quinta-feira, 21 de agosto de 2025
Inesgotável?
Quem supunha que a pressão da procura do investimento imobiliário estrangeiro teria desaparecido, com as alterações introduzidas nos regimes dos Vistos Gold e Residente Não Habitual (RNH), tem razões para ficar inquieto. De acordo com o Expresso, «os fundos de investimento portugueses elegíveis para obtenção de Autorização de Residência para Investimento (ARI), ou visto gold, têm visto a procura disparar este ano», com um dos beneficiários (o 3CC Portugal Golden Income Fund), a registar no primeiro semestre um acréscimo no investimento de 1,2M€ para 16,8M€.
De facto, apesar de as alterações sugerirem uma desvinculação do investimento estrangeiro ao setor imobiliário, o efeito gerado no aquecimento da procura (e dos preços) parece manter-se. Como refere ao Expresso Sara Sousa Rebolo, da Prime Legal, «Portugal apresenta-se como um plano B para os norte-americanos que querem não só uma diversificação financeira como uma hipótese de nova residência», acrescentando que o interesse se intensificou após as eleições nos EUA, com «muitas famílias a virem para cá, já com os filhos nas escolas internacionais em Portugal».
Sabemos bem que o investimento imobiliário estrangeiro é apenas uma das novas formas de procura de habitação (a par do turismo e da procura nacional na lógica de investimento especulativo em ativos), que conferem à atual crise uma natureza distinta. Tal como sabemos que o efeito destas procuras na génese da atual crise habitacional, e na constante subida dos preços, continua a ser negligenciado no debate público, insistindo-se na ideia de que tudo se resolve, apenas, com a construção de mais casas e consequente aumento da oferta.
Bastará pensar, contudo - e uma vez reconhecido o efeito de arrastamento dos preços, decorrente do maior poder aquisitivo da procura imobiliária estrangeira -, que estamos perante uma fonte de procura potencialmente inesgotável, até ao eventual e estrepitoso rebentamento de uma bolha. Isto é, uma procura que, a manter-se, revela não só uma significativa capacidade de absorver, direta ou indiretamente, o aumento da construção como, também, de contribuir para manter os preços da habitação em patamares demasiado elevados para os rendimentos das famílias.
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