Na semana passada, confirmou-se que o BCE está apostado em praticar, com a Reserva Federal e outros bancos centrais, o actual desporto da luta de classes chamado recessão sincronizada, com um ciclo de subidas sem precedentes das taxas de juro. Ao prescrever, neste contexto, a retração da despesa pública, Lagarde regressa em força ao espírito da troika, à matriz original do BCE, depois de um parêntesis funcional, agora em versão austeridade real.
Numa excelente análise sobre a inflação puxada pelos custos, aproveitada pelas grandes empresas, e sobre as ficções macroeconómicas que obscurecem este padrão, James Galbraith resume o objectivo deste desporto: “O desemprego deve subir, os mercados de trabalho devem arrefecer, o capital deve ganhar e os trabalhadores devem perder. É assim que as coisas estão actualmente.”
Não é, aliás, por acaso que o CEO do Santander, quando apresenta lucros recorde, graças à política do BCE, fala de “pleno emprego”; e isto quando a taxa de desemprego oficial ainda está nos 6-7%. As Pessoas Muito Sérias são mesmo assim: o problema é sempre de quem trabalha e de quem quer trabalhar. É assim que as coisas estão, realmente, e não estão mesmo nada bem.
2 comentários:
Se o BCE tem como mandato a estabilidade dos preços e só esta, se a inflação está como está, das duas uma: ou faz o que faz ou viola o mandato. A não ser que o BCE tenha outra forma de baixar a inflação, coisa que nunca ouvi.
Quanto a isto ser a favor dos ricos, quer dizer, quem papa com a inflação são os pobres e remediados. Eu que o diga, papei com uma dentada de 20% no super, com o governo a dizer que assim é que se está bem.
Nós estamos a pagar um preço muito elevado por não termos posto na ordem estas “elites” logo após 2008.
Os movimentos “Indignados” e “Occupy Wallstreet” pecaram por serem ingénuos, a sociedade não conseguiu ver a colossal corrupção das “elites”, muita gente acreditou que se mudava as coisas pedindo cordialmente às “elites”… as “elites” e seus leais servos, os políticos e a comunicação social, esmagaram esses movimentos.
A revolta contra as “elites” é inevitável, estas “elites” demonstram uma e outra vez o quão corruptas são, o quão disponíveis estão para sacrificar milhões de seres humanos, países, continentes, o mundo.
Só há possibilidade de recuperação quando a ideologia dominante, chamem-lhe Neoliberalismo, for expurgada, até lá a nossa decadência vai continuar.
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