terça-feira, 13 de maio de 2008
As experiências neoliberais não resultam
Só tive pena que Manuela Arcanjo, ex-ministra da saúde e economista do ISEG, não tivesse esclarecido os leitores do Jornal de Negócios sobre as misteriosas origens da «forte fundamentação na teoria microeconómica» das parcerias público-privadas (PPP) em termos de «ganhos de eficiência potenciais». De resto, Manuela Arcanjo revela-se bastante crítica do modelo adoptado e termina o seu recomendável artigo com um conjunto de questões e de respostas muito incómodas para o actual governo: «À luz da experiência internacional, a decisão pela exclusão dos serviços clínicos é correcta, mas deveria, em nome do tal interesse público, ter sido tomada no seu devido tempo e aplicada a todos os contratos em parceria. Se, afinal, o Estado é o melhor garante da prestação de cuidados clínicos, em termos de acesso e qualidade, o que explica que este processo se tenha prolongado por três anos? E, como explicar aos utentes dos quatro novos hospitais que a produção privada ficará aquém do desejado? Haverá alguma relação entre estes hospitais e igual número de grupos privados? Perguntas sem resposta. Será o Estado, por via dos sucessivos governos, capaz de garantir que a tomada de decisão, em todos os domínios, é sempre fundamentada e em defesa do interesse público. Podemos estar certos de que o Estado assegura, em matéria de PPP, a melhor partilha de riscos, uma avaliação de resultados e um adequado sistema de penalizações por incumprimento do parceiro privado? As respostas são, infelizmente, negativas para os utentes e contribuintes». O consenso em torno das irresponsáveis PPP esboroa-se. Como já aqui argumentei, agora até os economistas liberais sérios dão razão às críticas da esquerda socialista.
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5 comentários:
Bom dia,
como já escrevi anteriormente estou a escrever no meu blog um dossier sobre o liberalismo. Gostava de pedir autorização para colocar este artigo no meu blogue para esse dossier.
Obrigado pela atenção,
Stran
o Estado é o melhor garante da prestação de cuidados clínicos, em termos de acesso e qualidade
Mas esta gente já meteu os pés num hospital público? Acham que as pessoas pagam dois seguros (SS+multicare) porque gostam de deitar dinheiro à rua?
Devido a vários factores (inicialmente devido à Faculdade e depois devido ao trabalho), deixei de residir há muitos anos na cidade de onde sou utente do centro de saúde e já não vou ao médico de família há pelo menos quinze anos. Tentei inscrever-me como utente noutros centros de saúde mas disseram-me que não teria médico de família e que teria de ir para uma lista de espera.
O que faço então quando estou doente?
Normalmente, espero até melhorar ou então arrisco e lá pago uma consulta de 60/70 euros. Consultas de rotina ou exames, nem pensar! Consultas de medicina dentária, óculos, etc, é tudo pago por mim na íntegra. Já pensei em fazer um seguro de saúde, mas irrita-me estar a pagar duas vezes (um vez que pago impostos) e na verdade não morro de amores por estes rapinadores das companhias de seguros.
Penso que no que diz respeito às garantias que o Estado dá em termos de acesso aos cuidados médicos, isto não é um exemplo muito bom, pois não?
Tive um problema de saúde de certa gravidade, que no privado não foi diagnosticado, e o foi no publico e depois devidamente tratado. Exemplos de um lado e de outro não faltam.
Mas eu por mim não me deixo convencer que o publico é pior. Os médicos são os mesmos, um melhores que outros, e é a lógica comercial inerente a uns, e imposta a outros que perverte o sistema.
De há uns anos para cá, há uma clara intenção de substituir o publico pelo privado. Nesse quadro só podemos esperar que o primeiro vá perdendo capacidade de resposta.
As opiniões dividem-se é quanto às "inevitabilidades" do costume.
Não pára o berreiro no infantário:
>Mas esta gente já meteu os pés num
>hospital público? Acham que as pessoas
>pagam dois seguros (SS+multicare) porque
>gostam de deitar dinheiro à rua?
Olha aqui tantos burocratas idiotas:
http://www.pbs.org/wgbh/pages/frontline/sickaroundtheworld/
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