sábado, 1 de abril de 2017

Como minar as alianças de esquerda


Avaria no metropolitano de Lisboa e compasso de espera em hora de ponta
A manchete do Expresso - a de que Mário Centeno teria sido sondado para substituir o ministro das Finanças holandês na presidência no Europgrupo - dá a ideia da fragilidade que se vive na UE.

A notícia é dada como sendo uma preocupação dos socialistas europeus que estariam a procurar um representante do sul da Europa. E que António Costa não quereria que o seu ministro andasse repartido entre Lisboa e Bruxelas.

Olhando de muito de cima, a ideia que me passa pela cabeça é precisamente a contrária: trata-se de uma forma de atar os socialistas do sul da Europa a uma tentativa de conciliação com aquilo que questionam - a virtude da política de austeridade. "Presos" na liderança do eurogrupo, teriam de ter opiniões mais conciliadoras entre o "hard core" da austeridade e os seus críticos. E teriam até de mudar o seu discurso, com consequências para qualquer tentativa de exportação da ideia de uma aliança da esquerda para outros países.

Esta meia dúzia de moedas e protagonismo, seria o primeiro passo para pertencer ao "pelotão da frente", com que a direita europeia está a tentar prender os socialistas. Veremos se os socialistas respeitam a vontade que cresce na Europa ou se dão o braço, de novo, a um pensamento de direita europeu. Já participaram na criação de uma moeda única desequilibrada, já enalteceram as vantagens de política restritiva, de um Tratado de Lisboa, do Tratado Orçamental. Conviria que os socialistas repensassem o seu papel na História. 

Por isso - espero que seja por isso - Costa não quer Centeno dividido entre Bruxelas e Portugal. Não que se trate de um problema de viagens aéreas e tempo repartido, mas mais de divisão de pensamento. Quem seria o ministro das Finanças português: ele ou o presidente do europrupo? Aqui entre nós, acho que Centeno até se deve sentir tentado a assumir estas funções. Mas esperemos que Costa e Centeno caiam em si e percebam que há valores bem mais altos a defender. E com mais pessoas por detrás.

Os socialistas terão em breve que optar. Cá e lá. E convinha que o fizessem bem. Para nosso bem, para o bem dos socialistas. Eu, se fosse socialista, sentiria uma vergonha alheia do tamanho da UE, depois do que se passou com todo o papel de Dijsselbloem.Não principalmente por causa das "mulheres e copos", mas sim pelo seu lastimável resultado eleitoral.

9 comentários:

Anónimo disse...

Manchete do Expresso?

Parece-me antes manchete da Renascença ou isso:


http://rr.sapo.pt/noticia/79754/carlos_moedas_centeno_presidente_do_eurogrupo_gosto_sempre_de_ver_portugueses_na_europa

Jaime Santos disse...

A questão, João Ramos de Almeida, é optar entre a UE presente ou eventualmente um modelo mais integrado (ou porventura reformado, mesmo se ninguém acredita nisso) e o quê? O keynesianismo falido dos anos 70 que abriu caminho a Thatcher e Reagan, numa sociedade onde a evolução tecnológica torna algumas pessoas redundantes? As 'perspetivas revolucionárias' do Jerónimo de Sousa, seja lá o que isso for, depois do colapso com estrondo da URSS, sendo que parece que desse colapso as forças mais à Esquerda só tiraram as conclusões erradas e continuam a não perceber as falhas sistémicas do dito sistema, para além do seu inerente autoritarismo (para quem fala tanto de Soberania, e depois reduz o Povo a uma condição abstrata em que as maiorias conjunturais não desempenham nenhum papel de relevo, estamos conversados)? É que muito sinceramente, para além do arrancar de vestes perante o neoliberalismo, não percebo bem o que as forças de Esquerda querem e sobretudo, como pretendem consegui-lo (ouve-se muito falar de reestruturação de dívida, mas ninguém percebe como é que o País irá continuar a endividar-se nos 'Mercados' depois disso, coisa que ninguém parece querer excluir ou pelo menos assumir que quer excluir, transformando o País numa espécie de Cuba). Convinha que existisse um programa de ação consistente, partindo dos constrangimentos que existem, que indicasse objetivos e sobretudo caminhos e políticas para chegar lá, que não se limitem a mendigar mais qualquer coisa ao Orçamento de Estado. Eu percebo que deixou de existir tecnocracia à Esquerda. Longe vão os tempos em que no PCP militavam Vital Moreira, Gomes Canotilho ou o saudoso Barros Moura. Mas não fiquem à espera que seja o PS a ter que fazer esse trabalho, preparem o terreno com algo mais do que slogans vazios. Se há coisa que se nota é que, tirando na Grécia (com o triste estado em que se encontra o Syriza hoje) e talvez na Espanha, os Partidos de Esquerda (tirando os ecologistas pró-europeus) têm aproveitado zero da decadência da Social-Democracia. P.S. Ah, pois, Centeno tem mesmo mais que fazer, pelo que assumir a Presidência do Eurogrupo é uma péssima ideia...

Anónimo disse...


“Pertencer ao "pelotão da frente", com que a direita europeia está a tentar prender os socialistas“.
Quem pensar que a “direita social democratizante” desiste do seu papel conciliador de classes pode esquecer!
As hossanas e cantatas elogiando as “heresias” do governo António Costa, não são mais que gemidos de um tempo, de uma Esquerda em desfase. Ao considerar o actual governo melhor que o anterior não quero dizer que o acaricie. Sim, não me tem sido fácil aceitar tal desiderato.
Tem sido bom para os europeístas de todos os matizes anti-austeritarianos, um governo que mais não serve senão para arrumar o casebre. E entretanto as bases operárias vão-se deixando embalar neste dick-tack repositivo de meias verdades.
Carrego muitas duvidas comigo… As certezas são dúbias. Ainda que veja no Partido Socialista um acérrimo defensor do postulado unionista. de Adelino Silva

jmramalho disse...

Quando assumiu funções, o Mário Centeno não passava de mais um académico com um currículo brilhante mas sem experiência de funções governativas. E, todos esperavam que, seguindo o exemplo de famoso Gaspar, desse com os "burros na água" e arranjasse um tacho lá para o FMI ou ao pé do Barroso na Goldman Sachs. Todavia, o Centeno acertou nas contas e colocou em causa as políticas de austeridade do Schaulbe e quejandos. Vai daí, tentaram derrubá-lo com a estória dos SMSss,que foi abafada com o escândalo das Núncio - Off-shores. ... Como existe um "risco", muito grande, do dito Centeno voltar a acertar nas contas, ridicularizando novamente os "austeritários", estes seguindo a velha estratégia de "comprar" quem se opõe e não se consegue destruir doutra maneira, vai daí, nada melhor que colocá-lo a substituir o falsificador de currículos, num cargo em que aparecesse ao lado deles.
Tudo normal e dentro do paradigma em que se tornou a burocracia europeia, composta principalmente por gente impreparada, principescamente remunerada e principalmente, engajada.

Anónimo disse...

A traição da social - democracia paga- se caro. Como se vê por essa Europa fora.

Anónimo disse...

Pensei que essa notícia era alusiva ao dia 1 de Abril...

Jose disse...

U ridículo da coisa é ainda considerarem que a política não austertária está disponível para os endividados.
Lá porque aceleraram a reposição dos cortes à clientela à custa de mais impostos e de menos investimento, acabou austeridade?
O mantra da ´política alternativa mantém o seu karma apesar dos factos, mas fica-se por aí!
As políticas serão diferentes mas o regresso ao passado não será política.
E a esquerda dos coitadinhos só será admitida se não houver demasiados coitadinhos.

Seria interessante ver o ministro a exigir reformas em Bruxelas e a conformar-se com o reacionarismo geringonço em Lisboa.

esteves,ayres disse...

A tal democracia burguesa, tem destas coisas!

Alguém dizia num dos jornais mais lidos em Portugal(tem haver com o preço), numa das sua crónicas: "Sou livre e ajo com liberdade nenhum interesse material, politico, económico, social, ou outro tem poder para coartar a minha liberdade"!

Eu diria, não existe liberdade de expressão , e se ela existe, é só para alguns, para as elites!

E mais não digo, porque posso ser multado ou preso....

Anónimo disse...

Há aí um tipo enrolado em mantras e Karmas que, aleivoso, continua a fazer olhinhos ao processo austeritário e aos credores.
E investe cheio daquela raiva característica de quem ainda não engoliu os resultados eleitorais de 2015: "clientelas, mais impostos, menos investimento.

Este era o tipo que se babava pelas clientelas patronais, assumindo o papel de vigário mor de tais tipos. Mas sobretudo o tipo que promovia e promove os credores, agiotas e suas clientelas, com que se identifica e colabora.

Este é o tipo que fala em impostos, mas "esquece-se que o maior aumento destes se registou no período da miserável governação de Passos/ Portas e que na altura berrava por mais impostos extraordinários e insultava o Tribunal Constitucional

Este é o tipo que se esganiçava de cada vez que ouvia falar em investimento público.

"Coitadinhos" repete até à exaustão, numa marca inconfundível de amplificação da pesporrência altiva e pedante de Passos quando, do alto da sua pulhice, intimava os demais a sair da sua zona de conforto, invocando o despedimento como "oportunidade".

Mas a sua perpétua inquietação e rancor furibundo contra os "coitadinhos" é também a marca maior dum que assume a besta humana da desigualdade como modelo a seguir

O cómico ( ou não) da questão é que quando lhe mexem nos seus interesses ou nos seus, seja Cavaco ou Passos, seja Núncio ou Barroso, temo-lo a fazer esse mesmo papel de coitadinho sem vergonha e de forma abjecta