Uma forma de começar este post poderia ser "Vicente Jorge Silva (VJS) é um europeísta fanático, tão grosseiro e vesgo que não se importa de aceitar a eliminação acelerada dos direitos laborais e a destruição das bases em que assenta o modelo social europeu para garantir que a União Europeia jamais será posta em causa".
Se o meu texto começasse assim, não estaria a fazer mais o que VJS faz no seu artigo de opinião no Público de hoje - a lançar um anátema injustificado sobre alguém de cujas posições discordo, para tentar descredibilizar a sua posição. A verdade é que não sei se a frase que escrevi entre aspas é verdadeira e desconfio que não seja. Mas sei que a forma como VJS descreve as posições do PCP e do BE sobre as eleições francesas e sobre o processo de integração europeia não passa de uma triste caricatura.
Há cerca de 20 anos que ensino, investigo e escrevo sobre o processo de integração europeia. Li grande parte do que se publicou em Portugal sobre o tema desde meados dos anos oitenta, incluindo as posições dos vários partidos políticos. Mesmo que nem sempre me tenha revisto em todas as posições sobre o assunto, tenho para mim claro que o PCP foi durante muitos anos o único partido político em Portugal que se dedicou a uma análise rigorosa e sistemática do processo de integração europeia – enquanto os restantes partidos aderiam a um europeísmo pueril, desprovido de fundamento técnico e essencialmente despreocupado com as implicações que o processo de integração europeia teria, para Portugal e não só. Quanto ao BE, classificá-lo de "anti-europeísmo primário" é ignorar que durante muitos anos este partido se demarcou dos comunistas precisamente com base no apoio à integração europeia. O distanciamento deste partido face à UE que realmente existe (por comparação com uma União por muitos idealizada) foi um parto difícil, exigindo aos bloquistas uma elaboração da análise sobre a integração económica - em particular, sobre a união monetária - que os partidos europeístas (nomeadamente, PS, PSD e CDS) dispensaram.
Não vou dizer de Vicente Jorge Silva que é um europeísta fanático, grosseiro e vesgo. Mas digo que a sua forma de discutir divergências é muito pouco salutar e demonstrativa de alguma preguiça mental da parte de alguém de quem se esperaria mais.
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20 comentários:
Retribuindo mimos que nos votou, o que sei é que Vicente Jorge silva é um pensador rasca que ajudou a que paguemos das mais caras propinas universitárias europeias, e de peso esmagador nos orçamentos familiares portugueses.
O que releva nesta conversa sobre a UE é que o internacionalismo proposto pela esquerda para atacar um capitalismo europeu dito imperialista, teve por resposta uma globalização que agora dizem ameaçar o modelo social europeu.
O imperialismo que sustentava esse modelo é agora proposto pela esquerda a par, no habitual cenário dúbio, de um internacionalismo de importação de emigrados que garantiria pôr o modelo em crise.
Órfã do discurso da ditadura do proletariado, mantendo-se sem cuidar de ser coerente ou eficaz, a esquerda limita-se às ladainhas que julgam sustentar a sua 'superioridade moral' que é tudo quanto acredita ser exigido para aceder ao poder.
E mostra-se surpreendida quando se aproxima da extrema direita, num déjà vu que só não é ridículo porque é trágico.
Bom, sabe, as análises, por mais cuidadosas que sejam, voam todas em face da tentativa de as pessoas se fazerem de parvas, ou fazerem de nós parvos. Nos últimos dias, a Esquerda à Esquerda do PS discutiu com toda a solenidade o argumento que corre em França, Macron 2017=Le Pen 2022. Alguém comparou isto no Libé, creio, a uma pessoa que tem medo da chuva e por isso se deita à água. Curiosamente, e logo desde a eleição, os comunistas franceses não tiveram qualquer dúvida, contrariamente ao Sr. Mélenchon, em quem é o adversário que deverão combater a seguir às Presidenciais e quem é o inimigo a derrotar nelas: http://www.liberation.fr/direct/element/le-pcf-appelle-a-voter-macron-puis-a-le-combattre-apres-lelection_62541/. Depois, era igualmente bom que BE e PCP-PEV fossem capazes de revelar, também ao nível retórico, a flexibilidade que revelaram quer na criação da Geringonça quer, por exemplo, no caso do BE, na discussão sobre a renegociação da dívida (onde o Ricardo Paes Mamede teve assento, segundo creio). É que propor que se comece por partir tudo não é exatamente muito auspicioso e quem o diz são um conjunto de economistas críticos do Euro. Fazem-no a propósito das políticas económicas de Le Pen, mas as suas críticas vão cair direitinhas no colinho das Esquerdas (e não, não estou a confundir Le Pen com as Esquerdas): http://www.lemonde.fr/idees/article/2017/04/18/25-nobel-d-economie-denoncent-les-programmes-anti-europeens_5112711_3232.html. Se querem ser levados a sério, não basta ser-se sério na análise e sobretudo na crítica (é fácil criticar-se os outros é mais díficil ser-se auto-crítico, sobretudo para fora), é preciso ser-se sério e detalhado nas propostas e assumir os seus riscos e oportunidades (para mitigar uns e aproveitar as outras, desde logo). Finalmente, se o irrita tanto o exagero retórico de VJS, deveria igualmente cuidar de dizer que essa história do 'ni-ni' é uma treta que se arrisca a instalar uma neo-fascista no poder em França. As pessoas de centro também são suscetíveis e estão fartas de serem metidas no mesmo saco dos capitalistas predadores e dos fascistas. Ou acha o Ricardo Paes Mamede que só o BE e o PCP-PEV é que têm direito ao exagero retórico e à eventual demagogia? Por estes lados (Centro Político) também sabemos usar esses instrumentos e não recebemos lições de Democracia, sobretudo vindas de quem, historicamente, teve em relação a ela uma relação bem ambivalente... Por isso, devo dizer-lhe que esse seu arrancar de vestes não me impressiona nada...
O Ricardo Paes Mamede só se manifesta quando a esquerda europeísta passa das marcas, mas cala-se quando os seus companheiros de blog insultam e escrevem coisas deste jaez:
“… são os mesmos que recusam encarar a verdade e que contribuem para a mentira…”
“… são os melhores aliados institucionais de Le Pen."
Dois pesos e duas medidas.
José Neves
Ó olharapo José:
Como conseguiste atribuir todos os defeitos à esquerda, sobram-te para ti, e para os teus correligionários direitolas, todas as virtudes do mundo.
És um virtuoso.
Só não consigo perceber como, com tanta virtude, continuas a dizer tanta barbaridade.
Aqui:
«Dos testículos e das vacinas»
João Pires da Cruz
http://observador.pt/opiniao/dos-testiculos-e-das-vacinas/
«Mas quem haveria de pagar?»
João Pires da Cruz
http://observador.pt/opiniao/mas-quem-haveria-de-pagar/
Anda por aqui um idiota ou infiltrado a propagandear os escritos de um tal Cruz no Observador.
Ah, o VJS, já me tinham dito…deixai-o escrever a´ vontade, ele já não consegue distinguir a mentira. Depois de tantos anos de anticomunismo ele só pode regurgitar isso mesmo.
Andam os franceses preocupados com a sua vida, sem saber bem como resolver este problema bicudo que lhes apareceu e zas, os VJS´S ca´ do burgo aparecem com a solução pronta… O quê? A Marine, aquela que quer a Independência de França, aquela que não quer que a França preste vassalagem ao Imperio do Tio Sam…essa nunca! A tal que quer moeda nacional tem de ficar fora de linha… o escravo dos barões de Rostchild e´ que e´ bom!!! de Adelino Silva
Se em vez do Macron e os seus apoiantes portugueses , deixassem de fazer campanha por uma UE que já era, e de um euro moribundo, atacassem o ódio , o racismo, a exclusão, a xenófobia , que são o único cimento da candidatura fascista da Le Pen, aí mereciam todo o apoio. Mas lá como cá estão mais preocupados a atacar a esquerda, a Le Pen agradece-lhes, pois estão-lhe a atapetar o caminho.
Pode-se discordar do que Ricardo Paes Mamede diz. Pode-se dizer a reboque os maiores disparates sobre o tema, acorrentados a um texto ignóbil de Vicente Jorge Silva. Já lá iremos.
Mas ninguém pode negar a classe com que RPM escreve sobre o tema. A classe, o tom certo e pedagógico, desprovido daquela rasquice que acompanha por aí alguns dos mais assanhados curadores do europeísmo fanático.
Um prazer ler textos inteligentes. Também uma bofetada de luva branca sobre quem não consegue manter níveis mínimos
Da conversa do sujeito das 16 e 32, um tal de nickname jose, ficamos a perceber até onde vai a indigência intelectual ( ou a falta de escrúpulos).
Vejamos:
Parece que o que releva nesta conversa (qual "conversa"?) não é a denúncia dum artigo vergonhoso de VJS mas sim um "internacionalismo proposto pela esquerda para atacar um capitalismo europeu dito imperialista que teve por resposta uma globalização que agora dizem ameaçar o modelo social europeu"
Não se riam por favor que o assunto é sério. "Isto" é produto duma ruminação brilhante. Tradução quase exacta da kultura de uma percentagem importante do nosso patronato: medíocre, inculto, grosseiro, ignorante mas a dar ares de pavão
Mas a "coisa" escrita continua, sublinhando-se que continuamos no que "releva" do excelente texto de RPM.
Parece que o imperialismo é agora proposto pela esquerda a par de um internacionalismo de importação de emigrados. Para além da vontade da gargalhada imediata, acentua-se a noção que estamos perante uma significativa ausência de escrúpulos e dum piscar de olhos maroto à le Pen e ao Macron. O pequeno remoque ao "modelo social europeu" é agora ultrapassado por um ar fétido de racismo e de xenofobia.
Eis o elo de ligação entre le Pen e Macron?
A extrema-direita a mostrar o motivo pelo qual se aproxima dos barões da finança( ou vice-versa?) Mas isto não é um deja vu. Isto é pura e simplesmente a rotina
Mas sosseguem os mais apressados.
Voltamos presto à indigência intelectual.Parece que a esquerda é órfã, coitada, e ainda por cima do discurso. E não cuida de ser coerente ( ah, a malandra) nem de ser eficaz.
O motivo pelo qual vemos alguém como este tipo a verter lagrimazitas de inquietação pela pouca eficácia da esquerda é todo um programa. Que define não só um estilo, um carácter (ou a sua ausência) mas também a competência "técnica" desta malta que julga que somos todos parvos.
Não é por nada. Mas este tipo ainda se arrisca mesmo a ser contratado como perito pelo tal patronato referido aí atrás
Infelizmente Jaime Santos tenta justificar as enormidades de Vicente Jorge Silva.
Mas fá-lo ancorado em argumentos do género " as pessoas se fazerem de parvas, ou fazerem de nós parvos".
Ou em argumentos aquáticos (!) sobre o medo da chuva e da água, instando os demais a terem que levar com as enxurradas dos outros. A que se segue um registo atarantado e muito pouco esclarecedor que quase remata com a crítica e auto-crítica, a fazer lembrar os tempos do VJS a militar na extrema-esquerda.
Infelizmente JS no seu ímpeto assume-se já, não como simpatizante socialista, mas como militante embevecido do Centro político , assumindo, como Valls e Hollande, as cores de Macron que como se sabe fizeram campanha por este último. Traições que se registam e sublinham (não as de JS, mas da canalha que dirigiu desta forma o PS e que permitiu a ida à segunda volta da candidata da extrema-direita, é bom não esquecer).
Um pormenor intrigante. Quando JS se lastima da susceptibilidade das pessoas do centro estando fartas de serem metidas no mesmo saco "dos capitalistas predadores e dos fascistas"...
A quem se referirá JS? Ao macron, o capitalista predadora ou a le Pen, a fascista?
Mas então é fácil a solução. É afastarem-se de tais coisas. Afinal quem não quer ser lobo não lhe veste a pele
É preciso seriedade no debate e esta passa necessariamente pela coerência dos princípios.
Quando Jaime Santos, numa tentativa para defender Vicente Silva, afirma que as "pessoas de centro são suscetíveis e estão fartas de serem metidas no mesmo saco dos capitalistas predadores e dos fascista" está com toda a certeza perfeitamente esquecido do que andou a dizer durante todo o Brexit e no período de tempo imediatamente a seguir.
Mais. Está completamente desmemoriado do que tem andado a dizer por aqui, ao tentar colar todos os que não cumprem os seus desígnios ideológicos à extrema-direita e ao racismo.
Um mínimo de coerência porque senão a argumentação aparece apenas como pura hipocrisia. E mais alguma coisa que seria agora excessivo citar
Vamos dar a palavra a Melenchon, nas palavras dum jornal que não tem nada de revolucionário - o DN:
O líder de esquerda francês Jean-Luc Mélenchon sugeriu hoje ao candidato presidencial Emmanuel Macron um "gesto político" para com o seu movimento, argumentando que sem diálogo poderá perder as eleições para Marine Le Pen, candidata da extrema-direita.
"Em vez de me insultar e de torcer o braço aos meus amigos, porque não faz um gesto, não tenta falar aos insubmissos (membros do movimento de esquerda A França Insubmissa), por exemplo afastando a sua ideia de rever a lei do trabalho? Ele está a correr riscos ao fazer o que fez", disse Mélenchon, numa entrevista à estação televisiva TF1.
"Na segunda volta, vamos livrar-nos de Le Pen e, num mês, das políticas de Macron, porque este homem é incapaz de dirigir o país", acrescentou.
Mélenchon disse que Marine Le Pen é tão radical como o seu pai, Jean-Marie Le Pen - condenado por racismo e "negacionismo" histórico - e desmentiu os que o acusam de indefinição numa altura em que é preciso travar a extrema-direita.
"A minha posição não é a de 'nem-nem' (nem um, nem outro). A todos os que me ouvem, digo-lhes que sobretudo não votem na Frente Nacional (FN)", o partido de Le Pen, sustentou.
Esclareceu também porque é que a sua posição em relação à necessidade de deter a extrema-direita nestas eleições difere tanto da que assumiu em 2002, quando, ainda como militante socialista, instou ao voto no conservador Jacques Chirac, contra Jean-Marie Le Pen, "com molas no nariz".
"Em 2002, pensei que era um acidente. Mas depois, em todas as eleições, obrigam-nos a votar contrariados. Todos se esqueceram de que, nas regionais de 2015 (ganhas pela FN), pedi uma frente republicana [contra a extrema-direita], o que corresponde a dar o título de bombeiro aos pirómanos", comentou, referindo-se às políticas dos partidos tradicionais"
Eis alguém com um discurso muito coerente e que está a anos luz do borrão demagógico e aldrabão que VJS ou JS fazem.
O Melanchon já se contentava com a não revisão da lei laboral?
Tanta insubmissão impressiona!
Já é demasiado abusivo, para não escrever insultuoso, tentar fazer passar a toda a hora (e até gente que se diz progressista...) a ideia de que ser soberanista ou patriota não é «cool»... Para esse pessoal moderno e «práfrentex», ser a favor da Pátria e da soberania nacional - designadamente a soberania de emitir moeda própria - é uma coisa retrógrada e própria de «velhadas» do século XX... Pelos vistos nem comentários xenófobos de gente mesquinha que alguém pôs à frente dos destinos da «união» Europeia, os faz acordar para a triste realidade.
Tanta insubmissão impressiona o tipo que mostrava os seus conhecimentos sobre o que "releva" na conversa.
Precisamente esta é uma área sensível para aquele sector do patronato medíocre, rasca e caceteiro.
O sujeitinho esconde agora a xenofobia e chega-se deste modo à frente para assumir mesmo um contrato como perito pelo tal patronato referido aí atrás?
Mas percebe-se o incómodo duplo desse tal de nickname Jose.
Voltamos mais uma vez à indigência intelectual.Parece que a insubmissão face à lei do trabalho perturba o sujeito. Para além de não ser eficaz não é suficientemente insubmissa.
O motivo pelo qual vemos alguém como este tipo a verter lagrimazitas de inquietação pela pouca eficácia da esquerda e pela pouca insubmissão a Macron e à lei laboral é todo um programa. Que define não só um estilo, um carácter (ou a sua ausência) mas também a competência "técnica" desta malta que julga que somos todos parvos.
O que fará este tipo pela sua postura ideológica e por um lugar lá como perito destes grandes patrões?
Tem toda a razao Pais Mamede. Apenas uma duvida: a ideia de "modelo social europeu" foi ou nao uma criacao imaginosa de alguma social democracia, para intervir politicamente no debate de ideias e na luta politica no espaço europeu, que foi derrotada pela estrutura neoliberal e pelos seus representantes politicos? sera altura de rever criticamente o uso dessa ideia?
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