terça-feira, 5 de março de 2024

Não iludam as pessoas


Dizendo-lhes que, com um cheque-ensino na mão, vão passar a poder escolher a creche ou a escola que querem para os seus filhos. Não vão e é fácil perceber por quê. De facto, perante a aparente liberdade de escolha, os alunos vão optar pelas melhores escolas (ou que, na verdade, são consideradas como tal), gerando concentrações de procura e acabando por ser estas - e não as famílias - a escolher os alunos. Isto é, selecionando os que dão mais garantias de melhores resultados e que revelem menos dificuldades, reforçando as vantagens comparativas pré-existentes.

É nisto que dá, na prática, a peregrina ideia liberal de que o aumento da concorrência melhora o sistema no seu todo. Não melhora, antes criando condições para uma divergência cumulativa entre estabelecimentos de ensino, fomentada por dinâmicas de segregação. De facto, ao poderem escolher os seus alunos, as melhores escolas tenderão a tornar-se mais elitistas, passando as que têm piores desempenhos a concentrar alunos preteridos pelas primeiras. E como se confunde melhores escolas com escolas que têm melhores alunos, a perversão materializa-se: escolas atrativas tornar-se-ão ainda mais atrativas, para professores e alunos.

Esta ilusão da liberdade de escolha, propalada pela IL, é particularmente grave num país como Portugal, com níveis de desigualdade estruturais, onde a origem socioeconómica dos alunos se reflete de forma ainda significativa nos resultados escolares. Ou seja, sujeito às lógicas da concorrência e da segregação socio-escolar induzida pelos vouchers, o sistema fica mais pobre, mais segmentado, dificultando a superação das diferenças de partida através da escola. Mas não se espantem se virem a Iniciativa Liberal, com um topete descomunal, dizer que o «elevador social» não funciona.

1 comentário:

Anónimo disse...

Tenho visto muita aldrabice. Mas como estas da IL; do Chega e Cª é que nunca tinha ouvido.!!
Enfim, outros tempos e outros aldrabões.!!