«A crise económica deve ser vista como uma consequência inevitável e por isso um preço ‘justo’ que temos de pagar pela imodéstia e excesso de confiança de políticos que brincam com o mercado. As suas tentativas no sentido de culparem o mercado, em vez de se culparem a si mesmos, são inaceitáveis e têm de ser rejeitadas. O Governo checo não irá – esperemos – empurrar o mundo e a Europa para o aumento da regulação, da nacionalização, da des-liberalização e do proteccionismo.»
A passagem acima é apenas uma das muitas pérolas com que Vacklav Klaus, Presidente da República Checa, nos presenteia na edição de hoje do Financial Times. Um verdadeiro programa ultra-liberal e anti-federalista para a UE, por parte do chefe do Estado que assumiu a presidência da UE a 1 de Janeiro. A não perder.
O problema da actual arquitectura institucional da UE não é apenas o facto de permitir que pessoas cujas ideias dificilmente são subscritas pela generalidade dos europeus assumam papéis centrais nas instituições europeias. O drama da UE é que se torna cada vez mais distante o dia em que os cidadãos europeus poderão decidir democraticamente quem são as vozes que devem falar em nome de todos nós. A tragédia da UE é que as ideias do presidente checo sobre o que deve ser a UE (um mercado 'livre' de interferências dos Estados e de qualquer regulação adicional ao nível das instituições europeias) estão quase todas inscritas nos Tratados da UE. E enquanto existir um Vacklav Klaus que seja entre os 27 país que compõem a UE, pouco ou nada poderá mudar (relembremos pela n-ésima vez: qualquer alteração aos Tratados exige a unanimidade entre os Estados-Membros).
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9 comentários:
Pois... na minha terra existe um ditado "Cadelas apressadas parem os filhos cegos", quem é o responsável por fazer alargamentos à "balda"?
A Europa precisa urgentemente de adoptar um modelo diferente de governabilidade para não ter de se s sujeitar às convicções pessoais de um qualquer personagem que lhe apareça à frente.
Vaclav Klaus tem poderes limitados e não será ele quem definirá os destinos da Europa mas pode de algum modo influenciar o seu embargo durante seis meses.
Os caprichos irlandeses encalharam o tratado de Lisboa e ninguém sabe agora quando chega a maré que o possa por a navegar com alguns rombos no casco.
O que é impressionante é continuar a haver gente bem pensante a bater palmas à caturrice irlandesa apesar de, reconhecidamente, ser virtualmente impossível obter um consenso em referendo entre os 27 países membros.
A crise financeira e económica global exige dos dirigentes europeus uma unidade de pensamento à volta dos interesses primordiais da União que, notoriamente, não está garantida com a eventualidade dos caprichos que as actuais regras, entre as quais a rotatividade da presidência, permitem.
E mesmo assim há quem continue a ver no referendo um instrumento mais democrático do que a democracia representativa. Não por acaso, neste caso, Vaclav Klaus também
Sinceramente já não percebo nada disto.
Afinal de contas o referendo é ou não uma forma democrática e válida dos cidadãos de um país se fazerem ouvir.!!??
Se é, então não percebo por que é que a posição irlandesa é aqui chamada de caturrice.! Sinceramente não entendo.
É claro que a chamada democracia representativa é democrática e representativa (desculpem o pleonasmo), mas o referendo não o é menos, e no caso irlandês até é mais porque inscrito na constituição com força obrigatória. Se calhar é por que eles não confiam nos seus politicos para as coisas importantes como é o caso da constituição europeia (ou tratado de Lisboa, apesar do sr.Socrates e outros(querendo fazer-nos tolos) dizerem que não!.
Pelo menos na Irlanda ainda vão cumprindo a constituição.!!!
Quanto ao Vaclav Klaus, esse, não aquece nem arrefece.
Por outro lado,parvoices e asneiras das grandes todos os srs que até agora estiveram na presidencia da UE fizeram, e a nenhum deles "eu", cidadão europeu, conferi mandato.
Alguém perguntou aos tugas se queriam entrar na CEE.
Anónimo, pergunta:
"Afinal de contas o referendo é ou não uma forma democrática e válida dos cidadãos de um país se fazerem ouvir.!!??"
Alguém disse o contrário?
Eu respondo.
Não disse mas a afirmação pretende claramente a desvalorizar o instituto.
Pelo visto, aliás, se é a favor dos nossos intentos serve perfeitamente. Se não é a favor, então aqui del-rei que isto não pode ser assim....!
Que raio de democracia esta em que os cidadãos apenas são chamados a pronunciar-se sobre o seu destino quando e se convem.
De qualquer forma não parece que a posição da Irlanda tenha feito qualquer rombo no casco e a prova é que ela se move( a maior parte das vezes em direcções erradas (o que não admira dada a sua natureza eminentemente neo - liberal...)mas move-se).
Porque será que toda a gente se lembra agora de "bater" no Presidente checo? Será ele demasiado liberal? Ou afinal uma pessoa conhecedora do que foi a aplicação prática das soluções do extremo oposto?
São já tão poucos os lúcidos...
Rui,
E porque um extremo não serve, o extremo oposto deve estar certo, é isso?
Não, nem a análise é, infelizmente, tão simples nem tão pouco eu tenho a capacidade de análise mais rebuscada.
Humildemente, apenas acho que se deve ter cuidado nas glorificações de um e nas diabolizações do outro.
O que eu achava bastante mais importante era uma discussão menos extremada do modelo e os porquês da situação a que se chegou. Porque para mim existem dois pontos a que nunca se vai poder fugir: a inevitabilidade do capitalismo como modelo a continuar e a inexistência de modelos (e muito menos instituições) perfeitas. Radicalizar o discurso serve apenas para manter o status quo, para que depois da confusão tudo fique na mesma! E isso interessa apenas ao um grupo pequeno de grandes senhores que transformaram Portugal mais numa plutocracia do que numa democracia, onde não incluo, obviamente, este blog.
Aliás, reconheço mérito a este blog (dos melhores que existem à "Esquerda") na tentativa de discussão séria do assunto, mas o que se nota em quase todas as análises é o "pecado original" da radicalização, que retira força e eficácia à mensagem.
cpts.
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