A actual subida dos preços alimentares tem causas diversas. Contudo, só a especulação parece poder explicar o crescimento exponencial dos preços num tão curto espaço de tempo. Esqueçam, no entanto, a clássica ideia do especulador a guardar cereais num armazém à espera de uma subida dos preços. Graças à liberalização financeira, qualquer um de nós pode converter-se num especulador através do mercado de futuros.
Este mercado não é novo e os objectivos por detrás dos contratos de futuros são positivos. Estes contratos permitem, por exemplo, que um agricultor venda a sua produção futura a um determinado preço, resguardando-se assim das eventuais oscilações de preços nos mercados afectos à sua produção. No entanto, a liberalização e descompartimentação dos mercados financeiros permitiram que este tipo de contrato se tornasse num apetecível investimento para os especuladores financeiros. Apostando na subida dos preços, um especulador comprará «futuros» de um determinado bem, que venderá mais tarde a preços mais altos graças à esperada «actualização» dos preços, desfazendo-se do seu contrato antes deste vencer. Um especulador não precisa assim de distinguir a soja do trigo...
Se este tipo de acção individual se converter numa vasta acção colectiva, como parece estar a acontecer nos mercados financeiros, a procura acrescida deste tipo de contrato causará um aumento do preço «futuro» dos bens em causa (uma «self-fulfilling prophecy»). Ora, se o preço futuro esperado pelos mercados aumenta, é natural que tal fenómeno influencie as decisões de compra e venda do presente, reflectindo-se o aumento esperado nos preços actuais.
Uma das soluções para a actual crise é pois a regulação financeira, que se deverá traduzir na separação de mercados, restrições de acesso, taxação das transacções (Taxa Tobin) e cuidada supervisão.
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2 comentários:
Ainda voltando às causas da subida dos preços dos alimentos no mundo, subscrevo inteiramente o conteúdo do postal.
A especulação financeira terá enorme peso quando comparada com as outras variáveis. Também não me parece que um aumento do consumo ou qualquer efeito do aquecimento global possam ter incidências quase instantâneas e de monta, no mercado.
De facto, o grosso da produção que entra no mercado – para consumo imediato (grande comércio) ou para o processamento/transformação - é negociado previamente com os produtores. Existem contratos de fornecimento com os intermediários, que os produtores procuram escrupulosamente cumprir, sob pena de perderem futuros negócios. Um rumor lançado, pode originar o frenesim que se conhece: Sell, sell, buy, sell, excel…
"Ora, se o preço futuro esperado pelos mercados aumenta, é natural que tal fenómeno influencie as decisões de compra e venda do presente, reflectindo-se o aumento esperado nos preços actuais."
eu tenho dificuldade em perceber como isso pode acontecer sem haver uma acumulação de cereal (ou lá o que for) fisico nalgum armazém: a mim parece-me que, se a subida do preço no mercado de futuros levar a uma subida de preço no presente, para um valor acima do ponto que equilibraria a oferta de cereal com a procura para consumo, isso implicaria que (devido aos altos preços) se consumisse menos cereal do que é produzido, logo teria que, algures entre o produtor e o consumidor, haver alguma acumulação de cereal, não?
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