sábado, 22 de outubro de 2016

Caixas


O Negócios assinalava ontem que o BCE exigiu “autonomia salarial na Caixa”, decorrendo também a política remuneratória da CGD, que conduziu a um salário de 423 mil euros anuais brutos e brutais para António Domingues, da “lógica privada da capitalização que evitou regras das ajudas de Estado”.

É sempre assim neste regime europeu: os cidadãos nacionais pagam, mas o soberano pós-democrático europeu manda. A capitalização é pública, mas tem de fingir que é como se fosse privada, ou seja, de “mercado”, uma ficção no sector financeiro actual ou uma realidade no passado recente, conduzindo à maior crise desde a Grande Depressão, sendo também grandemente responsável pelo brutal aumento das desigualdades associado.

Ainda não saímos da crise e o “sector privado”, que conduziu ao desastre, é a referência também para o governo ao nível das remunerações. Um sinal de que Caixa continuará a não ser banco, ou seja, o banco público, orientado por uma lógica de serviço público, de que precisamos. Graças às perversas regras europeias, tem de continuar a comportar-se como se fosse um banco privado.

Entretanto, a abismal desigualdade salarial em Portugal também reflete as desigualdades de poder entre o topo e a base da pirâmide empresarial, refletindo, por exemplo, o enfraquecimento dos freios e contrapesos sindicais. Os poderes públicos demitem-se de corrigir essa situação, prescindindo de usar os instrumentos ao seu dispor, incluindo a propriedade. Basta pensar que jamais passou pela cabeça de alguém ter representantes dos trabalhadores, dos consumidores e de outras partes interessadas no novo conselho de administração. E mesmo que passasse, o BCE jamais permitiria veleidades de democracia económica. No topo só são admitidas mudanças dentro da mesma elite de sempre.

A alimentar a “vergonha”, para usar a apta expressão de uma militante socialista justamente indignada num debate com António Costa, está uma ideologia de celebração dos grandes homens da gestão, que por definição merecem tudo o que obtêm. Os trabalhadores que fazem as empresas são reduzidos a peões num xadrez. É claro que quando há crises, os grandes homens fazem-se pequenos, não sabem nada de nada. Pouco importa, já ganharam o suficiente. Ideologia é também o outro nome para a ofuscação do que realmente se passa e do que teria de se passar: limitação dos salários do topo, incluindo por via de uma taxa marginal de imposto a convergir para os 100%, fixando um salário máximo, já que também há um salário mínimo.

5 comentários:

Geringonço disse...

Passados anos depois de que o Capitalismo quase colapsou (sendo salvo pelos desgraçados do costume...) os banqueiros e os seus cúmplices burocratas nada aprenderam, o regabofe continua!

O quase colapso do capitalismo em 2008 podia ter servido aos supostos democratas servos do interesse público para empreenderem uma série de políticas amigas do trabalhador e da população em geral em vez disso juntaram-se aos banqueiros para empreenderem o grande saque aos trabalhadores e população em geral!!

António Costa mente quando defende que tinha que pagar este balúrdio a um “especialista”!
É mentira descarada!
Estes CEOs pagos milionáriamente são os mesmos que arrasaram os bancos que governavam!


“Os trabalhadores que fazem as empresas são reduzidos a peões num xadrez.”

Nem peões porque subentende que os peões ainda têm alguma vida, nesta fase do capitalismo global o que o capitalista/ oligarca quer é que o trabalhador seja reduzido a mercadoria inerte! Os direitos do trabalhador equivalem aos direitos de um calhau!!

Anónimo disse...

Mais uma vez um excelente post

Geringonço disse...

Portugal não é um país “intervencionado” como outros países pobretanas...
Portugal, um país conhecido por salários e reformas médios elevadíssimos! De fazer inveja ao resto do mundo...
Portugal, um país onde centenas de milhar emigram, não por falta de recursos económicos, mas porque querem sair da zona da conforto e querem sujeitar-se às condições degradantes de outros países pobres como a Suécia e afins…

Ainda bem que podemos pagar fortunas aos nossos banqueiros e CEOs, é sinal que somos um país avançadíssimo!

De forma a celebrar a nossa prosperidade colectiva sugiro a construção de mais 10 estádios de futebol, mas agora todos no interior (porque os do litoral estão a abarrotar...) e todos com estação TGV e aeroporto ao lado!

Anónimo disse...

Aqui há 10 anos atrás a Caixa Geral de Depósitos era um colosso financeiro , agora não passa de um banco em dificuldades como todos os bancos portugueses , e não só. Este Governo dirigido pela instituição autocrática que é a União Europeia nada fez nada para alterar esta situação , limitou-se apenas a aumentar de forma altamente acentuada os vencimentos dos membros do concelho de administração.
Vamos estar atentos e ver o que vai acontecer , mas podemos já tirar uma ilação vão surgir acontecimentos muito preocupantes.

Anónimo disse...

O Governo continua a não dizer o que pretende fazer à Caixa Geral de Depósitos , "Está numa de depois logo se vê " , deixa passar o tempo sem saber o que fazer.Está preso da autocracia de Bruxelas e do BCE.´E possível manter esta situação por muito tempo ?