quarta-feira, 24 de junho de 2020

Da agilidade


No caso das empresas públicas de transporte, as decisões puderam ser tomadas de forma mais imediata, porque, por exemplo, não houve recurso a layoffs. No caso das empresas privadas, o problema é mais delicado porque muitas delas recorreram a esse mecanismo de suspensão de actividade e, mesmo que lhes fosse solicitado, teriam dificuldade em reforçar a oferta, por exemplo, por falta de motoristas.

Esta notícia do Público, da autoria de Luísa Pinto, assinala um problema que não está circunscrito a este sector tão crucial para a vida da comunidade: quando as empresas privadas estão envolvidas em áreas estratégicas há mais entraves a uma resposta pública pronta e coordenada e o interesse público corre sempre mais riscos. O Estado, nas suas várias escalas, torna-se menos ágil e capaz. E o povo é que paga.

Desde a década de noventa, quando assumiu funções governativas, que António Costa aceitou o essencial do discurso fraudulento da Terceira Via, o que dizia que o Estado social-democrata não tinha de controlar sectores estratégicos. Era a metáfora do peso, do Estado pesado.

O Primeiro-Ministro tem agora pateticamente de apelar ao “sentido de interesse nacional” das empresas privadas, perante transportes sobrelotados em plena pandemia. As empresas buscam o lucro não o interesse nacional. E este é só um exemplo de um processo mais vasto de erosão da governação, dado que cresce o sentimento de impotência.

Em contexto de incerteza radical, o controlo público de bens e serviços essenciais, onde se inclui também a banca, como é evidente, é fundamental para uma resposta adequada e coordenada, capaz de evitar a catástrofe. Até os liberais da The Economist reconhecem isto em modo excepcional, afiançando que a canalização do crédito é mais fácil quando o Estado controla os bancos, como é mais fácil e rápida a mobilização de recursos na área da saúde quando há um serviço nacional da dita. Ou quando há um robusto sector público de transportes.

Um Estado que perdeu instrumentos de política económica, também graças às privatizações, é menos ágil e rápido e logo menos confiável em demasiadas áreas. E a europeização obrigou a tratar muito do que é público como se fosse privado.

Aqui reside o segredo da rapidíssima erosão futura da popularidade de António Costa. As suas habilidades táticas não substituem a falta de consistência ideológica e de pensamento estratégico e muito menos a falta de agilidade de um Estado que perdeu soberania.

13 comentários:

Jose disse...

«...porque, por exemplo, não houve recurso a layoffs.»

Usando o dinheiro dos outros tudo se simplifica.

Jaime Santos disse...

Contrariamente ao que pensa, João Rodrigues, António Costa tem consistência ideológica, apesar do pragmatismo que o caracteriza. Não quer um sector empresarial do Estado que se amarre à volta do pescoço deste Estado, qual albatroz e o arraste para o fundo...

O João Rodrigues não é ingénuo para acreditar que lá porque as empresas são públicas, os gestores e trabalhadores não andam lá dentro a tratar da sua vidinha, pois não?

A mistura de incompetência e corrupção que caracterizou a gestão da CGD é um belíssimo exemplo disso. Para o paroxismo da falência total, é naturalmente preciso olhar para a URSS...

E depois há aquela péssima tendência de querer usar empresas que concorrem em situação de mercado em 'benefício do interesse nacional' e do planeamento do 'Estado Estratega'.

Assim a modos como manter ligações aéreas que geram prejuízo, em benefício da diaspora, ou manter agências bancárias onde não faz sentido comercial, mas porque as populações delas necessitam.

Eu nada tenho contra isto, só que o Estado deve assumir este serviço e pagá-lo às claras sem distorcer a concorrência, porque de outro modo o que isto significa é que se está a camuflar despesa pública até ao momento em que é necessário recapitalizar as ditas empresas.

Finalmente, sendo mais fácil manter sindicatos no sector público do que no privado, a Esquerda gosta igualmente mais do sector público por isso.

Claro, com a terciarização da sociedade e a precarização, é um bocadinho como tentar parar as marés, à Rei Canuto. Mas entre mudar o sindicalismo e mudar a sociedade, escolhe-se a segunda hipótese, se calhar porque é mais fácil...

Só que o que tudo isto revela não é um cuidado com o interesse comum, é um cuidado com o interesse de grupos especiais. Exactamente como faz a Direita. Acho que se chama a isto interesses de classe, aliás. Legítimos, mas que não se devem confundir com o interesse colectivo...

A prazo, claro, o que isto provoca é naturalmente a penúria de recursos onde eles são precisos e onde o Estado deve intervir, como o SNS, cuja manutenção é, essa sim, do interesse colectivo.

O João Rodrigues é um Socialista Estatista que acredita que qualquer empresa de grandes dimensões deveria ser pública (faço-lhe o favor de não acreditar por um minuto que apoia um Capitalismo Autoritário à Chinesa), António Costa é um Social-Democrata que acredita que o Estado deve estar onde é preciso. E só.

Quanto à sua futura perda rápida de popularidade, só posso dizer, quem sabe? Mas não confundo o futuro com os meus desejos.

Mas cuidado com o que deseja. Se é só ressentimento ainda vá, mas olhe que a alternativa a Costa não é o PCP.

E Pedro Nuno Santos não vai a lado nenhum como líder do PS se se chegar à frente com estratégias frentistas. Assim, não lhe dou o meu voto. É só um, mas já é um...

Anónimo disse...

Plenamente de acordo com tudo. Excepto com a previsão da primeira frase do último parágrafo, arrojada mas perfeitamente desnecessária, até porque é provável que saia furada.

Porque se estraga tão belo texto com um palpite que não acrescenta nada e que, pelo contrário, dá facilmente azo a depois se vir dizer que o autor se enganou?

E não, não enganou. Nem na substância nem em tudo o resto que escreveu.

Anónimo disse...

Uma economia mercantalizada, como a nossa e por muito privatizada que seja, sempre precisará de bens comuns, como os transportes públicos.
A estabilidade do sistema financeiro também é considerado um bem comum, pois os cidadãos e as empresas precisam dos bancos para obterem crédito (e não só, mas basta esta função para justificar a afirmação).
Mas, se deixarmos o sistema financeiro entregue aos especuladores, como a direita e a esquerda da 3a via defendem, o bem comum rapidamente se torna tóxico, como aconteceu em 2008.
Porque razão insistimos, então, no erro?
Porque não defendemos o bem comum?

JE disse...

JS assume o protagonismo dum Assis

Voa assim baixinho,deste modo medíocre que é muito seu. Ou deles

Até vem para aqui mercadejar votos e fazer estas figuras tristes sobre o sentido do dele.

Mas o que interessa para aqui estas idiotices umbilicais, quando o que se pretende é debater ideias?

Este tipo ainda não reparou que a questão se discute noutros planos. A um outro nível

Que mediocridade mesmo a destas "elites" colaboracionistas e cúmplices

Que suprema lata a dele vir falar na CGD, governada palo bloco central de interesses, pelos euroinómanos, pelos seus ai-Jesus ideológicos? Enquanto risca da equação o verdadeiro saque dos bancos privados ao erário público, curiosamente também com ligações mafiosas ao banco público governado pelos seus companheiros ideológicos?


Beleza vai para a SEDES. Substituir João Duque

As moscas mudam... Os amigalhaços revesam-se. Algum irá para a Caixa, como o ex-ministro de Cavaco?

JE disse...

O dinheiro dos outros

Jose sabe do que fala.Não do seu. Mas da defesa que faz ao uso do dos outros.

Desde os tempos coloniais em que defendia o roubo dos "estados" (sic)criados por Salazar em 1946 E 1951 até aos tempos austeritários em que defendia o roubo puro e duro de salários e pensões

E depois o que ele pelejou pelo direito ao Mexia ter direito a tão grande fatia do dinheiro dos outros

JE disse...

( já agora...

JS a 24 de Junho
"António Costa é um social-democrata"

JS a 23 de junho:
"A social-democracia falhou"

Este JS cada dia que passa parece mais o que é.Uma fraude)

Anónimo disse...

É absolutamente deprimente ver um primeiro ministro de um país a apelar à boa vontade de terceiros para que possa ser cumprido um dever que é seu, só num lugar onde já não há seres pensantes isto é tolerável.

Anónimo disse...

As politicas de esquerda são hoje subsídios aos lucros dos privados, não há qualquer noção estratégica ou de decência, os políticos dos dias de hoje são meros funcionários externos das empresas privadas. O socialismo da actualidade é para com os que têm os recursos e o poder, sistemáticamente são os debaixo a financiarem os de cima e há sempre boas razões para que isto aconteça. Do que vale os discursos bem estruturados da esquerda intelectual quando na verdade contribuem para o obscurantismo? Sim, o eufemismo passa mal, muito mal até, quando o que está em causa é a selvajaria da desigualdade.

JE disse...

15 e 49, lá pelo dia 25 de Junho:

"As políticas de esquerda são hoje subsídios aos lucros dos privados"

O que dizer desta calinada? "Politicas de esquerda"? Quais políticas de esquerda?
Aquela que defende o controlo público de bens e serviços essenciais, onde se inclui também a banca? Essa sim é de esquerda.

Ou políticas assim do género que adopta o "essencial do discurso fraudulento da Terceira Via, o que dizia que o Estado social-democrata não tinha de controlar sectores estratégicos?

Este tipo marca políticas neo-liberais como de "esquerda".E mostra a cauda de fora, no apoio sub-reptício a políticas ainda mais catastróficas. Do género neoliberal,com laivos de passisto-troikista. Tirado a ferros por uma segunda derivada

JE disse...

15 e 49, lá pelo dia 25 de Junho:

"os políticos dos dias de hoje são meros funcionários externos das empresas privadas"

O que dizer desta calinada? Políticos de hoje? Assim como os ajuntamentos em torno de Bolsonaro? Todos ao molho e fé evangélica?

Como todos iguais? Um tipo como o Ventura igual a um tipo de esquerda? Um tipo como Passos Coelho, que pugnou pela austeridade troikista, igual a quem lhe combateu sem tréguas tal política criminosa?

Um patife igual a alguém íntegro?

É pá,isto parece o discurso saído dum blog barato. Neoliberal,com queda para a propaganda de extrema-direita

JE disse...

15 e 49, lá pelo dia 25 de Junho:

"O socialismo da actualidade é para com os que têm os recursos e o poder"

O que dizer desta calinada? O socialismo da actualidade? Mas qual socialismo da actualidade?
Aquele que pugna pela manutenção no Estado dos instrumentos de política económica e que defende as nacionalizações? Aquele que combate a europeização que obrigou a "tratar muito do que é público como se fosse privado"?

O "socialismo " que não é socialismo mas que é aquele arremedo de apanha-bolas de Jaime Santos? O "socialismo" do discurso fraudulento da terceira via? Aquele que já se confessou que não é socialismo? Aquele que é partidário do liberalismo social? Aquele do "centrismo radical"?
Aquele que se persigna e pede por grilhetas de Bruxelas, quando ouve falar em Socialismo?

JE disse...

15 e 49, lá pelo dia 25 de Junho:

" Do que vale os discursos bem estruturados da esquerda intelectual quando na verdade contribuem para o obscurantismo?"

O que dizer desta calinada? O que este entende pelos "discursos estruturados"? Aqueles que mostram uma argumentação em que nem a terceira via,nem a direita, nem a direita austeritária, nem os idiotas da segunda derivada passisto-troikista, consegue contrapor?

E o que dizer da "esquerda intelectual"? Mais uma frase em que se junta tudo,como se todos fossem um. O "pseudo-intelectual" fraudulento, do género do pimentel ferreira, ou o intelectual que demonstra o brilho do raciocínio lógico e fundamentado, em prol de quem é explorado?

Ou este arremedo contra a "esquerda intelectual" será apenas o jeito maneirinho, assim à demagogo pelintra de extrema-direita, de manifestar o seu ódio a quem usa a sua capacidade cognitiva para denunciar as habilidades tácticas, as desonestidades estruturais e a mão invisível dos mercados a tomar conta dos Estados?


E o que dizer da "contribuição para o obscurantismo"? A pegada idiota que confirma que essa coisa do obscurantismo se cola que nem uma segunda pele a quem tem medo que lhe desmontem as aldrabices e as manhas?

Alguém em frente de um espelho a negar que a sua imagem assim reflectida não é mesmo a sua imagem?