sexta-feira, 14 de abril de 2017

Pagamos, mas não mandamos?


O secretário de Estado adjunto e das Finanças, Mourinho Félix, confrontou, em nome da dignidade do país, o presidente do Eurogrupo, Jeroen Dijsselbloem, com as suas infames declarações sobre “copos e mulheres”. No entanto, o mesmo responsável político nacional tem sido um dos rostos da indigna submissão governamental ao princípio europeu do “pagam, mas não mandam”, que tem estado em vigor na reestruturação do nosso sistema bancário, tendo declarado, em entrevista à RTP, face à alternativa sensata da nacionalização do Novo Banco: “Seria difícil de justificar perante toda a gente, diria eu, que o Estado poderia ter uma tal participação no sector financeiro.”

É preciso desde já denunciar que esta “toda a gente” não é fundamentalmente a gente deste país, mas sim quem hoje comanda a banca neste país: a Comissão Europeia, em particular a sua todo-poderosa Direcção-Geral da Concorrência, e o Banco Central Europeu (BCE), autênticos comités executivos supranacionais para a gestão dos assuntos regulatórios e monetários do capital financeiro nesta zona. As instituições europeias têm usado o país como cobaia de mal sucedidas experiências de resolução bancária. A sua lógica é clara: nacionalizar, de forma tão opaca quanto possível, os prejuízos do sector bancário e internacionalizar a sua propriedade. Desta forma, impede-se o reforço da propriedade pública, que naturalmente adviria da canalização, já efectivada, de milhares de milhões de euros de recursos públicos para a banca.

O resto do artigo pode ser lido no Público.

4 comentários:

Anónimo disse...

Pagamos, mas não mandamos
Há muito mas muito tempo que andamos a dizer que o capital e quem o possui não têm pátria.
Também há muito que sabemos que nunca mudarão de sentido! São milénios, meus amigos, de “paga e não bufes” ou “do mal, o menos” que nos vêm caracterizando.
Também sabemos que somos os principais alimentadores desse mesmo capital e capitalistas. Por isso mesmo vos digo que e´ chegada a hora de ganhar coragem para afastar de vez a nossa cobardia!
Como humanos deixamos de ser colonia para passarmos a ser um laboratório de inofensivas cobaias.
Só desejo que na revolução que se aproxima as rédeas da governança sejam agarradas, firmemente, pelos verdadeiros fazedouros de riqueza. de Adelino Silva

Anónimo disse...

Mais uma vez um comentário lúcido de João Rodrigues. Esta UE é o descalabro dos povos.

Jaime Santos disse...

No essencial, concordo com a análise. Uma das consequências da crise de 2008 foi a transferência de perdas da banca para o Estado através de empréstimos massivos do último à primeira. Nos Países onde existem instrumentos para o Estado atuar (Reino Unido, Alemanha, EUA) optou-se por entradas de capital do Estado na banca ou mesmo nacionalizações, seguidas de privatizações. Em Portugal, o que o Estado fez com o BANIF e agora com o NB foi, em bom Português, pagar para que o libertassem dos monos. A alternativa era, claro, a nacionalização, que, como se sabe, foi tentada e falhou redondamente no BPN. A solução presente no NB não é famosa mas permite, promete-nos o Governo, limitar as futuras perdas públicas (além de distribuir o eventual investimento público no tempo, o que não é despiciendo). Sabendo nós o desastre que foi a nacionalização do BPN, eu atrevo-me a dar o benefício da dúvida a Costa, Centeno e Mourinho Félix. E, esperemos que a sangria não continue lá para os lados do Montepio, porque a falência do Lehmann Brothers mostrou que, como bem diz, este é um setor que é demasiado grande para falhar. No único País em que se deixaram falir os bancos, a Islândia, o tamanho do setor bancário era de tal ordem relativo ao PIB local que não havia alternativa (e também aí a Social-Democracia anda pelas ruas da amargura, curiosamente, apesar do recurso a outra receita política) e as perdas dos depositantes estrangeiros foram assumidas pelos seus Governos, se bem me lembro. O problema é que onde o João Rodrigues dirá que os instrumentos que referi acima são uma política orçamental independente e uma moeda própria, eu digo-lhe que o problema é bem mais simples e chama-se, muito simplesmente, falta de capacidade de endividamento. E eu já vi o País falhar duas vezes antes, com moeda própria, na primeira das quais por causa dessa coisa que o João Rodrigues chama a 'Economia de Abril', a segunda devido à política orçamental do Governo AD, onde pontificava como Ministro das Finanças um senhor chamado Cavaco Silva. E vi igualmente a França votar nessa esperança chamada Mitterrand para dois anos depois ele ser obrigado a virar 180 graus, o que valeu os galões a uma das 'betes noires' do João Rodrigues, o senhor Jacques Delors. Pelo menos, Hamon reconhece o falhanço de Mitterrand em entrevista recente, mas explica-o com base em fatores conjunturais. Ainda estou para perceber a que instituições irá Portugal recorrer se sair do Euro e declarar um default unilateral, porque não vejo ninguém dizer que nos devemos bastar a nós próprios e não recorrer ao crédito, ou então que condições estão o Joao Rodrigues e outros anti-austeritários dispostos a aceitar (leia-se que medidas de austeridade) para que nos continuem a emprestar dinheiro. Em qualquer dos casos, duvido muito que a reposição de rendimentos que a presente solução governativa permite continue com o País sujeito a pressões inflacionistas (a inflação em França nos idos de 1981-1983 andou nos dois dígitos e por cá era bem pior, lembra-se?). Registo ainda a sua defesa da repressão monetária, que é um termo de novi-língua que quer essencialmente dizer que se lança um imposto sobre os depósitos bancários, a par da inflação que é outro (alguém acaba sempre a pagar a conta, claro). Por isso, seria cortês que completasse as suas análises e em vez de se limitar a um diagnóstico, explicasse às pessoas quais as consequências e os riscos das políticas que propõe em termos menos genéricos... E lembre-se que aquilo que não funciona não é lá muito moral...

Anónimo disse...

Jaime Santos não vê.

Mas vê as contas a pagar. Perdão, vê apenas algumas contas.

Pena que continue a não ver aquilo que a cada dia que passa cada vez mais pessoas vêem. É que as contas por pagar chegam quotidianamente.

Bora lá ver o que pagámos à banca provada?