quarta-feira, 21 de janeiro de 2009
O opaco preço da liberalização financeira
Mesmo depois de uma humilhante visita de Teixeira dos Santos à sede da agência de notação Standard and Poors em Londres - onde foi dar explicações sobre as nossas finanças públicas - esta empresa cortou a avaliação (rating) do crédito do Estado português. Como estas agências são entendidas como a melhor fonte de informação sobre a capacidade de estados e empresas em pagarem as suas dívidas, esta redução traduzir-se-á num aumento do custo (taxa de juro) da dívida pública nacional. Vai ser mais caro ao Estado português endividar-se nos mercados internacionais.
É, no entanto, incrível que estas agências continuem a ser tomados como credíveis, detendo assim um tal poder sobre os Estados. Como denuncia este artigo do economista político Gerald Epstein, agências como a Standard and Poors foram directamente responsáveis pela actual crise financeira. Ao atribuírem avaliações muito positivas ao títulos baseados em hipotecas, hoje considerados “lixo tóxico”, permitiram que os bancos disseminassem tais produtos por todo o mundo. Os títulos eram comprados por serem aparentemente seguros graças ao rating. Por outro lado, vale a pena lembrar também que os seus lucros serão tão maiores como a quantidade de produtos e títulos a avaliar (por pior que seja a informação disponível). Existe aqui um claro problema de incentivos.
No momento em que os Estados se endividam na tentativa de resolver os problemas criados, em parte, por estas agências, estas cortam, ou ameaçam cortar, a sua notação, dificultando a resposta à crise. Ora, como Epstein defende tal corte não é lógico. Se é certo que o crescente endividamento poderia fazer recear uma menor capacidade de pagamento, só através dos actuais planos maciços de investimento público podem os Estados garantir a prosperidade futura necessária ao pagamento futuro da dívida. É preciso, pois, desacreditar estas empresas e substitui-las por agências públicas internacionais, sem fins lucrativos, cujos modelos de avaliação sejam transparentes.
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6 comentários:
Aqui há uns meses andavam a gabar os fdp que conduziram o mundo a esta crise.
Nem os Estados têm de se regular por estas «agências» nem têm de fazer planos maciços de investimento público em elefantes brancos maciços.
Enfiemos a cabeça na areia... Culpemos a crise... e ignoremos o que a agência diz: falta de reformas estruturais!!!!!!
Temos o que merecemos!
A questão está mesmo nas reformas estruturais que o nosso governo não fez e nas obras que o governo quer fazer que na visão da S&P, e não só, não responderão à crise podendo mesmo agravá-la. E que dizer do empréstimo negado à CGD? Foi a S&P ou foi a enorme alavancagem financeira da instituição?
Com S&P ou sem ela, a verdade é que Portugal está hiper-endividado, prepara-se para se endividar ainda mais e as más noticias parecem não acabar por aqui... mas enfim, culpem a crise.
#. Já não percebo nada deste mundo! Segundo as contas de Robert Barro (link algures), o multiplicador keynesiano é de 0,8 em tempo de guerra e aprox. 0 em tempo de paz! Qual é que é o cenário desta vez? Mundo-Obama, que segundo o próprio gerará um valor de 1,5?! Força-Obama? "Obama's Kraft"?! Pura fé! Insanos! Impossível! Era como se o Houdini não parasse de tirar coelhos da cartola e a cartola já tivesse realmente desmaterializado (assim como os coelhos!); pura projecção halográfica!
$. Imaginemos então que a fase de ajustamento estrutural (Fase B de Kondratief) estaria perto do fim; o mundo ia dar a volta e pela primeira vez na história íamos ter um multiplicador de 1 vírgula qualquer coisa - 1,1! - mais é impossível pelas leis da físca-economia! (Kondratief nosso amigo; boa onda!) É nisto que os ladrões apostam? Então é melhor começarem a apresentar as contas, já que não querem apresentar análises custo-benefício!
##. Os economistas daqui são daqueles que gostam de contar a história da multiplicação dos pães; aliás como todos os economistas neo qualquer coisa ou não! Eu prefiro contar a história da Rainha D. Isabel que questionada pelo Rei do que é que levava no regaço lhe respondeu "São rosas senhor, são rosas"!, quando nós sabemos muito bem que não eram! Fica o símile feito, mas entendê-lo implica um pouco de dialéctica.
$$. Bem entendido, o investimento infra-estrutural que o país necessita se alguma vez quiser sair da estagnação vai sair do bolso de alguém. O que acontece é que já alguém andou a financiar uma infra-estrutura económica (de consumo-produção) nestes últimos anos que vai funcionar como um lastro (associada também à dívida que gerou) para qualquer esforço ulterior de desenvolvimento orientado para a sustentabilidade. Um país que tem 75% do seu PIB no penhor, hello... não há intelectual orgânico que no salve.
?«&/. Para não dizerem que sou obtuso, também li Keynes (ou alguém leu por mim) e a incerteza congénita dos dados económicos condiciona todo o tipo de decisão, mas isso vale tanto para as agências de Rating, como para as análises custo-benefício, como para um programa de desenvolvimento! Claro que a economia é um processo institucional e essas mesmas agências não servem um interesse económico puro, mas também o da própria dominação económica (Marx ensina). Mas a incerteza provém dos próprios dados, não da avaliação que deles é feita!! A nossa qualidade enquanto seres racionais é podermos efectivamente dispor desses dados e até certo ponto manipulá-los e moldá-los a nosso favor; se servimos um interessa de dominação certo, se servimos um interesse de desenvolvimento, certo também! Agora não podemos é fazer meio de um recurso que nos perpetua como objectos da dominação e esse hoje é o crédito ao indivíduo e aos países retardados; estamos presos na armadilha da finança e não há ONU que nos salve! Segue-se um repúdio unilateral da divida e a libertação dos sujeitos do económico e não a libertação do económico per si (sob a forma de um pensamento da economia subjectivo e sem mácula), que é isso que toda esta masturbação intelectual representa!
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