sábado, 18 de fevereiro de 2023

Das previsões da Moody's à incerteza da realidade

Segundo a Moody's, «o mercado imobiliário português corre o risco de sofrer uma forte correção nos preços», em virtude de «os três fatores que sustentaram o encarecimento da habitação na última década - procura da parte de investidores, baixas taxas de juro, e crescimento económico - estão a desaparecer». Ao que acresce, ainda segundo a agência de notação financeira, o facto de os preços do imobiliário em Portugal ultrapassarem o «valor intrínseco dos ativos», ou seja, encontram-se «sobrevalorizados e em risco de queda».

Sendo certo que o aumento vertiginoso dos preços das casas nos últimos anos não é um exclusivo de Portugal, tendo-se observado um pouco por toda a Europa, sobretudo desde 2013 - indiciando precisamente uma procura, nacional e internacional, na lógica da constituição de ativos financeiros, a par de dinâmicas associadas ao turismo - o nosso país continua a ser um dos que apresenta valores de compra comparativamente mais atrativos, à escala da União Europeia. O que pode ajudar a explicar por que razão Portugal não é um dos países em que já se regista uma descida de preços.


Por outro lado, sendo verdade que Lisboa surge ligeiramente acima da média quando se trata de comparar os preços de venda de imóveis à escala das capitais europeias (UE25), também é certo que as capitais que ficam abaixo dessa média são, na maior parte dos casos, capitais do leste europeu, as quais, por diversas razões, podem não ser tão atrativas para um certo perfil de preferência da procura internacional (nomeadamente na vertente das segundas habitações).

Não é por isso assim tão líquido que, como prevê a Moody's, estejamos em vias de assistir a «uma forte correção nos preços» no mercado imobiliário português. Tudo dependerá, na verdade, de a habitação continuar, ou não, a ser atrativa em termos de aplicação de investimentos financeiros, incluindo os de natureza meramente especulativa. E, se assim for, diversos de fatores - como o clima, a segurança, o custo de vida, a gastronomia, o acesso à saúde, etc. - podem continuar a tornar o nosso país muito atrativo para este tipo de investimentos. Tudo coisas que, bem o sabemos, tendem a ser ignoradas nas folhas de cálculo das agências de notação financeira.

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