terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Revisão em baixa

Roubei ao Porfírio Silva este naco da moção de Socrates ao Congresso do PS:

«O mundo acaba de assistir à clamorosa derrota do pensamento político neoliberal. A ideologia do mercado entregue a si próprio, sem Estado nem regulação capaz, e a especulação desenfreada nos mercados financeiros são os responsáveis principais pela profunda crise que se abateu sobre toda a economia mundial».

Parece uma revisão em baixa das expectativas do «socialismo moderno» no capitalismo real. Que linguagem radical! Gostaria tanto de acreditar que daí irá sair alguma coisa diferente na governação.

13 comentários:

L. Rodrigues disse...

Que é como quem diz: "Pessoal, Afinal os nossos patrões mentiram-nos"

João Dias disse...

Ai minha nossa que eles se vão transformar em socialistas...

Acho que já dá para perceber o que este discurso traz consigo, um Estado a dar apoio financeiro ao sector privado sem exigir nada em troca, sem ir ao cerne da questão. O jogo de forças no mundo laboral e um sistema financeiro predatório e inibidor de um sistema económico justo são realidades que se vão manter...pelos menos se continuar a mediocridade no poder.

Porfirio Silva disse...

Caro José M.,
Infelizmente, eu que até sou socialista (do PS, quero eu dizer), acho que aquelas palavras não levarão muito longe. Como de costume, a "esquerda do PS" anda a tricotar - os que falam, não têm tempo para estudar; os que estudam, não têm tempo para falar. Com poucas excepções. Mas,francamente, não vejo razão para tanta vozearia da "outra esquerda", ou da "esquerda da esquerda" - a qual, em termos de propostas, e de retórica, continua demagógica. E timorata: antigamente os "revolucionários" queriam coisas ousadas, agora quase só querem cavalgar qualquer descontentamento que apareça.
Faltam "institucionalistas" com um pé na política, é o que é.
Abraço.

Elisiário Figueiredo disse...

Dizia alguém ontem na televisão que "os partidos modernos não têm ideologia", ou seja são desprovidos de valores, valores éticos e morais, e no que dá? dá em que o PS faz politica como se fosse o PSD e o PSD como se fosse o PS, ou seja é tudo a mesma coisa, parece-me que à esquerda destes dois ainda existem partidos com fronteiras ideológicas bem definidas.

João Dias disse...

Perante a pobreza interna do PS há logo que alertar que não existe alternativa...mas existe e este blogue é a prova disso.
Quebra do sigilo bancário, mudança no paradigma das relações laborais, democracia nas empresas, serviços públicos fortes, impostos progressivos que verdadeiramente combatam as assimetrias (p.s. Não venham dizer que os impostos sobre o rendimento são a solução, os mais ricos não têm propriamente "rendimentos/salários").

Podemos perante as alternativas dizer que são demagógicas e, com uma singela palavrinha, fazer os possíveis por negligenciar a justeza ou realismo das mesmas...mas isso fica para quem está mais comprometido com o partido do que com a política...esse é um jogo que não devemos jogar, na minha opinião.

João Dias disse...

errata

onde se lê:
"Não venham dizer que os impostos sobre o rendimento são a solução"

devia se ler:
"Os impostos sobre o rendimento não são a única solução"

José M. Castro Caldas disse...

Caro Porfirio,

Eu sei. Todos temos muito trabalho de casa para fazer. Agora o que não pode ser é ficar à espera que o trabalho de casa esteja feito para depois meter as mãos na massa. Sabemos pelo menos o que queremos evitar. Agora quando o que queremos evitar está acontecer é enervante ouvir blá, blá, blá, e ver a ser feito apenas uma parte do que pode ser feito, deixando o fundamental na mesma.
Um abraço
JM

Tiago disse...

Cheguei à conclusão que a economia não tem nada de "ciência". É ideologia encoberta de autoridade.

Os especialistas de economia estão mais preocupados em encaixar o mundo no dogma preferido do quem em perceber o mundo que os rodeia.

Actualmente o dogma mais gravoso é obviamente o chamado neo-liberal, mas apenas por "contexto histórico".

No entanto aos dogmáticos keynesianos deixo uma perguntinha: Como acham que Portugal vai financiar o défice? Já viram a competicão que vai haver entre estados soberanos para emitir dívida este ano? Mesmo só para rolar a dívida? Nos próximos meses vai acontecer um ou mais casos de sovereign default, fica aqui a previsão. E até pode ser Portugal (embora UK, Irlanda - esses paraísos do neoliberalismo - e Grécia estejam claramente à frente).

Já estou a ver a Manuela Ferreira Leite (a mais incompetente de todas) a vir dizer que tinha razão com o défice (e nesse ponto até tem). A mesma manelinha que, nesta altura, quer diminuir impostos (a cartilhinha dogmática neoliberal a levar-nos para a catástrofe).

A solucão passa por uma mistura do mais impopular da direita (controlar o défice - apesar de ser do Dick Cheney a frase "o défice não importa" - frase que os Ladrões concerteza subscrevem) com o mais impopular da esquerda (subir impostos, sobretudo sobre quem não consome tudo aquilo que ganha - ricos e parte da classe média).

Mais, boa parte da corporacão representada pela esquerda são, na verdade previligiados: todos os que tenham "emprego seguro" a ganhar acima do salário médio. Uma medida de elementar racionalidade era distribuir o trabalho: por exemplo os professores mais bem pagos (topo de carreira) podiam deixar de trabalhar um dia por semana, ter o corte de vencimento proporcional e com isso o estado podia empregar muito mais professores (especialmente porque os em inicio de carreira ganham muito menos). Mas a simples ideia de solidariedade intra-classe é demais para os nossos proletários egoístas.

Eu não estudei economia, donde provavelmente percebo mais da real que aqueles que estudaram. Os economistas são a profissão mais desacreditada e dogmática do planeta (sejam os de estado ou os de mercado).

Tiago Santos disse...

Caro Tiago,

A luta que se bate na Economia neste momento é exactamente entre quem quer uma economia dogmática com verdades absolutas, e uma corrente que quer um estudo plural e real da economia.
Parece-me que quem escreve neste blogue não tem intenção de substituir os dogmas neoliberais por outros dogmas keynesianos ou o que quer que seja.
O importante é haver um debate plural entre as diversas correntes...e isso pede-se tanto na economia como em qualquer ciência social ou natural...

Luís disse...

Este tipo, o "Tiago" merece a minha recomendação!! Recomendo-o, por isso, vivamente.

Mas enfim; parece que agora vem aí uma economina "não-dogmática"! Ainda estou para ver é de que sector!

Tiago Santos disse...

Uma coisa é certa, o paradigma vigente está errado...deu como certo algo que afinal deu errado...

João Dias disse...

"Mais, boa parte da corporacão representada pela esquerda são, na verdade previligiados: todos os que tenham "emprego seguro" a ganhar acima do salário médio. Uma medida de elementar racionalidade era distribuir o trabalho: por exemplo os professores mais bem pagos (topo de carreira) podiam deixar de trabalhar um dia por semana, ter o corte de vencimento proporcional e com isso o estado podia empregar muito mais professores (especialmente porque os em inicio de carreira ganham muito menos). Mas a simples ideia de solidariedade intra-classe é demais para os nossos proletários egoístas."

Isso mesmo, distribuir o mal pelas aldeias em vez de taxar lucros especulativos, exigir transparência, clareza nos contratos do Estado com o sector privado...
Os professores que no topo da carreira podem ascender a 2000 euros mensais e que ao longo da sua carreira terão um salário médio de 1500 euros, esses sim é que são os privilegiados deste país...haja pachorra.

Um erro que urge acabar, não se pode afirmar que os professores ganham acima do salário médio nacional, porque o que aparece em estatísticas é a mediana do nível salarial em Portugal...o salário médio é outra estória e seria mais alto por estar "inflacionado" pelos altos salários. Acontece que reduzir o problema aos salários é ter vista curta, a grande riqueza não tem salário, tem investimentos, lucros, mais valias que não são contabilizadas sobre a forma de salário. Convencer que os professores e a esquerda é na realidade um sector de privilegiados, é negligenciar a verdade da política aonde a direita sempre esteve do lado dos interesses rentistas. Diariamente assistimos a inúmeros exemplos palpáveis disso com as fraudes bancárias a serem notícia diária e da sua estreita relação com ex-ministros cuja área política é claramente direitista.

Anónimo disse...

O quê, o José Socrates, um neo-liberal dos quatro costados (vê-se claramente em todas ou quase todas as medidas deste governo) armado em socialista.?
Não pode ser.!!!!
Gente desta só dá má fama á "esquerda".