Há dias foi aqui apresentada e discutida pelo João Rodrigues a teoria de Michel Callon sobre a performatividade das teorias e modelos económicos. Podem os economistas criar na sociedade o “homo economicus” que o pensamento dominante na Economia pressupõe ?
Anteontem, esta minha posta suscitou comentários que se enquadram na mesma problemática. Assim sendo, aqui fica o meu contributo para não deixar os leitores a falar sozinhos:
Não é verdade que “uma vez detectado o erro, a teoria ou é abandonada ou corrigida.” O trabalho de Thomas Kuhn há muito desmontou esta ideia de ciência. Por isso, coexistem na Economia correntes de pensamento que assumem diferentes pressupostos quanto à natureza do ser humano, quanto ao seu comportamento, quanto à natureza das organizações, da sociedade, da cultura, etc. A disputa entre diferentes correntes de pensamento é uma realidade que atravessa não apenas as Ciências Humanas e a Ciência Social mas também a Biologia e a Física. Infelizmente a Economia (uma sub-disciplina da Ciência Social) passa por uma situação grave de credibilidade dado que a maioria das escolas de economia recusa a natureza intrinsecamente plural do saber científico. Esta questão já aqui foi discutida pelo José Castro Caldas.
Os dados estatísticos e tudo o mais que se recolhe através de inquéritos e entrevistas são sempre registados, e trabalhados em modelos, de acordo com alguma teoria. Não há observação e descrição neutras da realidade, por muito que isto custe a alguns académicos respeitáveis. Na Física mecânica, o observador constrói as condições em que faz a experiência e na Física quântica a observação interfere com o objecto observado (partícula vs. onda). Assim, não é de estranhar a ausência de artigos científicos a procurar falsificar uma teoria nos termos em que Karl Popper entendeu o progresso da ciência. Afinal de contas não temos acesso à realidade senão através da nossa subjectividade.
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