Sandra Monteiro, O liberalismo ou a vida, Le Monde diplomatique - edição portuguesa, Fevereiro de 2023.
quarta-feira, 8 de fevereiro de 2023
Um jornal que elogia os sindicatos
Irá o ano de 2023 ficar marcado pela reconstrução das forças da direita neoliberal e ultraliberal ou pela reconstrução das forças que se opõem ao liberalismo, nas suas várias modalidades? (...) Em Portugal, como em toda a parte, o social-liberalismo está numa encruzilhada: ou escolhe o socialismo ou escolhe o liberalismo, sabendo que esta segunda hipótese o torna, muito possivelmente, responsável pelo crescimento do ultraliberalismo autoritário. A sociedade portuguesa está, entretanto, a dar mostras de ter atingido o seu limite de aceitação de sacrifícios e injustiças. Multiplicam-se acções de contestação social, em movimentos pelo direito à habitação e contra a especulação imobiliária, em greves do pessoal da saúde do Serviço Nacional de Saúde (SNS), na impressionante greve dos professores pela Escola pública (ver, nesta edição, o artigo de Mário Nogueira). A importância dos freios sindicais colocados aos apetites inigualitários do capital é há muito destacada neste jornal. Serge Halimi resumia essa importância, já em Abril de 2015, num editorial intitulado «Elogio dos sindicatos»: «Quando o sindicalismo, ponto de apoio histórico da maior parte dos avanços emancipadores, se apaga, tudo se degrada, tudo se fragmenta. A sua anemia só pode agudizar o apetite dos detentores do capital. E a sua ausência só pode libertar um espaço que é de imediato invadido pela extrema-direita e pelo fundamentalismo religioso, dedicando-se ambos a dividir grupos sociais cujo interesse seria mostrarem-se solidários.» É nesta presença solidária do movimento social e dos sindicatos, nas ruas e nos locais de trabalho, que pode radicar a esperança de 2023 ser um ano, não de reconstrução da direita, mas de reconstrução da vida.
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