Se estivéssemos numa democracia madura, como a espanhola, a francesa, a italiana, a sueca, a norueguesa, a dinamarquesa ou a finlandesa, etc., o acordo parlamentar entre um PS com maioria relativa e o BE seria perfeitamente plausível. Numa tal democracia e em abstracto, seria talvez desejável incorporar também a CDU (mesmo que aritmeticamente dispensável) para que não ficasse a monopolizar o protesto…
A improbabilidade de um tal acordo não radica nas distâncias ideológicas que, embora grandes, não são muito diferentes das que se verificam nesses outros países em partidos congéneres. E mesmo em políticas de mais difícil aproximação (Europa e política externa), a Suécia fornece o exemplo: deixar essas políticas fora do acordo.
O problema é que às lideranças de cada um dos três partidos parece faltar-lhes a atitude compromissória necessária. Esta atitude não é congruente com a vontade maioritária dos seus eleitores (daí, provavelmente, a brutal queda do BE). Se o veredicto popular for claro nesta matéria, creio que os que não estiverem à sua altura poderão ser fortemente penalizados em próximas eleições.
Publicado no Diário Económico, 25/9/2009, no contexto de um dossiê especial sobre as eleições.
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9 comentários:
Explique-me isto:
O Bloco de Esquerda subiu, nestes últimos anos, à custa de uma oposição (à esquerda) às políticas de direita do PS. Basicamente, o BE foi buscar votos a pessoas que se sentiram traídas pelo PS (que de esquerda nada tem, insisto). Agora, imaginemos que o BE se coliga com PS para formar governo. O que é que pensarão as pessoas que votaram no BE? Que ele, também, por seu turno as traiu? E que sentido faz o BE se coligar com um partido - o PS - que nestes últimos quatro anos tudo tem feito para afastar qualquer solução de esquerda?
Quando vejo propostas como a sua penso se elas não estarão num esquema de pensamento limitado: o de que há partidos que naturalmemte têm direito ao poder, e que quando não lhes calha uma maioria absoluta, tem que vir algum parolo servir de bengala - neste caso o BE - para que os ungidos pela vontade divina governem sem os incovenientes de ter que prestar contas a alguém . Mesmo que o nosso parolo tome o rsico de se queimar e de arrumar de vez com alternativas de governação àquelas (medíocres) que PS e PSD propõem.
André,
O veredicto popular é claro nesta matéria: é possível e sobretudo é desejável, um governo de Esquerda com PS+BE.
"If you pay peanuts, you get monkeys"... a nossa democracia é madura e nada devemos a Espanha ou aos países nórdicos. Somos diferentes deles, somos Portugueses! Não menosprezes o voto de um Português, até porque em Portugal ele conta muito mais do que todos os votos Suecos... na Suécia!
O problema é que em Política, hoje em dia, há um deficit de CORAGEM : ninguém arrisca nada !
Onde está o ADN revolucionário do BE?!?... é agora que ele faz sentido!!!
Abraço,
Miguel
Qual brutal queda do Bloco? Eu só tenho visto o bloco a subir.
Francisco Louçã e Jerónimo de Sousa creio que dizem, e bem, que não faz sentido falar em coligação para que se continue uma política económica e social que não procura, entre outras coisas, o pleno emprego e a dimininuição das desigualdades sociais, que não perceba a necessidade da existência de serviços públicos de saúde e de educação tendencialmente gratuitos (o que implicaria terminar a semi-privatização das universidades e a alteração da lei de financiamento do ensino superior assente em propinas).
Neste sentido, e para legitimar as posições quer do PCP e do BE - de aceitação hipotética / condicionada de uma coligação a políticas concretas - o que seria de esperar, era que cada um destes partidos enunciasse quais os pontos programáticos essenciais para que aceitassem integrar um governo.
Ora, até agora, nunca vimos nem da parte do PS, nem da CDU ou do BE nenhuma explicitação destes pontos programáticos mínimos - em política económica, educativa, cultural, de saúde - e que teriam necessariamente de ser pensados como pontos de partida para um entendimento à esquerda.
Creio que, se das eleições de domingo resultarem, à esquerda do PS, dois grupos parlamentares com um total de 30 a 40 deputados, esses tais princípios efectivos de governação à esquerda - no mínimo entre PCP e BE - terão de ser desenhados. Quanto ao PS, se essas movimentações à esquerda se verificassem, ele também teria nessa altura de reagir.
Vital Moreira apresentou a solução para quem deseja uma coligação PS-BE-CDU - ver aqui!
Joaquim Pinto da Silva disse...
Contesto a existência de uma deriva neoliberal em Portugal, porque ... nunca a houve liberal sequer. Nós não estamos nos Estados Unidos, meus amigos. Pelo contrário, é o aparelho de Estado assaltado pela partidocracia que é o principal culpado da situação do país. A cleptocracia partidária é quem tem na mão as regras económicas que nos gerem. O inimigo do desenvolvimento em Portugal, neste momento, está instalado no governo central e nas autarquias.
Como defensor da liberdade e do socialismo (por esta ordem, que fique claro) creio que eliminar esta treta de que só porque se reforça o Estado (ou se dizem de esquerda, que afinal é o mesmo) o país melhorará... é mentira. Prefiro, de longe, para que o combate fosse claro e igual, ter um capitalismo claro e interessado (como é sua essência) do que esta coisa de ter uma salgalhada, uma mistura entre privado/Estado em que o inimigo se esconde e beneficia da divisão de forças da gente séria, solidária e pela liberdade. Não há neo-liberalismo nenhum em Portugal! Há, isso sim, demissão do papel regulador, limitador e distributivo do Estado em favor do geral para direccioná-lo em favor dos interesses onde os partidos estão entranhados, e por absoluta responsabilidade dos elementos afectos a esses partidos que têm andado pelo poder. Isso quer dizer que, em termos económicos estamos mais perto dum capitalismo de Estado do que dum liberalismo qualquer.
Em suma, para ser mais claro, prefiro, mas de longe!, um Belmiro de Azevedo que procura (e é seu dever) aumentar os seus negócios e lucros e a quem um Estado sério e social pode tributar e limitar nos seus aspectos "interesseiros" que esta mixórdia onde as grandes mandonas em Portugal, as EDPês,, CGDês, GALPes, etc, e as empresas municipais, ou as transmutadas "privadas" tipo Mota-Engil, fazem o que lhes apetece.
Com amizade
A André Freire não me deixa de supreender com as suas interpretações, no mínimo fantasistas, da política portuguesa. As "pérolas" que encontrei neste post são:
"E mesmo em políticas de mais difícil aproximação (Europa e política externa)(...)"
Acha mesmo que no que PS e BE mais diferem é na política externa, e que tal seria o maior escolho a um entendimento entre os dois partidos?! Na economia, na fiscalidade, na educação, vê-os mais próximos?!... E, mesmo que assim fosse, a dificuldade de entendimento entre dois partidos relativamente a um dado assunto depende, não só da sua distância nesse assunto, mas também da importância relativa que líderes e apoiantes dos partidos atribuírem a tal assunto. Dito de outra maneira, a grande maioria dos apoiantes do PS e do BE está-se borrifando para a presença portuguesa no Afeganistão e na NATO, ou para o Tratado de Lisboa, seja o que fôr que se decida adoptar, a posição do BE ou do PS. No entanto, os apoiantes dos 2 partidos ficarão seriamente aborrecidos se o partido em que votaram ceder nem que seja um pouco naquilo que prometeu em termos de economia, fiscalidade e educação.
"Esta atitude não é congruente com a vontade maioritária dos seus eleitores (daí, provavelmente, a brutal queda do BE)."
Tem algum dado estatístico que assim comprove? Olhe, pode começar por mim: sou apoiante do BE, e não, não quero que o BE tenha uma "atitude compromissória necessária" de modo a que Sócrates possa de novo ser PM. Quero que o BE "venda bem caro" o seu apoio, extraindo o maior número de concessões possíveis do PS. Senão, passo a votar CDU. E pode crer que se o BE não fizer assim, terá metade dos votos nas próximas eleições. Por outro lado, a "brutal queda" do BE nas sondagens, pode nem ser real pois as oscilações verificadas (que de qualquer modo estão muito longe de ser grandes) estão dentro dos intervalos de incerteza. Olhe, não sou politólogo, mas diria que mais provável do que alguns eleitores terem mudado de voto do BE para o PS porque o primeiro (mas não o segundo?...) não quer-se coligar, é esses eleitores eventualmente terem mudado o seu sentido de voto com receio duma vitória do PSD, que parecia possível na semana passada. Há um meio de verificar quem tem razão: se fôr eu, então a votação no PS vai ficar abaixo dos 38% que as últimas sondagens lhe dão, por via do "refluxo" para o BE e CDU do voto útil, "voltando" a colocar a votação do BE em pelo menos 10%.
Eu, por exemplo, sempre me considerei Social Democrata, e por isso, jovem que era votei há bastantes anos no PSD. Digamos que tinha mais que ver com identificação sociológica do que politica propriamente.
Hoje não hesito em votar BE.
Porque defende coisas que tenho como boas, e portanto é um voto de convicção, e porque acredito que a pressão sobre o PS deve ser efectuada à esquerda, porque só assim haverá hipotese de se caminhar para uma clarificação dos campos politicos.
Um Sócrates forçado a negociar é um Sócrates derrotado. Se preferir negociar com o CDS (ou com o PSD), isso adensará o descontentamento da conformada ala esquerda do partido, que nao terá o poder nem verá reconhecida a razão.
Se negociar à esquerda, será sempre uma capitulação. Melhor para todos, acredito. Mas uma derrota pessoal de Sócrates, face ao país e ao seu partido.
Daí poderá nascer um melhor PS, ou caso seja impossivel, uma melhor esquerda, reorganizada.
O Bloco de Esquerda teve mais 200 mil votos do que nas eleições anteriores e mais que duplicou o número de deputados. Explique-me lá onde raio é que foi buscar essa ideia da "brutal queda"...
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