segunda-feira, 8 de março de 2010

Efeitos perversos dos programas de estabilização sem crescimento?

Sócrates gosta muito de referir Paul Krugman. Aconselho-o a ler esta curta nota. E aos economistas do medo de Belém, concentrados na SEDES, também. Pois é: o somatório dos programas europeus, ditos de estabilização, em que toda a gente procura uma saída deflacionária pelas exportações, pode bem ser a contracção do mercado interno europeu e um resultado perverso: as exportações não arrancam para ninguém. No cenário do PEC nacional esta é a rubrica que mais cresce, em contraste com a quase estagnação da procura interna nacional. Para esta quase estagnação muito contribui o decréscimo do consumo público, em linha com a perda de poder de compra dos assalariados que é preconizada. A procura salarial, uma das coisas que preocupa quem investe, não arranca: na UE, estão todos a planear a mesma receita, até os alemães. Depois é trabalhar para reforçar os mecanismos disciplinares do capitalismo, através de novas alterações ao subsídio de desemprego e do congelamento total, até 2013, de rubricas como o rendimento social de inserção, um dos mais somíticos da OCDE: num país tão desigual, nunca podem ser os mais pobres a pagar a crise nas políticas, visto que já a pagam pela sua situação social. Ainda para mais quando o governo, em coerência com esta política com escala europeia, prevê a continuação do desemprego acima dos 9%, o que ajuda à contenção dos salários, claro. Economia do medo. O resultado para as contas públicas? Não sei, mas a oscilação entre a estagnação económica e a recessão não costuma fazer bem às receitas e às despesas. Há algumas alterações positivas, que há muito eram exigidas pelos peritos fiscais e pela esquerda socialista: criação de um novo escalão de IRS, taxação das mais-valias bolsistas e contenção dos benefícios fiscais (aqui os detalhes contam...). Importante, mas nada que compense o resto e a continuação da predação dos recursos públicos para engordar grupos económicos vorazes: 6 mil milhões de euros em novas privatizações. O ciclo vicioso continua.

[Publicado, em simultâneo, no Arrastão]

3 comentários:

Anónimo disse...

Qual a alternativa ao capitalismo sem freios? Não entendo nada disto: contenção salarial não acarreta, sobretudo quando os parceiros comerciais apostam na mesma receita, redução da procura? Então quem vai comprar a Portugal se Alemanha , França etc, já para não falar na Espanha, estão a tomar medidas de contenção salarial? Ou isto só lá vai com um grande sobressalto(Guerra?)?? Há quem diga..

maria povo disse...

E mais uma vez se vai "matar a galinha dos ovos de ouro", privatizando.

E para quando a JUSTIÇA FISCAL, relativamente ao pagamento do IRC IGUAL para para os BANCOS pois pagam irc por metade das restantes empresas???????

Os (des)governantes falam que não sobem os impostos, grande mentira e são os mesmos de sempre a ficarem mais pobres; pois que seria bom AUMENTAR os impostos aos Bancos!!!!

Só estou a falar em JUSTIÇA FISCAL!!!

Sabe-se que os portugueses estão com sérios problemas mentais... pudera!!!! a sorte dos (des)governantes é que metade da população anda a "quimicos"!! há que os manter "tranquilos e calminhos" porque se pensam muito na "vidinha" ainda se podem revoltar!!!! REVOLUÇÃO JÁ!!!!

Dias disse...

Tanto esforço de gerações na criação de bens públicos, para nada. De um momento para o outro, mais privatizações. À medida do buraco que foi cavado. E mais cortes generalizados nos salários. O Rectângulo vai sendo literalmente apropriado por uma pequena minoria (portugueses?).
Para a maioria é o convite ao adeus ou vai-te embora...
Perante a impunidade da fraude, o sistema liberal triunfa. Enquanto pessoas distraídas e cordatas vão engrossando a fila à porta da segurança social, a cada dia que passa.