quinta-feira, 4 de junho de 2020
A injustiça social mata
O Financial Times considera que o assassinato de George Floyd “expõe as ligações entre a injustiça racial e a desigualdade económica”. Não sou eu que vou contrariar os editorialistas do FT, embora note como têm sempre uma palavra meiga para os herdeiros dos chamados novos democratas, precisamente os que romperam com a herança do New Deal e da promessa de transformação aberta pelas lutas dos direitos cívicos, cuja componente de aspiração à igualdade socioeconómica geral não deve ser subestimada. Todo um sonho, todo um arco da justiça, tem sido derrotado na economia política.
A desigualdade socioeconómica crescente nos EUA, desde os anos oitenta, está bem documentada. As suas origens nas transformações institucionais de matriz neoliberal também. A abissal queda da taxa marginal de IRC e do imposto sucessório é só um mecanismo fiscal exposto de forma detalhada por Thomas Piketty. Há muitos outros mecanismos político-institucionais, incluindo o enfraquecimento deliberado do movimento sindical, um dos veículos para contrariar a desigualdade económica e a injustiça racial nos EUA.
Barack Obama, herdeiro dos novos democratas de Clinton, não foi, infelizmente, diferente no essencial, apesar de uma crise só com paralelo na Grande Depressão. O padrão de brutal desigualdade não foi revertido e o hipertrofiado Estado penal, o outro lado de um Estado social minguado, só foi ligeiramente reduzido. O crescimento desmesurado do Estado penal, traduzido no encarceramento em massa de afro-americanos desde os anos setenta, é precisamente uma das ligações entre a injustiça racial e a desigualdade económica. E é sabido que os Estados economicamente mais desiguais, como os EUA, têm mais guardas na força de trabalho.
Entretanto, a investigação do Prémio dito Nobel em Economia Angus Deaton sobre as origens socioeconómicas das “mortes por desespero”, na base da diminuição da esperança de vida nos últimos anos de Obama, a partir de 2015, também está aí: um cocktail letal de álcool, opiáceos e suicídios à boleia do capitalismo da doença, de um capitalismo profundamente doente. Com as devidas diferenças, faz lembrar a Rússia da katastroika.
Lembro-me, como se fosse hoje, quando quase todos os economistas convencionais deste lado do Atlântico faziam dos EUA o seu modelo. E lembro-me, como se fosse hoje, dos investigadores em relações internacionais que faziam do imperialismo norte-americano o alfa e ómega do que apodavam de “internacionalismo liberal” na base do que era na realidade a “globalização armada”.
A crise pandémica revelou a todo o mundo a brutalidade da economia política dos EUA, o país que mais gasta em saúde para oferecer um espetáculo deplorável de saúde pública. O assassinato de George Floyd confirmou entretanto o racismo estrutural inerente à economia política desta pátria do liberalismo. Trump é um perigoso sintoma mórbido.
Confirma-se que a injustiça social mata de múltiplas formas. Até os que dizem “viver em tempos financeiros” (slogan do FT) reconhecem alguns destes padrões básicos.
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20 comentários:
A direita tem feito aquilo que dela se esperava, que começou no politicamente correto, passou para o leninismo não apolegético (ou o estalinismo não apolegético na europa) e irá até ao fascismo, se os deixarem continuar.
Mas claro que não o conseguiu sem a ajuda da dita esquerda soft(ou esquerda bramane), os "pasoks" deste mundo.
Temos o exemplo português do socialismo na gaveta, o soarismo, o guterrismo, o socratismo e ao que parece também o costismo, agora que o pcp e o be não dão jeito a Costa e Rio anda a piscar o olho ao ps (à espera da oportunidade para lhe enterrar a faca nas costas).
Tivemos kinnock e blair na Inglaterra, miterrand e hollande na frança,
schröder na alemanha, carter, clinton e obama nos states.
Todos traidores das causas que defenderam nas campanhas eleitorais que os levaram ao poder.
Todos sensíveis aos "favores" dos oligarcas, todos insensíveis a quem os elegeu.
A esquerda soft é o problema.
Facilmente infiltrada pelos interesses dos oligarcas, mas a única esquerda que consegue votos na classe média, que não confia na esquerda menos soft.
A classe média é a causa do problema.
Mas o neoliberalismo está a destruir as classes médias, pois a procura incessante de lucro das elites, numa economia desindustrializada, financializada e globalizada como são todas as economias ocidentais vai provocar a drenagem de riqueza também das classes médias.
Bem, parece que vamos ter que esperar que as classes médias morram.
Absolutamente de acordo, sucede que a tentativa de Gorbatchev de reformar o Socialismo Real foi demasiado tardia, este estava defunto desde os anos 70, pelo menos, como reconheceu o jovem Emanuel Todd num livro chamado 'A queda final' ('La chute finale', soa muito melhor em Francês por razões óbvias) cuja leitura se recomenda ainda hoje a todos os aprendizes de utopistas.
Todd até previu a ascensão presente do fascismo na Rússia, o que não foi obviamente capaz de prever foi a razão próxima, o consulado de Yeltsin, a tal katastroika...
Como o modelo social-democrata caiu no final dos anos 70, fruto das crises petrolíferas e da estagaflação, o assim chamado neoliberalismo é mesmo o que sobrou.
E como a Esquerda se revela incapaz de apresentar uma alternativa que não passe pela destruição de todo o sistema e a penúria das classes médias, está visto, Paulo Rodrigues, que não vamos seguramente dar o nosso voto a quem no Passado foi responsável pelos desastres do Socialismo Real e quejandos. Nós temos boa memória.
Para pior, já basta assim...
Mais uma vez um excelente post de JR, sóbrio e directo, com essa imensa qualidade de chamar o nome aos bois
Quanto a uma espécie de "cumentário" sob o nick "paulorodrigues". Eis um verdadeiro lodaçal de corte e costura, bacoco e bocejante, para ver se passa...
Temos todavia uma má notícia para o seu autor. Estas idiotices ou seja as de joão pimentel ferreira (ou do "moderador" aonio eliphis) são isso mesmo. Idiotices. E para cenas acanalhadas de aldrabões demagogos já demos.
Este esbracejar do coitado é revelador que o pobre neoliberal é mesmo aquilo que é
E o que é, é mesmo muito feio.
Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades:
- Quando eu era jovem ouvia-se os liberais dizerem aos comunistas e outros antifascistas: Vai para a Rússia ! Vai para a Sibéria…
Hoje, volvidos muitos anos, já, portanto, na 3.ª idade, começo a ouvir dizer aos liberais: Vão para os States ! Vão para o Brasil… Que é bom para a saúde !
João Pedro
Lembro-me como se fosse hoje, dum tempo em que sempre se falava de valores quando se falava de condicionantes da vida pessoal e em sociedade.
Dos americanos, num perturbador caldo de culturas, lembrava-se a candura em 'do the right thing'.
Falava-se de racismo e recordava-se o valor da negação da ciência quanto à diferenciação das raças.
Falava-se de diferenças sociais e sempre se elegiam valores a respeitar na convivência social, sem medida de poder ou de riqueza.
Falava-se constituir valores em direitos e sempre se lhe faziam corresponder deveres.
E sempre se propunha que para as pessoas houvesse um padrão de qualidade individual ainda que temperado pela circunstância que lhe fosse reconhecida, mas sempre reservando a irresponsabilidade aos clinicamente irresponsáveis.
Recordo-me como se fosse hoje.
A opinião de Paulo Rodrigues está longe de ser construtiva.
Jaime Santos está absolutamente de acordo. Com quem?
Com ele próprio
Ei-lo à desfilada a mergulhar naquilo a que se socorre sempre:
À URSS. Naquele seu jeito impotente de quem tem que apresentar razões justificativas para o soçobrar das suas ideias e ideais
Ei-lo abraçado à teta do neoliberalismo, com aquela falta de pudor dos que traem antigos ideais.
E a sua consciência culpada traduzida nestas tiradas sistematicamente auto-justificativas, lamurientas e enraivecidas
As citações de Jaime Santos também traduzem sistematicamente o oportunismo de quem lê as coisas pela rama. Tiradas do último artigo de algum ideólogo neoliberal a dizer que não é neoliberal porque no fundo... é neoliberal
"La chute finale" parece que soa muito melhor em francês.
Fica-se um pouco perplexo com tal afirmação e interrogamo-nos se estamos num programa literário de dondocas com pretensões a.
Mas não é isto que agora está em causa. Cada qual é livre de usar os pretensiosismos Kolturais que quiser
O que está em causa é o uso de Todd para as conveniências que se quer. Por acaso Todd, personagem controversa, tem algumas peculariedades que são ainda mais do gosto de JS.
Por exemplo, ele opôs-se ao Tratado de Maastricht no referendo de 1992. Ele lá sabia porquê.
Também muito antes de Trump ( e isto é importante) afirmava que a Rússia de Putin é provavelmente um parceiro mais confiável no mundo de hoje do que os EUA. As cenas macacas que JS faria se lhe apresentassem esta tirada de Todd. Repare-se que aqui nem se defende Putin nem Todd
Uma última frase de Todd,retirada de uma sua entrevista a Marianne, já no tempo da presidência de Obama:
"L'idée que, sous prétexte qu'un pays est démocratique, ses citoyens, après délibération entre eux, ont la légitimité de bombarder les citoyens d'un autre pays est une idée qui va finir par tuer la démocratie.
Les Etats-Unis sont plus dangereux que l'Iran pour la paix"
De facto dou-lhe completa razão neste ponto:Os EUA são mais perigosos que o Irão. E desde há muito
A pantominice de Jaime Santos vai ao ponto de fazer afirmações manifestamente dúbias,se não menos falsas
Parece que Todd previu a "ascensão presente do fascismo na Rússia".
Esta malta atira-se a tudo o que se oponha a um mundo unilateral, não hesitando em fazer estas cenas dignas de elites medíocres, desprovidas de ética e kulturalmente sonsas.
A confusão que reina naquela cabecinha.
Sabe-se que JS agita o termo "fascista" assim ao seu gosto peculiar, para justificar a sua defesa de coisas sem escrúpulos e objectivamente aliadas da extrema-direita.
Falamos concretamente dos seus amores pelo banqueiro Macron, um vira-casacas socialista que se converteu ( tal como JS? ) num neoliberal sem vergonha.
Ouçamos o que Todd diz sobre este ídolo de JS?
Numa conferência em Sciences Po há cerca de 1 ano Emmanuel Todd voltou a mostrar Macron como um “anão intelectual”
Mas disse mais:
“Je vais vous révéler pourquoi Macron n’est pas fasciste. Macron n’est pas fasciste parce que Mussolini, lui, avait un programme économique!”
Todd explicou mesmo que, apesar de o “macronismo” estar agora reduzido a uma “função autoritária”, Macron não é fascista pois, ao contrário de Mussolini, não tem um… programa económico!
De caminho, Todd também colocou o euro como uma “gigantesque connerie” e explicou que a principal guerra económica é hoje a que a Alemanha faz aos seus vizinhos e “sócios” na União Europeia…
Como apontamento final sobra apenas a gargalhada de vermos JS de mãos dadas a joão pimentel ferreira.
O pobre nem sequer repara que está a cuturrar-se com o travesti de JPF, o paulorodrigues.
Cada qual vota em quem quiser. Com quem quiser. Nos quejandos que quiser.
E com os travestis com que se identificar
João Pedro já está na terceira idade?
Lolol
"João Pedro" é aquela coisa poucochinha que veio elogiar jose assim desta forma de um simulacro de holandês quando lhe apresentam um bastardo:
"Jose tem um excelente blog Porta da Loja - que eu visito todos os dias e onde aprendo algo. O homem é, simplesmente, enciclopédico".
O blog onde joão pedro aprende é uma cloaca salazarista. O "conhecimento" de Jose todos sabem onde ficou.
"João Pedro" está apenas a cumprir o seu destino. Parece que sofre do Síndrome de Estocolmo.
Recorda-se jose como se fosse hoje?
"dum tempo em que sempre se falava de valores quando se falava de condicionantes da vida pessoal e em sociedade"
Que valores é que jose defendia quando berrava :
"aguardo ansiosamente o dia em que os Estado tem salários em atraso, ou corte 30% nos salários, ou faça uns despedimentos colectivos.
Essa espera é que me dá azia"
Estes "valores" assim defendidos por jose eram os da austeridade uberalles ou os da saudade pelos tempos findos com o 25 de Abril?
(Os "condicionantes da vida pessoal" seriam mais tarde invocados por Passos para o convite acanalhado à emigração dos portugueses)
Lembra-se também jose, ( de lágrima ao canto do olho?):
"Dos americanos, num perturbador caldo de culturas, lembrava-se a candura em 'do the right thing'.
"do the right thing" é uma expressão que abrange tudo. Pode ser dita por um cineasta ou pode ser dita por um fascista ou por um comandante nazi a dar ordens sobre o "do the right thing" como seja despejar bombas sobre populações inocentes
(Agora assumir como "candura" esta expressão "do the right thing" faz lembrar aquela cumplicidade ternurenta de jose para como os franquistas que berravam os seus escabrosos"viva la muerte. Jose chamava a estes assassinos, simplesmente "românticos")
Aplicada a frase "do the right thing" aos americanos, esta simboliza mais o culto de jose ao imperialismo americano. Numa subserviente posição de cócoras perante a força bruta e de basbaque perante a violência assassina dos americanos.
Terem destruído o Iraque estaria no "do the right thing" do dicionário dos fdp que o fizeram. E também no do jose?
Mas o"saber enciclopédico" de Jose devia saber que "do the right thing" é também um filme exemplar de Spike Lee
Spike Lee como se sabe também está nos antípodas da conversa da treta aqui espelhada por Jose.
Spike Lee que, num momento em que os protestos e motins devido à morte de George Floyd se multiplicam pelos Estados Unidos, divulgou nas redes sociais, um vídeo de um minuto e meio no qual junta as gravações dos assassinatos de Floyd e Eric Garner — cuja morte, em 2014, vítima de asfixiamento pelo polícia Daniel Pantaleo, foi um dos rastilhos do movimento Black Lives Matter — à cena do seu filme Do The Right Thing, de 1989
Que jose "do the right thing" e vá ver o "do the right thing", em vez de fazer estas figuras tristes de adolescente um pouco senil a olhar embevecido para os músculos do canalha do bairro
"Falava-se de racismo e recordava-se o valor da negação da ciência quanto à diferenciação das raças."
Mais uma "memória" falsa de jose
Como se sabe o conhecimento científico sempre foi desprezado por uma certa direita mais ou menos trauliteira
A tentativa de criar uma ´fábula sobre o respeito racial em Portugal tem as pernas curtas
“Devemos organizar cada vez mais eficazmente e melhor a protecção das
raças inferiores cujo chamamento à nossa civilização cristã é uma das
concepções mais arrojadas e das mais altas obras da colonização portuguesa.”
António Oliveira Salazar, 1935
Taambém será útil recordar as circulares publicadas pelo Estado português em 1938 e 1939 que proibiam a atribuição de passaportes a indivíduos com nacionalidade indefinida, aos russos e aos judeus "expulsos das suas nações"?
"Falava-se de diferenças sociais e sempre se elegiam valores a respeitar na convivência social, sem medida de poder ou de riqueza."
É o que se chama o elogio do direito do mais forte ao poder e à riqueza. Na linguagem de seminarista, que está ávido pelo respeito da "convivência social". Entre quem saqueia e quem é saqueado. Por exemplo, entre um António Borges e uma das muitas vítimas deste sujeito
(Em 2011, Borges ganhou 225.000€00 euros livres de impostos. Defendeu na mesma altura que reduzir salários "não é uma política, é uma urgência".)
Jose usou um fórmula que tem afinidades com esta:
Quando perante a reivindicação de mais justiça social diria: têm mas é inveja
"Falava-se constituir valores em direitos e sempre se lhe faziam corresponder deveres"
Esta não serve
Esta parece ser uma frase tirada dum dos discursos de Salazar. Segundo jose "quão clara e lúcida é a escrita de Salazar, de quem tenho os 'Discursos', também encadernados, mas lamentavelmente de edições sortidas".
Os deveres de Jose perante os seus valores travestidos de direitos. Encadernados em versões sortidas
"sempre reservando a irresponsabilidade aos clinicamente irresponsáveis".
Perfeitamente de acordo
(Será que jose está a tentar arranjar um alíbi para a irresponsabilidade das suas acções? Dos seus escritos? Da sua doutrina?)
E o padrão de qualidade da bófia está onde?
https://mobile.twitter.com/greg_doucette/status/1266751520055459847
Quando até o exército avisa que não se quer envolver porque existe para proteger os cidadãos, estamos conversados.
Esta foi a gota de d'água que fez transbordar o "melting pot" que foi vendido por um Estado Abstencionista a um povo que se subjugou a um sistema racista, precário e desigual, a outra face do "American Dream " a mesma que sustenta o "American Way " pois sem discriminação o Dream não chegava para todos; sem precariedade, os patrões não enriquecem; sem desigualdades o capitalismo não funciona.
O curioso de tudo isto é vislumbrar um FT, um jornal de referência na área da finança, mostrar -se incrédulo perante o debacle de um colosso que sempre soube superar a todo o custo, fosse em forma guerras S.A, fosse através da manipulação dos mercados financeiros ou até mesmo pela diplomacia comercial do "Big Stick" e caso a coisa não funcionasse (no caso de Trump) aplicava-se medidas protecionistas do mais basico conceito mercantilista.
Um país onde a única função maior do Estado é assegurar que exista menos Estado e que o sistema acente numa iniciativa privada que é incapaz de dar resposta, por ex., perante uma catástrofe pandemica porque o seu sector da saúde vive de uma tríade mafiosa de hospitais que mais parecem superfícies comerciais com promoções nos check up's e black friday's em colonoscopias, implantes e intervenções cirúrgicas(Hipócrates, quem és tu?) claro que tudo isto á bolina do seguro certo pois as Seguradoras são o fiel da balança entre a vida e a morte e por a toda poderosa indústria farmacêutica cada vez mais exclusiva com valores por medicamento ao nível gourmet de um qualquer Michelin perto de si.
Está é a América que distingue os que vivem em bolhas nos seus condomínios fechados (winers) e os outros (losers) que são esmifrados pelo mercado e varridos para debaixo do tapete que perante a morte em directo de um dos seus se insurgiu contra esse jogo viciado do "win some loose some" que levou mais um dos seus às mãos daqueles que juraram servir e proteger.
Este era o objectivo dos PAF's para Portugal. Este é o real capitalismo.
Agora chamem-me utópico por acreditar que existe uma alternativa.
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