Desde que os vistos gold foram
eliminados, o assunto parecia arrumado. No entanto, a direita trouxe-o de volta
ao debate público. António Leitão Amaro, vice-presidente do PSD, admitiu
reintroduzir os vistos gold e “melhorar mecanismos”. Amaro criticou a revogação
deste regime e dos benefícios fiscais para residentes não-habituais, uma
decisão que considerou “um absurdo e um disparate” por “pôr em causa a proteção
da confiança dos investidores estrangeiros”. Em relação aos vistos gold, o
dirigente do PSD diz que “podia e pode haver um melhoramento dos mecanismos
para o dirigir para apoiar na satisfação de falhas do mercado”. O CH propõe
o regresso dos vistos gold no seu programa eleitoral. Como os partidos de
direita querem recuperar este regime, convém revisitar a sua história.
O regime dos vistos gold foi
criado em 2012, durante o último governo da coligação PSD-CDS, para atrair
capital estrangeiro para o país. Mas apesar das promessas de que estes vistos
serviriam para criar emprego no país, a verdade é que isso nunca
se verificou: só 22 das 11628 autorizações de residência para investimento
concedidas envolveram a criação de postos de trabalho. Ou seja, apenas 0,19%
(!) do total. A esmagadora maioria dos vistos gold foi atribuída para
investimento imobiliário.
Os problemas não ficam por aqui.
Além da pressão sobre os preços das casas, o regime que a AD (coligação entre o
PSD, o CDS e o PPM) quer recuperar está associado a riscos de corrupção. Em
2019, um relatório apresentado
pela Comissão Europeia sobre os regimes de autorização de residência ou
cidadania para investimento já apontava os "riscos relacionados com a
segurança, lavagem de dinheiro, corrupção e fuga aos impostos" associados
a estes esquemas.
Na avaliação detalhada dos
regimes de cada país (consultável aqui), a Comissão criticou
Portugal pelo facto de não realizar controlos sobre a origem do dinheiro dos
candidatos nem monitorizar a implementação da medida para detetar possíveis
abusos. A Comissão apontava ainda outros detalhes problemáticos, como o facto
de a lei só exigir que os investidores estivessem presentes no país em 7 dias
por ano para terem direito ao visto.
Tendo em conta que PSD e CDS
delinearam estes critérios quando estavam no governo, insistiram na manutenção
do regime e votaram contra a sua revogação sempre que foi proposta no
parlamento, é difícil acreditar na promessa de “melhoramento dos mecanismos”.
Também é difícil perceber que “falhas de mercado” é que podem ser resolvidas
com este regime de atração de milionários estrangeiros. O problema da habitação
é precisamente o facto da procura externa ter feito disparar os preços e ter
reorientado a construção para o segmento de luxo. Atualmente, o preço médio
pago por compradores com domicílio fiscal no estrangeiro é 43% superior
ao que é pago pelos compradores residentes no país. Alimentar a procura
especulativa não resolve nada.
A facilidade com que a direita quer conceder autorizações de residência aos mais ricos, com muito pouco controlo sobre a origem do dinheiro, contrasta com as dificuldades que a maioria dos imigrantes enfrenta neste processo e com o tratamento que recebe por parte da mesma direita. Por muito que o tente disfarçar nesta campanha, a direita só está mesmo a falar para os mais ricos.
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