quinta-feira, 10 de agosto de 2023

Há dez anos


Era lançado, em agosto, pela Tinta da China, «A Crise, a Troika e as Alternativas Urgentes». No poder, a maioria de direita de Passos e Portas executava um programa de austeridade que ia «além da troika». Cortes nos salários e pensões, retração dos serviços públicos, privatizações, desregulação laboral e indução deliberada do desemprego. Tudo em nome de um «empobrecimento competitivo» que iria relançar a economia portuguesa, no melhor esteio da «economia-do-pingo-que-não-pinga». «Não há alternativa», garantiam, citando Margaret Thatcher.

De autoria coletiva, «A Crise, a Troika e as Alternativas Urgentes» é uma resposta a esta ofensiva, partindo de nove questões-chave que procuram interpretar as verdadeiras origens da crise, compreender o que conduziu realmente à intervenção externa (desmontando a tese fraudulenta da «bancarrota», que ainda subsiste) e o significado do «programa de ajustamento», sinalizando o fracasso do mesmo nos seus próprios termos. Por fim, e depois de evidenciar em que medida as políticas de austeridade comprometiam o desenvolvimento do país, conduzindo-o a um «empobrecimento definitivo», o livro termina com uma análise das alternativas ao programa do governo e da troika.

Dez anos depois, há boas razões para revisitar este livro. Desde logo, por permitir constatar que era falsa a ideia de não haver alternativas. Mas também porque muitas das questões de fundo que o livro discute continuam em aberto, numa tensão latente que não se dissipou. Questões que, necessariamente, pelas nossas circunstâncias, continuarão a alimentar os debates essenciais sobre o futuro do país.

5 comentários:

Anónimo disse...

"sinalizando o fracasso do mesmo nos seus próprios termos"??? Como?

Nuno Serra disse...

Sugiro que leia, caro Desconhecido, se me permite.

TINA's Nemesis disse...

Para recuperar do trauma em que a população portuguesa se encontra reconhecer o que causou o trauma é necessário, não é fácil mas é inevitável se queremos recuperar.
Embora a Troika, específica de alguns países, seja também responsável pelo trauma não é a única razão. Antes da degeneração neoliberal do Capitalismo acontecer as sociedades do centro capitalista tinham determinadas expectativas, o Neoliberalismo desmantelou aquilo que criou as condições para que determinadas expectativas se reproduzissem.
As sociedades do centro capitalista estão em decadência, isto necessariamente causa trauma e negação, o trauma e a negação terão que ser ultrapassados para que consigamos gerar soluções.
Outra coisa difícil de concretizar é a derrota dos interesses que ganharam com o Neoliberalismo, os vencedores do atual paradigma neoliberal terão que ser derrotados e terão que ser desapossados de recursos.

Jose disse...

E quanto à balança de pagamentos, não há gráficos?
E já lá vão 11 anos...

Anónimo disse...

Em linha com o comentador das 12:15, penso que o primeiro recurso a ser desapossado deve ser a moeda ou a influência da mesma, a união entre iguais é sempre desejável e é uma aliança forte, o que temos é um castelo de cartas prestes a ruir.