O economista Paul Krugman usa a expressão Very Serious People (Pessoas Muito Sérias) para se referir, com ironia corrosiva, a uma série de figuras que nos EUA debitam com ar muito sério um chorrilho de perniciosos e equivocados lugares comuns económico-políticos: da “fada da confiança” à insustentabilidade da segurança social, passando pela austeridade permanente.
Em Portugal, temos o nosso espaço público cheio de Pessoas Muito Sérias. A decadente SEDES é um dos seus centros. Agora é liderada por um “liberal de esquerda”, o que em Portugal é nome de código para Pessoa Muito Séria do Bloco Central, naturalmente anti-socialista e que milita no PS.
Há dias, ouvi então Álvaro Beleza por breves instantes num programa de e para Pessoas Muito Sérias chamado Negócios da Semana a dizer que o liberal de esquerda está sempre certo, porque reconhece que o Estado tem de intervir onde é necessário, o que me pareceu uma ideia de uma seriedade tão profunda que não aguentei e tive logo de mudar de canal.
Hoje repete, em entrevista ao Público, que costuma dar palco a estas Pessoas Muito Sérias, o novo mantra da “reindustrialização”, na linha marcelista.
Com que instrumentos? Aparentemente com instrumentos europeus, está-se mesmo a ver. Trancados numa moeda forte, com as seletivas regras do mercado interno, com a Alemanha a concentrar sozinha metade do total de apoios à economia na UE em tempos pandémicos, esta é uma ideia mesmo muito séria.
Dado que Beleza acaba na entrevista por tomar por referência séria o modelo low cost da irlandesa Ryanair, de resto como a actual Ministra do Trabalho já o tinha feito em visitas de cortesia à Irlanda, é caso para dizer que os pouco sérios trabalhadores portugueses é que terão de continuar a aguentar.
Seja como for, a reindustrialização é uma ideia que vem do centro e que agora pode fazer parte da sabedoria convencional para Pessoas Muito Sérias do extremo-centro pós-industrial numa periferia sem instrumentos de política, juntando-se ao Euro, à “partilha de soberania”, às privatizações, à austeridade expansionista ou às parcerias público-privadas, outras tantas ideias muito sérias.
Tudo é possível.
Vá lá, façam força, as Pessoas Muito Sérias, naturalmente anti-populistas ou lá o que é, continuarão a gemer em organizações como a SEDES.
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13 comentários:
A expressão "pessoas muito sérias" pretende, antes de mais, diferenciar os "spin doctors" muito sérios da direita e esquerda-3-via da esquerda "insensata", como um jornaleiro da rtp, chamado daniel-qualquer-coisa chamava às propostas do BE.
O status-quo será sustentável enquanto os "insensatos" não perceberem que não são eles a minoria de malucos, mas sim as "pessoas muito sérias".
«periferia sem instrumentos de política»
Sempre me questiono sobre o facto de esta frase surgir a propósito de tudo que seja economia e até para a agora badalada reindustrialização.
Olhando o que se passa à minha volta sempre encontro a indústria a criar-se e desenvolver-se com capital, trabalho e uma qualquer boa ideia de levar um produto ao mercado.
Como a UE é um mercado único, a periferia só pode lamentar-se da distância aos mercados e da qualidade ou quantidade dos factores de que dispõe: capital, trabalho e ideias.
Como da acção política não são de esperar ideias de como levar produtos ao mercado, a dúvida é saber-se que instrumentos faltam para que a acção política promova que capital e trabalho possam mobilizar-se nesse esforço de reindustrialização.
Um excelente e corrosivo texto de João Rodrigues tem como resposta esta coisa indizível aí em cima retratada.
Jose cita o seu umbigo como exemplo do que quer que seja. Uma espécie de promotor de espectáculos, tendo como modelo os espectáculos que vê à sua volta.
O pior é que os vemos todos os dias. E estas pseudo-odes â mão invisível dos mercados cheiram tão mal como as "pessoas muito sérias" denunciadas por JR
(Quanto a quem fala em "a expressão "pessoas muito sérias" pretende, antes de mais, diferenciar os "spin doctors"...blablabla...malucos e insensatos
Um conselho. É ler o texto de novo em vez de vir debitar essas vacuidades que de tão tontas fazem lembrar as apostas perdidas do outro tonto)
Como se fosse possível re-industrializar um bairro, este, inserido como está no todo já industrializado que é a dita União Europeia. Contentem-se como uma AutoEuropa que define como bem lhe apetece o valor dos "components" e define o valor dos "assemblados". Nada mau.
A reindustrialização é uma treta, mas não faltam bons exemplos de sucesso. O estado é ineficaz e o capital empreendedor, mas o primeiro é que precisa de carregar o segundo. Faltou dizer que a desvalorização cambial seria má, mas a interna é desta que resulta.
Nunca deixe de ser sério, Jose,
Como sempre, leio com agrado e bom grau de identificação as notas de João Rodrigues, mas esta sabe-me a pouco. Não está a criticar mais o mensageiro do que a mensagem?
Julgo que é mesmo necessário reindustrializar. A questão é saber que reindustrialização, numa perspetiva de esquerda e com os constrangimentos de uma lógica europeia contrária. Fico à espera, com muita expetativa, que João Rodrigues diga mais sobre isto.
Pois, olhe a mim apetece-me logo mudar de canal quando ouço algumas pessoas ligadas ao PCP a falar de 'instrumentos' que se aplicados nos colocariam assim a modos que ao nível da Venezuela, onde 80% das pessoas vivem abaixo do nível de pobreza.
Quando alguém critica é sempre bom perguntar qual a alternativa que defende e quais os seus resultados quando aplicados noutras paragens... E os resultados são bastante piores que o nosso modelo vigente...
E quanto à 'reindustrialização', aconselha-se essas pessoas muito sérias, assim como as pós-keynesianas da Esquerda, a lerem com atenção o que o Ricardo Paes Mamede realmente escreveu em 2013. É que ele, felizmente, parece que não ficou preso ao modelo falido dos anos 70, o tal que se baseava nas 'cheap commodities'...
Provavelmente, ele também sabe que se 'reindustrializarmos' ou lá o que é, ou a 'reindustrialização' será baseada num modelo de baixos salários, ou será baseada nessa coisa muito reacionária chamada automatização e sempre quero ver, como diria Henry Ford, como é que o PCP vai conseguir sindicalizar os robots.
Sim, eu conheço a resposta do sindicalista, mas hoje em dia ela nem sequer serve, outros países comprarão os nossos produtos. É isso que os alemães fazem, afinal...
Quanto ao uso do termo 'malucos', acho que é mais ou menos isso que Krugman diz dos pós-keynesianos, não é? Livra, antes ser chamado de 'pessoa muito séria'...
Jaime Santos ainda não reparou que quem anda aqui a chamar malucos aos demais é o seu companheiro neoliberal, um tipo de nome João Pimentel Ferreira, de muitos nickname
Usado para estás boçalidades a usar pela pessoa muito séria que é o Jaime Santos. Que enfia a carapuça com esta velocidade
Vou votar PC. Quando encontro um aldrabão da qualidade do Jaime Santos a fazer este escabeche ê porque deve ter razão
Sempre a mesma metralha da parte de Jaime Santos. Agonia e enjoa
E, no entanto, cá continuo contente com o meu Kia, que só existe graças à industrialização proteccionista, bem como vários componentes do equipamento onde acedo ao blogue. O que eles não sabiam é que deviam ter antes criado call-centers e turismo barato, seguindo o modelo do nosso prefeta DeLors, paz à sua alma.
Li este texto de João Rodrigues e prognostiquei que uma das Pessoas Muito Sérias, em uso também neste blog, ia ficar agitado.
Não seria preciso esperar muito para ver JS irromper por aqui.Desta forma aí em cima patente.
E infelizmente desonesta.
Pela enésima vez vem com o faduncho da crítica ter que ser acompanhada de alternativa. Como se sabe tal presunção é falsa. Porque o é no caso concreto,já que este blog e este autor em particular, têm apresentado alternativas e outros caminhos. Não são é do agrado de JS. Para ele, nem sequer Pedro Nuno Santos deve contar, Sanders é um "jarreta" mas Macron é o deus na terra e na banca.
Por outro, porque a crítica não obriga a qualquer outra atitude nem para a mitigar, nem para a empolar. Era o que faltava que um crítico de cinema, quando apreciasse uma obra qualquer, para além do seu olhar de cinéfilo, começasse a impingir-nos que no plano x, a câmara deveria ter abordado a cena pelo lado esquerdo do protagonista
Este é mesmo mais um sinal da decadência intelectual das ditas elites, assim ao género de JS. Já nem aguentam um olhar crítico sobre a realidade que defendem.E usam estes pretextos intelectualmente manhosos, mas que só lhes desvenda impotência
Descanse todavia JS sobre a questão das alternativas, porque sempre as há. E a História tem mostrado isso ao longo dos séculos. Quando o absolutismo agonizante pregava pela distribuição de brioches em vez de pão, houve quem tivesse decidido avançar, rompendo com um mundo caduco e podre.E hoje só a extrema-direita e as vizinhanças,com ou sem algumas pessoas muito sérias, ousam questionar a importância decisiva da Revolução Francesa para o mundo que dela saiu.
Muito gostaria de ter estado numa reunião de preparação do 25 de Abril e ter visto JS, teimoso e irredutível, a inquirir, antes de qualquer avanço contra o Regime, pelos resultados duma Revolução do género "aplicada noutras paragens"
Mas a razão de se atribuir uma desonestidade real a este comentário de JS não acaba aqui
Diz JS:
"Pois, olhe a mim apetece-me logo mudar de canal quando ouço algumas pessoas ligadas ao PCP a falar de 'instrumentos' que se aplicados nos colocariam assim a modos que ao nível da Venezuela, onde 80% das pessoas vivem abaixo do nível de pobreza".
As artes divinatórias de JS são um portento. Para quem é tão rígido na apreciação dos factos e pede um sinal concreto das consequências futuras dos passos presentes, vir fazer afirmações deste teor, sobre as consequências presentes de possíveis actos ocorridos no passado, é de bruxo. Daquele género de bruxos em que a cartilha ideológica condiciona as previsões e os tiques. Um daqueles bruxos qualificados em Pessoa Muito Séria, ou melhor, Bruxo muito sério.
E o toque sobre a Venezuela vem confirmar tudo o já dito. JS é um excelente protótipo do que se fala por aqui
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