quarta-feira, 21 de maio de 2008
A irresponsável privatização da Galp
Vale a pena ler com atenção esta posta de António Dornelas: «Apesar dos inegáveis progressos realizados, Portugal continua a ter importantes necessidades sociais por satisfazer, entre as quais avulta, em minha opinião, a necessidade de aumentar os níveis de protecção social, o que, evidentemente, exige maiores receitas fiscais e melhor uso dos recursos disponíveis». Isto está relacionado com a Galp: o seu presidente afirmou que a única solução para baixar o preço dos combustíveis é baixar os impostos que sobre eles recaem. Dornelas desmonta esta ideia e concluí: «Como é que responsáveis empresariais (. . .) têm o despudor de continuar a sustentar que se devem reduzir os impostos e a considerar que os seus rendimentos e os das empresas ou organizações que dirigem são intocáveis?» Concordo inteiramente. Alguns comentários: (1) a actual situação vem dar razão a todos os que criticaram a irresponsável privatização da Galp - a má gestão dos «recursos disponíveis» e os custos da perda de uma alavanca estratégica, que bem jeito dava na actual conjuntura, são hoje evidentes; (2) as eventuais «conspirações contra o público» (Adam Smith) seriam bem mais fáceis de escrutinar (vejam o que aconteceu no sector financeiro e a importância da CGD); (3) pena que uma parte da esquerda tenha esquecido a importância da propriedade pública quando optou, contra a opinião de alguns economistas da sua área, por privatizar sectores cruciais para qualquer política de desenvolvimento; (4) a regulação é um fraco remendo, dadas as assimetrias entre regulador e regulados; (5) o dispendioso processo de reengenharia política neste sector, com o intuito de promover uma maior concorrência que, de qualquer forma, será sempre altamente imperfeita, pode ser contraproducente e levar à desestruturação de empresas integradas e com dimensão para competir nos mercados internacionais. Enfim, a Galp devia mesmo ter permanecido maioritariamente pública. Erros bem caros.
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7 comentários:
o primeiro link não funciona
Aqui está um assunto que alguma esquerda(?) não sabe como tratar, deixando a "coisa" num limbo, quando não deveria haver motivo para dúvidas.
A Energia, aliás como a Água, são sectores estratégicos e integrantes do território, são interesse nacional. Por outro lado, o Estado só terá expressão e razão de existência, enquanto houver ainda solo e interesse nacional. Em tese, o Estado nunca deveria ter abdicado desses sectores (que não são meramente económicos); pelo menos, deverá ser sempre o seu detentor maioritário.
Constituirá a irresponsável privatização da Galp um erro irreparável?
Caa estaa o problema... nao tenho duuvidas que, em face do desafio de desenvolvimento concreto de uma economia, num determinado momento no tempo, existirao sectores estrateegicos... definidos como sectores onde importa que a funcao de custos e benefiicios privados nao impere nas decisoes essenciais...
Mas porque ee que energia e aagua sao sectores estrateegicos? Nao duuvido, como escrevi acima, mas talvez se usarmos outra linguagem seraa mais faacil conversarmos...
Joao Farinha
Caa estaa o problema... nao tenho duuvidas que, em face do desafio de desenvolvimento concreto de uma economia, num determinado momento no tempo, existirao sectores estrateegicos... definidos como sectores onde importa que a funcao de custos e benefiicios privados nao impere nas decisoes essenciais...
Mas porque ee que energia e aagua sao sectores estrateegicos? Nao duuvido, como escrevi acima, mas talvez se usarmos outra linguagem seraa mais faacil conversarmos...
Joao Farinha
Creio que isto não tem a ver com a privatização da empresa mas sim com o facto de a a sua venda não ter alterado a situação de concorrência inexistente no mercado. A Golpe controla o mercado da refinaria e da distribuição.
A Golpe hoje recuou no aumento dos preços. Não pretendo que isso se deva aos apelos aos boicotes mas se persistirmos tal poderá vir a ser o caso.
Golpe na energia
"Utilizar o dinheiro de todos os portugueses para financiar a gasolina já se fez no passado, mas com consequências horríveis para a economia portuguesa. Isso é transferir (o peso do custo da gasolina) do consumidor para o contribuinte", afirmou o chefe do Executivo, invertendo papéis para perguntar aos jornalistas: "Acham bem que quem não tem carro financie a gasolina?".
Sócrates está a "ver o filme ao contrário" e a ser demagógico. Não se trata de pôr quem não tem carro a financiar a gasolina. Quem é que, não tendo carro, paga impostos ? Não devem ser muitos.
A verdade é que quem compra gasolina está a pagar um imposto especial, enorme, para alimentar a celulite do Estado. Quem nos dera pagar a gasolina e só a gasolina; para isso não precisaríamos da ajuda de ninguém.
Sócrates já devia ter percebido que hoje a gasolina é um artigo de primeira necessidade, que ter carro não é nenhum acto sumptuário. Os mais abastados até têm muitas vezes a gasolina paga pelas empresas (ou pelo ministério no caso de Sócrates), que depois "reflectem" os custos sobre os consumidores (o famoso mexilhão).
Os combustíveis são aliás um produto que, ao aumentar de preço, acaba por se repercutir no nível geral de preços ao consumidor. Por isso afecta toda a gente mesmo os tais "que não têm carro". Mas os que têm carro e não têm a gasolina "à borla" sofrem duplamente; quando enchem o depósito e também pelo aumento do preço de todos os outros produtos.
Por isso o governo devia estabelecer um limite para o preço da gasolina no retalho e garanti-lo durante pelo menos um ano através das reduções que fossem necessárias do Imposto sobre Produtos Petrolíferos. Mais tarde ou mais cedo será obrigado a fazê-lo sob pena de rupturas sociais e de insuportáveis limitações à mobilidade de consequências inimagináveis. Os cidadãos já apertaram o cinto suficientemente, agora é a vez do Governo.
Em paralelo é necessário garantir condições práticas para começar a reduzir aceleradamente a "dependência do crude". Isso é que devia estar a ser discutido, e feito, neste momento.
A causa dos altos preços colocados no consumidor são a intromissão do estado neste negócio. Uma maior ingerência seria pior. A Galp tem um monopólio com bênção do estado, e um administrador por si nomeado.
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