domingo, 2 de outubro de 2016

Continua a afirmar Pereira

Já exprimi várias vezes a minha dúvida, receio, reserva, quanto ao sucesso da actual experiência governativa por uma única e exclusiva razão: não pode fazer a política que desejava, nem a que corresponde à sua base social e política, e é obrigada a fazer uma política imposta de fora pelo Eurogrupo, cujos resultados na estagnação da economia são reconhecidos por todos, menos pelo próprio Eurogrupo e as suas emanações nacionais, em particular o PSD. Num país cheio de tretas, uma delas é que há dois “modelos” económicos, um do PS e da maioria de esquerda e outro da oposição PSD-CDS. Não há. Não há dois modelos, há apenas um, que é o que o Eurogrupo impõe a Portugal (junto com a Comissão, o BCE e essa entidade bipolar que é o FMI). (…) No entanto, se a governação económica do PS é mais próxima da do PSD, que teria hoje quase todas as dificuldades que o PS está a ter, só com a diferença que contaria com muito mais benevolência europeia, já não é correcto dizer que a governação social e política sejam idênticas.

Uma vez mais concordo no essencial com Pacheco Pereira, discordando em alguns detalhes. Parece-me que subestima o poder das regras económicas e monetárias europeias e dos seus vieses estruturais e, correspondentemente, sobrestima a importância conjuntural da coligação política europeia que as interpreta, em especial no Eurogrupo.

Acrescento ainda que esta divisão entre o económico, para o qual há um só modelo, e o social, para o qual haveria mais do que um, é, em última instância, artificial: o “económico” tem toda a força social no capitalismo, como Pacheco Pereira sabe. Basta lembrar como acabou a Terceira Via, uma das expressões políticas do esforço para separar o que não pode ser separado (e isto sendo muito benévolo para essa mistela ideológica hegemonizada pelo neoliberalismo). A política económica tem de ter boas consequências sociais, tem de ser, se quiserem, uma política socioeconómica, mas para isso precisamos de recuperar instrumentos na escala, que é a nacional, da democracia.


Entretanto, numa coisa estou de acordo com John Gray, filósofo britânico anti-hayekiano (depois de ter sido um dos mais influentes hayekianos nos idos de oitenta...): também nesse país amplos sectores das direitas já perceberam que o Estado nacional está de regresso e que a utopia neoliberal gera distopias, apanhando uma parte das elites de esquerda distraída pelo europeísmo e outros becos pseudo-internacionalistas, olhando com desdém para a necessidade de segurança e de controlo por parte das populações (segurança social, em sentido amplo, e controlo democrático são boas repostas do socialismo, o que obrigaria hoje, digo eu, a uma luta sem quartel contra as instituições europeias que geram insegurança social e novas formas de autoritarismo político, a uma luta por uma parcial desglobalização económica no espírito, vejam lá o radicalismo, de Keynes). Já agora, aposto que John Gray, até pelo seu percurso, é uma referência de Pacheco Pereira.

11 comentários:

Jaime Santos disse...

Do seu post de 2009, saliento a seguinte frase do texto de Keynes que citou: 'No entanto, aqueles que querem reduzir as interdependências devem ser lentos e cautelosos.' Nem mais, não deitem fora o bebé com a água do banho. Em grande medida, o processo de integração europeia criou profundas interdependências de que depende hoje o negócio de muitas empresas portuguesas. Por outro lado, convém lembrar que essas interdependências também aumentaram certamente devido ao progresso tecnológico, num grau que provavelmente surpreenderia Keynes e quanto a isso não haverá muito a fazer...

Jose disse...

Enfim um texto que denuncia o mal maior da nossa grei: A TRETA.

Reconhece-se que só há condições objectivas para um tipo de política económica, mas entendem dever adicionar-se-lhe os condimentos que só diferentes condições tornariam oportunas.
Por outras palavras, trata-se de, num mesmo prazo, tornar inalcançável o bem possível para servir um modelo inaplicável.

A fidelidade ideológica que diz servir futuros arruinando sucessivos presentes.
Já abundantemente visto!

Jaime Santos disse...

Já agora, o problema dos tais amplos setores das Direitas não é o foco na necessidade de segurança por parte das populações, e sim a forma como tal é apresentado à opinião pública, confundindo deliberadamente imigração com o problema dos refugiados, por exemplo, cujo acolhimento até é uma obrigação dos Estados à luz do Direito Internacional, ou esquecendo que amplos setores da Economia Britânica dependem de um trabalho sazonal que só é feito por imigrantes. Nesse sentido e embora eu seja um crítico de Corbyn, saúdo a sua recusa em fazer da redução da imigração uma bandeira do Labour... O que eu espero é que o seu exemplo seja seguido noutros Países e não se enverede por exemplo pelo exemplo do Partido Social-Democrata dinamarquês, que levou à recusa do seu congénere sueco em participar na última campanha eleitoral (que a Esquerda perdeu, mesmo se os Social-Democratas aumentaram o número de mandatos no Parlamento). Cabe à Esquerda defender os seus valores junto do seu eleitorado tradicional, a não ser que queira optar pelo Marxismo, tendência Groucho: 'estes são os meus princípios e se não gostarem deles, tenho outros'. É que entre o original (a Direita) e a cópia, os eleitores irão certamente preferir o original... E ainda voltando à citação de Keynes, sobre a cautela, não se acautelam os receios das populações defendendo objetivos sem indicar os meios de os atingir e sem chamar atenção para os riscos decorrentes do processo...

Anónimo disse...

Herr jose?

Ei... Nao percebe que a treta denunciada é a sua grei... E lei?
Aquela pela qual cumpre o serviço cívico e as outras actividades mais do foro individual?

Anónimo disse...

Não seja aldrabão ó das 16 e 31. Aldrabão e ignorante.

Não se "reconhece que só há condições objectivas para um tipo de política económica". O que se diz é que a experiência governativa "é obrigada a fazer uma política imposta de fora pelo Eurogrupo".
Ora o que é necessário é " uma luta sem quartel contra as instituições europeias que geram insegurança social e novas formas de autoritarismo político"
Claro que tal não interessará a quem anda a fazer serviço cívico pelos tais 1% (leia-se, a cumprir o seu papel na luta de classes).

Pelo que surge como uma idiotice afirmar que " se trata, num mesmo prazo, tornar inalcançável o bem possível para servir um modelo inaplicável". Uma falácia bronca e tonta, a mostrar que de facto a treta domina o discurso do tipo.

Estas asnices não primam como se sabe pela inteligência. Mas ao menos podiam disfarçar um pouco mais e não tomar os ares de prima dona já abundantemente vista.

Anónimo disse...

O pretexto das interdependências agora sublinhadas pelos avanços tecnológicos mais o não deitem fora o bebé com a água do banho.
Mas oculta-se a direcção das simpatias do próprio Keynes. Ora vamos lá ouvi-las:
"“Simpatizo com aqueles que querem minimizar, em vez de maximizar, as interdependências económicas entre as nações [ou os blocos regionais…]. Ideias, aconhecimento, ciência, hospitalidade, viagens – estas são as coisas que, pela sua natureza, devem ser internacionais. Mas deixemos que os bens sejam produzidos localmente sempre que seja razoável e conveniente, e, sobretudo, asseguremos que a finança seja nacional. No entanto, aquele que querem reduzir as interdependências devem ser lentos e cautelosos. Não se trata de arrancar a planta pela raiz, mas de orientá-la lentamente para que cresça noutra direcção.”

Uma bofetada (pragmática) nos que andam entretidos com os europeísmos estéreis e outros becos pseudo-internacionalistas.

De Keynes veja-se bem

Jose disse...

Os gurus que inspiram as Lutas 'progressistas' do século XXI em matéria de ciência económica!!!
Karl Marx 5 May 1818 – 14 March 1883)
John Maynard Keynes 5 June 1883 – 21 April 1946

Com Bruxelas aqui tão perto...e com uma economia tão miseravelmente dependente do BCE!

Anónimo disse...

Jose lá está a fazer o seu serviço cívico. Salivando contra Marx e Keynes, veja-se bem.

Põe muitos pontos de exclamação a adornar-lhe o discurso para mostrar que é coisa séria, a lembrar as velhas gaiteiras que juravam continuamente por aquela palha pela sua honra e virgindade.

Pois é. Agora o discurso argumentativo está ao nível das datas e dos obituários. Prefere a moda saída na última Hola económica. E o papagueado das merectrizes mundanas a impingir as tretas que o preenchem.



Anónimo disse...

Talvez seja esse o elo de ligação com o gozo pessoal já confessado pelo dito jose.

Mas independentemente das actividades mais ou menos solitárias do fulano temos uma má noticia para este. É que não vemos aqui a sua correcção à sua aldrabice ( ou ignorância) de que se "reconhece que só há condições objectivas para um tipo de política económica".

Desapareceu o "reconhece-se" que tentava colar ao texto e ao autor do texto.

Mas volta-se para Bruxelas e para o BCE, como suportes ao seu próprio reconhecimento. Ou seja, a via de sentido único que é a sua, foi tentada servir como sendo também dos demais. Depois de confrontado com a situação e cobardemente, em vez de o reconhecer, foge para os braços de Bruxelas e do BCE.

Como tentativa de justificar os seus qualificativos de aldrabão e ignorante , não está mesmo nada mal.

Mas a má notícia para ele é que os confirma e sublinha

Jose disse...

O disparate da politica geringonçosa mede-se pela pressinha com que o PS dá ares de nada ter a ver com a linguagem da esquerda.
O Costa safou a pele inventando cenários idiotas que nem pela metade se cumprem e espera tão só um qualquer colinho para aí se manter.

Vêm agora os acólitos e dizem que sim, apoiaram porque sim, mas sempre disseram que havia que sair do Euro e da UE, e que acreditaram que a asneira haveria de fazer esse caminho.
E que se as eleições não levam ao destino, apanha-se uma qualquer geringonça.

Anónimo disse...

Até onde vai a aldrabice e a falta de ?

Apanhado com as calças na mão foge-se para Bruxelas e para o BCE. Confrontado mais uma vez com o seu retrato foge para o colinho de Costa.

Para além da confirmação do já dito a acrescentar agora a pusilanimidade, despareceram os óbitos e os pontos de exclamação. Ficou apenas o replicar do papagueado das merectrizes mundanas ainda às voltas com a azia eleitoral