necessariamente emerge. Agora, convém que nos esforcemos para que seja uma novidade benéfica !
Nota sobre M. Callon:
É um pós-moderno que não tem (1) uma ontologia que lhe permita distinguir entre sistemas culturais, sociais e materiais com processos causais de diferente natureza e ritmo; (2) que dê conta dos diferentes níveis de organização e complexidade daqueles sistemas (para Callon, há indivíduos ou redes); (3) uma epistemologia que articule o saber ‘público’, a natureza simbólica dos materiais que para ele remetem, e a subjectividade da pessoa que interpreta esse conhecimento. Prefiro um realismo crítico que seja capaz de integrar a semiótica de Peirce.
Aos que querem alargar horizontes:
Não me reconhecendo em tudo o que escreve, acho que Tony Lawson põe o dedo na ferida relativamente ao actual estado da Economia. Para começar, sugiro o capítulo 1 de “Reorienting Economics”. Para outras referências ver esta posta.
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8 comentários:
Grato pela sua atenção e pelo tempo que dedicou ao meu comentário.
Persistem-me muitas dúvidas acerca do merecimento da designação de teoria a uma explicação da realidade (física ou social) que não possa ser refutada.
De qualquer modo, a minha intervenção estava muito longe de querer atingir qualquer intenção epistemológica e muito menos emparceirar do lado da sacralização da modelização dos comportamentos dos agentes económicos.
O que eu deduzi do artigo dos Cinco, publicado no Público, mas provavelmente de forma deficiente, até por me encontrar ausente do país, foi uma acusação à "má teoria", que eu subentendi referir-se ao neo-liberalismo, pelo desencadear da crise.
Ora eu, que não me considero neo-liberal, nem a caminho, vi naquela interpretação um tiro no alvo errado. Porque ao acusar-se a "má teoria", e as escolas, se desculpabilizam os reais provocadores, e beneficiários, da crise.
Depois de ler estes seus posts, mais se me arreiga a ideia de que alguém estará a atirar para o lado contrário.
Porque: i) Se a questão é "os economistas produziram a crise?" ii) e a sua resposta se envolve na epistemologia da ciência económica
iii)a minha conclusão é de quea vossa posição perfila-se ao lado dos Cinco: iv) a crise é uma consequência da "teoria" predominante nas escolas de economia e gestão.
E, do meu ponto de vista, não é.
E não é, porque, conforme já tenho referido em comentários anteriores, a montagem e distribuição dos produtos financeiros tóxicos que contaminaram a economia globalmente, não decorreu da obsessão pelos instrumentos matemáticos mas da intenção deliberada de encher os bolsos traficando logros.
Admitir que estes agentes de produção e distribuição de pechisbeque aprenderam a arte nas escolas (que até podem não ter sido de economia e gestão) por onde andaram, é o mesmo que absolver o traficante que faz contrafacção misturando óleo de colza no azeite, provocando problemas graves na saúde dos consumidores, alegando que é engenheiro químico.
Não discordo, portanto da sua excelente explicação acerca da encruzilhada em que se encontra a economia, mas continuo a pensar que a resposta à questão que faz o título dos seus pots é outra: Os traficantes provocaram a crise, e é ingenuidade discutir as escolas que eles frequentaram enquanto deixando-os escaparem-se intocáveis para um "resort" dourado algures.
Mais pernicioso e absurdo ainda: Deixá-los voltar para reincidirem.
Pf considere que no penúltimo período deve ler-se:
"... Os traficantes provocaram a crise, e é ingenuidade discutir as escolas que eles frequentaram deixando-os escaparem-se intocáveis para um "resort" dourado algures."
Obg
Volto ainda porque já depois de ter colocado o meu comentário, reparei no cartoon de
Tom Toles no WP.
Transcrevi-o para o meu caderno de apontamentos.
http://aliastu.blogspot.com
Pelo menos, o Tom Toles parece concordar comigo.
Rui Fonseca,
Concordo em grande parte consigo desta vez, mas na minha opinião, as tais teorias é que levam a que, em ultima análise, a que apareçam estes problemas que referiu, ou seja, aprendemos que os mercados livres são eficientes, e isso levou a que se acabasse com a regulação e intervenção dos estados na economia.
O mesmo paradigma económico que afirma serem desejáveis os impostos regressivos e algumas coisas do género.
Ou seja, quanto a mim, é necessário que nas faculdades se aprenda ser crítico, se aprendam teorias alternativas.
"é necessário que nas faculdades se aprenda ser crítico"
Completamente de acordo. Mas eu penso que é também para isso que existem as Universidades.
Sem estar a acrescentar muito ao debate, creio que é claro que as (más) teorias legitimaram as decisões políticas que facilitaram, e até encorajaram, as más práticas.
Caros Rui Fonseca
e Tiago Santos,
O texto que publiquei é denso e pode despertar desacordo, o que é natural.
No fundo, a minha posição é a de que as relações de causalidade são múltiplas e entrelaçadas.
O que importa é que o nosso combate político (em vários domínios e com diferente intensidade) não caia em armadilhas simplistas. Claro que os (presumíveis) criminosos devem ser julgados e, obviamente, as universidades devem ensinar teorias que de facto ajudem a entender a realidade, o que não acontece com boa parte do que hoje se ensina (ex: microeconomia; macroeconomia). Agora, é bom que fique claro que a prisão de uns tantos milionários não muda o papel do actual sistema financeiro (as causas sistémicas são reais), nem a mudança generalizada dos programas escolares se fará sem a pressão das lutas sociais e políticas. Os professores não pairam fora/acima da sociedade. Em síntese: os sistemas sociais emergem a partir de 'indivíduos em relação', mas não se reduzem a estes, e persistem no tempo para além da vida de cada indivíduo em concreto; as teorias económicas são ao mesmo tempo causa e efeito no conjunto mais amplo e complexo da dinâmica social. Estamos no domínio da alta complexidade e da não-linearidade; as sociedades não são explicáveis através de causalidades lineares e de sentido único.
Um bom 2009 para os dois!
concordo plenamente...
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