segunda-feira, 13 de fevereiro de 2023
De quanta exploração se faz um empreendedor?
Acabei de ler o perfil de um grande empreendedor da nossa praça. A dado ponto refere que "é sócio de empresas focadas na produção de framboesas e mirtilos". Isto é, de empresas que detêm aquelas grandes estufas que alastram costa alentejana abaixo. Pensei logo de quanta exploração, suor e costas vergadas de migrantes é feito o seu "génio e talento". E duvido da firmeza moral de quem imediatamente não se questiona acerca do mesmo.
O muito moderado Almeida Garrett questionou, celebremente, ainda no segundo quartel do século XIX, "de quantos pobres se faz um rico?". Podemos hoje perguntar de quanta exploração se faz um empreendedor.
O artifício, esse, em nada se distingue do utilizado no século XIX. Glorificar e atribuir qualidades sobre-humanas aos que mobilizam capital, ocultando o trabalho subterrâneo de que se alimenta o seu sucesso, é parte essencial da legitimação do capitalismo.
Afinal, de que outra forma seria tolerável um sistema em que uma ampla maioria trabalha, por necessidade, para a acumulação ilimitada de recursos de uma estreita minoria?
O culto do empreendedorismo é só mais uma das muitas faces das narrativas de justificação do capitalismo.
(foto de Nuno Ferreira Santos)
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1 comentário:
Não me leve a mal, se é agricultura e sul, é bom pensar que são proprietários rurais alentejanos. Ora, é sabido que olham para o trabalho como o diabo olha para a cruz, com terror.
Em segundo lugar pense na carta de despedida do Saraiva da CIP. O que é que ele queria? Subsídios estatais - isso mesmo. Quantos ficam?
Quem fala de liberalismo nesta terra não sabe onde está. Andam todos ao mesmo: à cata do bendito subsídio.
Imagine um concelho alentejano, terra donde sou natural: tire os velhos, crianças e funcionários públicos. Quantos ficam? Agora tire os do set aside e do feoga e família. Quantos ficam? Quase ninguém.
Isto de liberalismo por cá é como o Professor Doutor Pedro Passos Coelho: comendo do estado é que é bom.
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