quinta-feira, 4 de junho de 2020

Nas urnas e na rua


Em artigo recente na Visão, a propósito do assassinato de George Floyd por elementos das forças policiais de Minneapolis, e das manifestações que desde então têm emergido em diferentes pontos dos Estados Unidos, Nuno Garoupa sugere que Trump se derrota nas urnas e não nas ruas. É aliás essa a ideia que serve de título ao artigo, no qual Garoupa não deixa de assinalar a natureza estrutural do racismo, da pobreza, das desigualdades e da brutalidade policial (apesar do elogio ao só aparentemente luminoso filantropismo capitalista, que convive com essas questões estruturais). Tal como não deixa de saudar «o protesto pacífico e ordeiro de milhares de ativistas», apesar dos «desacatos violentos» que, evidentemente, também fazem parte destes processos.

Sendo certo que serão as urnas a derrotar Trump, com o poder do voto, é mesmo preciso não desvalorizar a «rua» e a sua importância, desde logo para esse desejável desfecho. Estamos a assistir, de facto, a um sobressalto cívico impressionante, cuja dimensão surpreende, entre outros aspetos, pela sua quase ausência em situações que também o justificariam. Esse sobressalto, que se materializa justamente nas manifestações, é fundamental para o aumento da consciência coletiva perante o intolerável, contribuindo nessa medida para a hora do voto. Sem rua agora será bastante mais difícil haver urnas depois.

9 comentários:

Jaime Santos disse...

Perfeitamente de acordo, mas importa que todos aqueles que descem à rua, sobretudo os jovens, se apercebam que sem descerem em Novembro às urnas, Trump continuará a ser a moeda em circulação com que as vítimas da injustiça e o próprio planeta terão que lidar.

Portanto, que fique bem claro, como deveria ter ficado nas presidenciais francesas de 2017, que um homem de Centro-Direita como Biden ou Macron não é igual a um fascista troglodita como Trump ou Le Pen. Não me venham cá com racionalizações idiotas sobre a peste e a cólera.

Votem de dedo no nariz se for preciso, mas votem...

Quando confrontado com a escolha entre o odiado Soares e um homem de Centro-Direita que hoje sabemos que era um democrata, Cunhal não hesitou. Oxalá os puristas da Esquerda fossem tão inteligentes como o histórico líder comunista. O que está hoje em causa é bastante mais do que o que estava em 1985...

PauloRodrigues disse...

E se tudo isto foi encenado, incluíndo a execução de George Floyd?
Reparem em como o assassino esteve de mãos nos bolsos, com o joelho no pescoço da vítima, à espera que ele expirasse.
E ele sabia que estava a ser filmado em HD.
Não parece estranho? Talvez até intencional?
E reparem nas consequências:
1) deixou de se falar no fracasso no combate ao coronavirus;
2) conseguiu motivar a hiper-reaccionária base de apoio supremacista-branca e religiosa evangélica contra os "perigoso os malfeitores" negros, que foram para a rua saquear lojas.
É nas urnas que a trumpofonia está a pensar, de facto.

JE disse...

JS e João pimentel ferreira descem ao computador para nos darem conselhos.

Um diz agastado ( com o dedo no nariz?) para não lhe virem "cá com racionalizações idiotas sobre a peste e a cólera".

Estranha imagética esta.


O outro,escondido atrás de paulorodrigues, agita-se num seu esgar habitual, convocando-nos com um "reparem", em jeito de discurso às massas ignaras

JS vem vender um sabujo de nome Macron,um banqueiro ao serviço dos seus interesses. Não tenhamos dúvidas que tem sido um bom parceiro da extrema-direita e está a fazer o seu jogo sujo.Se as coisas avançarem o suficiente,será o primeiro a abrir a porta ao fascismo ou a aliar-se com ele.

joão pimentel ferreira vem tentar passar por gente séria. Um encenador branqueador, a tentar fazer passar por encenação um crime monstruoso

Em ambos os casos, JS e JPF demonstram que também os liga uma coisa. O pânico dos movimentos de massas. Nas ruas, num combate aberto contra o racismo e o estado de barbárie a que chegaram os States.

JE disse...

Em ambos os casos,JS e JPF, fazem lembrar algo que João Rodrigues disse há pouco:

"Lembro-me, como se fosse hoje, quando quase todos os economistas convencionais deste lado do Atlântico faziam dos EUA o seu modelo. E lembro-me, como se fosse hoje, dos investigadores em relações internacionais que faziam do imperialismo norte-americano o alfa e ómega do que apodavam de “internacionalismo liberal” na base do que era na realidade a “globalização armada”.

Com as devidas diferenças ( apesar de tudo JPF não merece mais do que este apontar do dedo e o cordão sanitário reservado a lodaçais) apostar-se-ia que tanto JS como JPF cumpriam os rituais denunciados aqui por JR. Olhavam de forma servil, devota e submissa para o imperialismo americano como "internacionalismo liberal", feito seu amo e senhor inquestionável

Anónimo disse...

"O HOMEM QUE AS ARMAS ATRAIÇOARAM
Donald Trump. Tem de se tropeçar nele nos dias que correm. O homem instala o caos em tudo o que toca. Uma verificação óbvia quando o coronavírus é uma presença obsessiva, Trump é, ele próprio, um vírus.
Nas relações internacionais sabotou todos os tratados que marcavam avanços civilizacionais, fomentou conflitos em todas as latitudes e longitudes, rompeu com organizações internacionais humanitárias, isolou o país, reduziu os líderes seus amigos a uma seita nada recomendável, Netanyahu, Mohammad bin Salman, Bolsonaro, Johnson,
Orban. Não há uma única marca do seu mandato que constitua um contributo a favor da paz, do progresso, do bem-estar e da harmonia global.
Internamente fomentou a instabilidade sistemática no seu gabinete e assessorias, entre os quais não emerge nem uma figura de estadista fiável. Incapaz de articular um argumento consome o seu vocabulário primário em insultos gratuitos a adversários políticos, senadores, deputados, governadores, autarcas, cientistas, jornalistas. Desprovido do mínimo sentido estratégico reage casuisticamente, avança e recua face a fantasmas que a sua visão escatológica do mundo inventa. Mentiroso compulsivo em permanente conflito com a realidade carece de qualquer credibilidade.

Era inevitável, o caos acabaria por se virar contra si. O caráter perverso e amoral de Trump, vazio de quaisquer valores políticos, culturais, éticos, humanistas, inibe-o de enfrentar uma situação em que se confundem a crise pandémica, a crise social, a crise económica, a crise civilizacional. Todas elas se encarregou de fomentar alimentando ódios, racismo, segregações de género, confrontos entre nós e eles. Depois da China, da União Europeia, da Venezuela, da Bolívia, do Irão, da OMS, dos democratas, de Barack Obama, de Joe Biden, dos grandes media, descobriu o novo satanás, a ANTIFA.
Desenterrou uma sigla esquecida que surgira nos EUA nos anos 20 e 30 do passado século para designar a associação de tendências de esquerda, anarquistas, socialistas, comunistas, que se propunham conjugar esforços na luta contra o avanço da extrema-direita wasp, fascista, racista e xenófoba. Nem se dá conta que, ao atribuir as
insurreições e a indignação popular que alastram por dezenas de grandes cidades americanas e o visam a si e à sua política à ANTIFA, está a assumir-se ele próprio como fascista, racista e xenófobo.
Trump está a colher as tempestades dos ventos que semeou durante 4 anos. Temos em Portugal, na nossa vox populi muitos ditos populares para caraterizar estes fenómenos, o efeito boomerang, o efeito ricochete, o feitiço contra o feiticeiro, o tiro no próprio pé, muitos mais porque a imaginação portuguesa é fértil. Na minha juventude, quando andava pelas Índias, li um livro de ficção – ainda está, amarelecido e gasto pelo tempo, nas minhas estantes –, de que recordo as suas linhas gerais. Do húngaro Lajos Zilahy chama-se O Homem que as Armas Atraiçoaram (tradução portuguesa da Editorial Século dos anos 50) e o drama andava à volta de um grande industrial de fábricas de armamentos que fez fortuna com conflitos armados, internos e externos, para os quais contribuía. Eram bons mercados. Quando os ventos lhe foram menos favoráveis acabou preso e fuzilado. Nos momentos finais, ao encarar o pelotão de fuzilamento, ainda pôde constatar que as armas
que lhe estavam apontadas e o iam matar tinham saído das suas próprias fábricas e eram produto de negócios que ele próprio promovera.
Também Donald Trump está a ser traído pelas armas e o ódio que ele próprio criou e fomentou.
O caos parece estar a estender-se ao Brasil. Naturalmente, porque o “bolsonarismo” é a versão rasca do “trumpismo”. Carlos Matos Gomes acertava em cheio quando dizia, com a sua ironia cáustica, que Bolsonaro é Trump sem a 4.ª classe.
Urge que apareça quem, nos EUA e no Brasil, ainda possa travar a tragédia que ameaça, não apenas os dois países, mas o mundo inteiro".
1 de Junho de 2020
(Pedro Pezarat Correia)

Jose disse...

Enquanto não houver a coragem de controlar o armamento nas mãos de civis, dificilmente a polícia deixará de ter um padrão brutal de intervenção.
Censurar a brutalidade sem reconhecer a ameaça, sempre vai dividir.

E se os saques são tão frequentes nas manifestações é porque a polícia tem medo e só actua com forças concentradas.

JE disse...

Ah

Eis uma defesa pusilanime da brutalidade policial, segundo as regras politicamente correctas de alguém que, dadas as circunstâncias políticas actuais, não pode ser mais claro

A questão é que não se pode censurar a brutalidade ...porque há uma ameaça que tem que ser reconhecida

George Floyd ? Qual a ameaça que este representava para os polícias que o cercavam e que foi assassinado da forma como o foi?

Nem vale a pena falar na idiotice sobre o motivo dos saques serem "tão frequentes nas manifestações porque a polícia tem medo e só actua com forças concentradas".

Medo? Que saudades do tempo em que a policia 'do the right thing', segundo as saudades manifestadas por Jose. Sem medo. Tal como o Ku Klux Klan

Paulo Marques disse...

E, enquanto as forças policiais americanas usam mais equipamento do que o exército português, só sofrem baixas de pistola ou carabina. A culpa não é de quem é pago para proteger e se ir, claro, diz quem é contra o estado forte.
os saques, que não são frequentes, também (mas não só) são obra dos anarco-capitalistas à procura da segunda guerra civil,com quem a bófia se tem entendido bem.

O que é preciso é que nada de fundamental mude, não é Jaime? Não admira que muitas das piores forças policiais estejam em estados azuis.

Paulo Marques disse...

Aliás, falar em Macron como anti-violencia só se for para rir, ainda Floyd vivia a sua vida e já voavam gás pimenta e balas de borracha na França à meses.