Seria interessante colocar questões como, por exemplo: quais as qualidades humanas necessárias à própria possibilidade da existência daquilo a que o jargão financeiro chama de “lixo tóxico” ou “produtos financeiros tóxicos"? Que sentimentos morais, práticas e ideias?
Não basta dissipar as responsabilidades numa rede impessoal, num imenso rizoma civilizacional, anónimo, sem origem (an-arkhê), esquecendo que há mentirosos, corruptos e ladrões (que não os de bicicletas) cujo rosto e actividades são não só conhecidas como primam, nalguns aspectos da sua existência, pelo excesso de clareza ou, melhor dizendo, de visibilidade, isto é: produzem-se como espectáculo e servem-no, com tiques rituais (encenações protocolares, cerimonial, música, discursos, etc…), às massas, ao rebanho ego-gregário (um paradoxo possibilitado pelas contradições do capitalismo).
Então, a dissipação das responsabilidades dos agentes e das suas “escolhas racionais” seria como… uma espécie de externalização de custos da consciência. Um outsourcing que, comodamente, nos livra dos rebates da dita, especialmente quando se trata do dobre de finados de uma das peças fundamentais do complexo dispositivo totalizante que é o capitalismo.
Para que exista “lixo tóxico” é preciso muito mais do que aquilo a que, eufemisticamente, alguém chamou de engenharia financeira criativa. É preciso um conjunto de disposições complexas e historicamente situadas, presentes em toda a parte, na família, na escola e na televisão (dos desenhos animados às telenovelas e a toda a indústria de entretenimento), nas conversas do liceu, do café e do emprego, nos jornais e na internet. Um ethos, que cedo se insinua nas nossas vidas e cujos contornos exigem a análise da génese política da razão – ou não fossem racionais as escolhas substantivas dos agentes financeiros agora caídos em desgraça…
Não basta dissipar as responsabilidades numa rede impessoal, num imenso rizoma civilizacional, anónimo, sem origem (an-arkhê), esquecendo que há mentirosos, corruptos e ladrões (que não os de bicicletas) cujo rosto e actividades são não só conhecidas como primam, nalguns aspectos da sua existência, pelo excesso de clareza ou, melhor dizendo, de visibilidade, isto é: produzem-se como espectáculo e servem-no, com tiques rituais (encenações protocolares, cerimonial, música, discursos, etc…), às massas, ao rebanho ego-gregário (um paradoxo possibilitado pelas contradições do capitalismo).
Então, a dissipação das responsabilidades dos agentes e das suas “escolhas racionais” seria como… uma espécie de externalização de custos da consciência. Um outsourcing que, comodamente, nos livra dos rebates da dita, especialmente quando se trata do dobre de finados de uma das peças fundamentais do complexo dispositivo totalizante que é o capitalismo.
Para que exista “lixo tóxico” é preciso muito mais do que aquilo a que, eufemisticamente, alguém chamou de engenharia financeira criativa. É preciso um conjunto de disposições complexas e historicamente situadas, presentes em toda a parte, na família, na escola e na televisão (dos desenhos animados às telenovelas e a toda a indústria de entretenimento), nas conversas do liceu, do café e do emprego, nos jornais e na internet. Um ethos, que cedo se insinua nas nossas vidas e cujos contornos exigem a análise da génese política da razão – ou não fossem racionais as escolhas substantivas dos agentes financeiros agora caídos em desgraça…
8 comentários:
Parabéns, excelente análise, estou a 100% de acordo. Vou adicionar estes ladrões (que descubro graças a diário 2) à lista de favoritos do de-grau.
Grandessíssimo post!
Brilhante análise! Já era hora de se falar sobre isto.
"Que sentimentos morais, práticas e ideias?"
Os que os neoliberais e os "vencedores do Muro de Berlim" nos andam a impingir, sobretudo desde os tempos do Reagan e Thatcher, e que inevitávelmente contribuem para o ambiente em que estas coisas se tornam "naturais" e mesmo, em certos meios, socialmente aceitáveis.
Ladrões de bicicletas sim! bicicletas que permitem a sobrevivência de pessoas, que lhes são indispensáveis para chegar ao trabalho.
Concordo com o post. Mas qual seria a sua sugestão para o problema?
É certo que foi com Reagan e Tatcher que o capitalismo entrou em delírio; e que os meios digitais possibilitaram a aceleração imensa da velocidade de rotação do capital... mas há um ethos, um conjunto disseminado de comportamentos que vem de trás, e antes dele outros ainda, e outros e outros... Dificilmente vemos a floresta, por causa das árvores. A competição (e a ganância que lhe subjaz, juntamente com a agressividade, etc...)entendo-a como cancro civilizacional. E não há soluções, só novos problemas, mas parece-me fundamental uma educação pública de qualidade, tendencialmente gratuita e assente em valores fraternos orientados para a cooperação e para a tolerância; o mesmo para a saúde; desmantelamento global da indústria de armamento. comércio justo; taxação de todas as transacções financeiras; Eliminar as causas estruturais da pobreza; mecanismos eficazes contra a corrupção; regeneração e preservação dos ecosistemas; soberania alimentar... Enfim...
A cada um é ainda permitido sonhar...
Sonhemos juntos! Obrigado pelo comentário.
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