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As desigualdades (salariais e não só) entraram assim finalmente na agenda: «o disparo das remunerações dos gestores de topo e a estagnação, ou mesmo o recuo em termos reais dos salários médios» (
Luísa Bessa). O trabalho do
Jornal de Negócios parece ser esclarecedor e reforça a necessidade de se começar a pensar em mudanças nas regras do jogo e nas melhores instâncias (nacionais e supranacionais) para as efectuar. Acho que o injustificado aumento das desigualdades salariais também é, como já argumentei
aqui ou
aqui, o resultado da ideologia da «corporate governance», paralela à
financeirização do capitalismo, mais do que um sinal da sua ausência ou fracasso. Há aqui, como afirma
Helena Garrido, um «desequilíbrio de poderes». Entre proprietários, gestores e restantes trabalhadores. É claro que reverter estes padrões exige mudanças coordenadas a vário níveis, incluindo na legislação laboral (num sentido oposto ao que tem sido preconizado). Mudanças que reforcem a «voz» organizada dos trabalhadores dentro das empresas e em instâncias fortes de concertação fora delas. Aliás nunca é demais relembrar que a forma das empresas e os direitos e as obrigações dos seus diversos «stakeholders» são o resultado de decisões políticas que influenciam quem se apropria do quê e porquê. No fundo, também é o velho tema do liberalismo que não fica à porta da empresa (caso de
John Stuart Mill) - a
democracia nos locais de trabalho e as suas virtudes - que terá de regressar.
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