segunda-feira, 4 de março de 2024

Gostamos da democracia que avança, pá

Natureza morta depois da feira (Espinheira)

Ao contrário da jornalista Liliana Borges, gosto das campanhas de que também é feita a democracia, mas na ótica do utilizador, do participante engajado. Concedo que possa ser diferente na ótica do observador só aparentemente neutro: da oportunidade de distribuir propaganda informativa à possibilidade de visitar locais mais ou menos familiares, mas com outro enquadramento.

Gosto de falar, ainda que seja fugazmente, com pessoas, sobretudo com aquelas com quem jamais falaria, de ter acesso a informação preciosa sobre o meu país, de aprender mais sobre as sombras e as luzes deste retângulo, partindo de um distrito concreto e com muito para descobrir, onde litoral e interior se cruzam, onde o mais avançado coexiste com o que fica para trás, mas, se calhar, vai à frente. O desenvolvimento é desigual e combinado, embora a revolução não seja permanente.

Gosto das bocas, das conversas profundas, dos debates, dos argumentos, da fraternidade. Gosto da clivagem real. Gosto de trocar brevemente umas ideias sobre os assuntos, num café perto de Penacova, com gente da caravana do partido socialista, de sentir o seu entusiasmo, de reciprocar com o meu, nosso. 

Gosto do sentimento de camaradagem na coligação democrática em que sou independente, dependente, na realidade, gosto de não acabar em mim mesmo. Gosto da festa igualitária da democracia, de conhecer pessoas de outras áreas, da distribuição à construção civil. Gosto de rebentar a bolha. Gosto dos rituais.

E gosto da seriedade, do trabalho a sério, de ver gente que se empenha, que dá tudo o que tem, voluntariamente, sem esperar receber nada em troca. A consciência tranquila de um empenho não basta, mas ajuda. E gosto dos que são profissionais e fazem disto vida consequente, dos reformistas práticos, dos revolucionários profissionais. Gosto dos que estão a começar e dos que já estão a acabar, da forma como se mantém uma cadeia no tempo.

Gosto da esperança produtiva, contra a realidade tantas vezes improdutiva. Gosto do otimismo da vontade. Gosto do isto vai. Gosto do nervosismo miudinho por causa de um breve discurso, de um debate, de uma intervenção, de os preparar com afinco. Gosto do esperado e do inesperado, da sugestão e da alusão. 

Este sentimento é partilhado, estou certo: queremos que avance, gostamos da democracia que avança, pá.  

1 comentário:

Henrique Chester disse...

Também gosto disso tudo, e votar em quem gosta disso. VOU VOTAR CDU