Em reacção ao meu último artigo no Jornal de Negócios, onde uso o dossiê que a The Economist organizou sobre os fracassos da finança de mercado, um leitor atento deixou a seguinte citação retirada do mesmo dossiê: «Lembrem-se da notável prosperidade dos últimos 25 anos. A finança merece algum crédito por isso». Crédito por isso? Na linha de muitos estudos empíricos, a própria The Economist reconhece, finalmente, um padrão que terá de ter implicações radicais na futura mudança institucional das economias: o número de crises financeiras mais do que triplicou desde 1973, quando comparado com o período dos «trinta gloriosos anos» do pós-guerra, frequentemente apelidados de anos de «repressão financeira» pela teoria económica convencional.
Talvez a The Economist esteja a pensar nos EUA onde as aventuras da finança foram mais longe? Este expressivo gráfico compara o crescimento cumulativo, para diferentes segmentos de rendimentos (dos mais pobres aos mais ricos), em dois períodos cruciais da história do pós-guerra nos EUA. Notável prosperidade…
Talvez a The Economist esteja a pensar no crescimento fulgurante da Índia ou da China? Maus exemplos. Estes países mantiveram um sistema financeiro «reprimido», ou seja, controlos de capitais e uma forte presença pública no sector bancário.
sexta-feira, 30 de janeiro de 2009
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4 comentários:
Há aqui vários pontos a comentar...
1) Se historicamente a regulação foi sendo introduzida para reduzir o numero de crises e a volatilidade dos mercados não será de senso comum que ao abolir muitas medidas de controlo e fiscalização essa instabilidade crónica (com crises, especulação, etc) regressasse?
2) O caso da China é sempre muito particular porque Pequim mente descaramente nas suas estatisticas (os mesmos economistas que viram esta crise chegar já denunciaram que o crecimento chinÊs anunciado para 6,5% é falso e que o país ou está estagnado ou mesmo em recessão) - o que para ser franco não é fora do normal para um país com um regime totalitáio.
1. Nunca percebi esta obsessão da achar a finança a "culpada da história"; .... "judeus os culpados da história" (?). A crítica é pura e simplesmente unilaterizada. Primeiro pq mta das vezes se resume a dizer da retórica da "regulamentação" e da "circulação de capitais" sem focar os conteúdos reais. Mtas vezes o discurso é até contraditório c/ a história e dou um exemplo recente. Culpou-se aqui um acto legislativo do ainda Presidente Clinton por ter acabado com a legislação vinda da Grand Depressão que separava b. de investimento e b. comercial. Disse-se: DESREGULAMENTAÇÃO »» CRISE DO SUBPRIME ORIGINADA NA BANCA DE INVSTIMENTO. Ora, isto é contraditório, pq foi precisamente o modelo bancário da separação dos dois "negócios" que a originou. Foi pq a b. de investimentos fazia um "negócio separado" que tiveram o ímpeto e a ideia de lançar os mirabolantes "produtos subprime". Assim, essa legislação dos anos 30 teve precisamente um efeito preverso e certamente não desejado. O conteúdo conta, outra vez, mto mais que a forma.
2. E depois o "sistema reprimido de Bretton-Woods". Compreende-se que os economista tradicionais digam isso, porque como putas virgens da teoria convencional aquilo bate sempre melhor quando a recta da BP (BP=0 - outra simplificação) é horizontal. Ora, nem´isso corresponde inteiramente à realidade, pq como afima Eichengreen, hello... (citação algures), Bretton-Woods foi um sistema que caminhou progressivamente para liberalização, o que correspondeu tb a uma progressiva melhoria material! portugal, pós 73 tb teve de introduzir um "controlo de divisas, já não havia Bretton-Woods (onde nem sequer teve), mas que era a única resposta possível aos défices comerciais e de pagamentos com o exterior! A causa está precisamente invertida! Isto n resume tudo, mas não me aptece dizer mais.
(cont.) 3.Já nem falo de tentar relacionar o número de crises financeiras com a distribuição de rendimentos, que é uma coisa altamente duvidosa. O número de crises até pode ter triplicado, mas não consta, por exemplo, q Portugal estivesse envolvido nalguma delas (ao contrário de no resto da sua história). Isso não impediu, que por cá, a desigualdade galopasse! Corolários: o neoliberalismo está por todo o lado; a "financeirazação" é então só o modo específico, o "negócio", pelo qual os banqueiros enriquecem e o prometem a grande parte da população (valorização imobiliária)!
4. O sistema monetário iternacional não é com certeza o melhor arranjo institucional que temos, mas aí também não há soluções fáceis. E depois, designar a China como um poço de virtudes nessa matéria é mais uma vez altamente duvidoso: a cotação do Yuan, pela extrema desvalorização é uma das responsáveis da crise actual!
5. Por fim, para não me alongar mto, a "liberdade de circulação" dos capitais. A liberdade de circulação não pode nem deve ser um mal em si mesmo. O que importa são os motivos. E aqui penso que o que se deveria começar por focar é o motivo especulação no mercado cambial..
Muito interessante este post, que me foi indicado por um leitor vosso.
Talvez tenha interesse, para se perceber porque é que é assim, o meu post de 10 de Novembro 2008"Quantificando a Depressão"
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