Gamal Nasser, Sukarno, Tito, Ho Chi Minh, Kwame Nkrumah, Amílcar Cabral, Patrice Lumumba, Agostinho Neto, Salvador Allende, Nelson Mandela, Yasser Arafat, Fidel Castro, Evo Morales, Lula da Silva...
O que têm em comum estes líderes, e haveria muitos mais, do que já se chamou o Terceiro Mundo, esse grande projeto não-alinhado e derrotado, mas que continua hoje de outras formas num mundo felizmente mais multipolar (detesto a atual designação de “sul global”)?
Todos disseram, de uma forma ou outra: “pátria ou morte, venceremos”.
Todos souberam, na teoria e na prática, que patriotismo, ou nacionalismo se quiserem ser mais rigorosos, e internacionalismo estão profundamente imbricados, até pelo inimigo internacional comum: o colonialismo e o neocolonialismo, o sistema imperialista. A historiografia fala de “nacionalismo internacionalista”, precisamente.
Pensaram e ensinaram-nos a pensar no projeto de nação, como se diz no Brasil, na criação de uma vontade coletiva nacional-popular hegemónica e internacionalmente contagiante.
Há uma “esquerda” eurocêntrica, que hoje pensa como se fosse uma sucursal para progressistas do eixo Washington-Bruxelas e que quer opor internacionalismo e patriotismo. Por sinal, é a mesma “esquerda” liberal que rejeita nacionalizações, que apoia a corrida armamentista e que já soçobrou moralmente na Palestina.
Sim, estou a pensar em mais um artigo sem história, nem memória, escrito por um dirigente do Livre. É todo um programa de submissão, baseando-se, entre outras, na ignorância contumaz da história do marxismo, como se Marx tivesse alguma coisa que ver com tal programa. Confirma-se a hipótese: a imaginação historiográfica euro-liberal contemporânea de Rui Tavares causa danos intelectuais na esquerda, também por via dos seus discípulos políticos.
Na semana passada, mero exemplo revelador, assinalou-se o aniversário do derrube, em 1953, do governo nacionalista iraniano de Mohammad Mosaddegh, por um brutal golpe de Estado apoiado pelos governos britânico e norte-americano. Os seus pecados: dar direitos a quem trabalha e querer controlar a riqueza nacional, o petróleo.
A doutrina do Conselho de Segurança Nacional dos EUA era clara nessa época, tal como sublinharam Noam Chomsky e Natham Robinson, citando fontes primárias: “regimes nacionalistas, mantidos através de apelos às massas”, tinham de ser removidos. Alguns foram-no, outros não. Essa doutrina anda por aí, de golpes de Estado financeiros, como na Grécia, à destruição pura e simples do Estado, como na Líbia. E há gente que se considera progressista que aplaudiu.
A “esquerda otanizada”, sem qualquer fibra anti-imperialista, não imagina o que é viver numa situação geopoliticamente tensa de verdade. Não, não estou a pensar nas fabricações da OTAN.
Haja história, haja memória, haja pátrias.
Adenda. Texto editado, eliminando um trocadilho infeliz.
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