Continuo a recuperação de partes do artigo “Esquerda plural e clareza das alternativas” que publiquei recentemente no Le Monde Diplomatique – edição portuguesa, Janeiro de 2009. Com disse atrás, para se perceber o conjunto da argumentação, bem como as referências e os dados que a sustentam, é mesmo necessário comprar o jornal, que aliás tem outros artigos muito interessantes sobre este tema (de Daniel Oliveira, António Abreu e José Neves).
Em Portugal, quando se fala de cooperação entre as esquerdas, geralmente as várias forças acusam-se mutuamente. Para justificarem a quase impossibilidade de entendimentos, os socialistas acusam as forças à sua esquerda de sectarismo e de fazerem do PS o seu principal adversário. Por seu lado, também para justificarem a quase impossibilidade de entendimentos, os bloquistas (e os comunistas) acusam o PS de executar políticas de direita e daí o obstáculo quase intransponível para se firmarem acordos.
A verdade é que, do meu ponto de vista, todos precisam de fazer o seu papel numa eventual aproximação. Ou seja, como de forma concisa e precisa referiu Manuel Alegre, para um entendimento é necessária uma dupla ruptura. Os socialistas precisam de reconhecer que, se se aproximassem mais dos partidos à sua esquerda, e não dos partidos à sua direita, como têm efectivamente feito, poderiam formar um bloco político (e social) mais forte no combate às desigualdades sociais, em geral, e à direita social e política, em particular. A extrema-esquerda precisa não só de ultrapassar algum do seu sectarismo e da sua cultura de contra-poder, mas também de perceber que, primeiro, o seu principal adversário não pode ser o PS e, segundo, se deixasse a porta entreaberta para possíveis entendimentos não só poderia capitalizar mais nas urnas como poderia também ganhar maior credibilidade entre os portugueses e maior capacidade de influência na política portuguesa, nomeadamente para corrigir o “enviesamento do sistema partidário para a direita”. E com uma maior clarificação ideológica ganharia também a democracia portuguesa.
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6 comentários:
Acho que a extrema esquerda tem toda a razão quando fala em um PS que pratica políticas de direita. Não é um guerrilha ideológica de malucos, é mesmo verdade. Eu votava PS, mas eu sempre fui de esquerda, agora que sei o que é esquerda a sério não quero ver o BE ou PCP com este PS. O PS teve anos e anos de poder e nunca os utilizou para viabilizar políticas de esquerda...a esquerda no PS é ostracizada, basta pensar no pacote anti-corrupção de Cravinho para ver como são encaradas medidas de esquerda no seio deste PS.
Se alguma vez a definhada esquerda do PS ganhar o controlo do partido, aí a estória é outra e aí poderemos falar num verdadeiro partido socialista...até lá, vamos sonhando.
Eu desejo a convergência das esquerdas, mas a convergência das esquerdas tem mesmo de ser entre pessoas que desejam políticas de esquerda. Com este código de trabalho não há muito argumentação que negue o óbvio, é que este PS é mesmo de direita.
"Os socialistas (?) precisam de reconhecer que, se se aproximassem mais dos partidos à sua esquerda, e não dos partidos à sua direita, como têm efectivamente feito, poderiam formar um bloco político (e social) mais forte no combate às desigualdades sociais, em geral, e à direita social e política, em particular." A questão, André Freire, é saber se o PS deseja de facto esse bloco político para combater as desigualdades sociais. Espanta-me que, com tantas provas dadas, o André ainda acredite nisso.
Concordo, pois, com o João Dias. O PS não é hoje um partido de esquerda. Não o é há muito tempo.
O partido "socialista" provavelmente mais à direita da Europa Ocidental (provavelmente mais que o New Labour).
2 Partidos comunistas, que são totalitários e sectários (mais do que de "contra-poder").
A ideia é impraticável. Infelizmente.
Não é por capricho, que os (presumidos)socialistas se aproximam (muito)mais da direita do que da esquerda... Leia Marx, que vai certamente perceber a razão...
A esquerda radical ("de raiz", em sentido de profundidade, e não de extremidade...) deverá abdicar dos seus valores essenciais, para "dialogar" com o PS? E a isso chamar-se-ia diálogo?...
Quando 2/3 das moções do Bloco deixam claro que não querem qualquer entendimento com o PS isso faz-me questionar para que servem realmente os partidos políticos. E faz-me afastar da política.
André Freire escreve certo. A esquerda deve entrar na governabilidade ou pelo menos dizer que a quer.
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