sábado, 2 de julho de 2016

A grande preocupação da Alemanha


Em apenas uns dias, dois alemães mencionaram a situação de Portugal. O ministro das Finanças Schauble falou do risco de um novo resgate a Portugal (ver versão original) e, quase que por mimetismo, o director do próprio Fundo de Resgate veio corroborar as razões dessas declarações.

Schauble disse que "Portugal cometeria um sério erro se não eles aderem àquilo a que se tinham comprometido. Terão de pedir um novo programa [de assistência financeira] e tê-lo-ão". Assim tal e qual: "eles". Klaus Regling foi mais elaborado: que "independentemente do Brexit", o "único país" com que está "preocupado" é Portugal. Porquê? Porque "está a reverter as reformas" e "Portugal está outra vez a tornar-se menos competitivo em resultado disso". "Temos que prestar atenção ao que vai acontecer".

A descida do desemprego é, de facto, um mau sinal para quem comanda a política vinda da União Europeia. Todo o programa de ajustamento económico e financeiro de 2011 foi construído para provocar uma descida de rendimentos, mas igualmente uma subida do desemprego que: 1) contribuísse para diminuir a procura interna e a procura de bens não transaccionáveis, mas sobretudo; 2) que pressionasse a uma descida mais permanente do nível médio salarial, inclusivamente que os trabalhadores aceitassem uma descida dos salários nominais, por forma a injectar novas condições de produção aos sectores de bens transaccionáveis.

Não foi por acaso que o salário mínimo não subiu ao longo do PAEF. Não foi por acaso que toda a estratégia comunitária de emprego assenta na alteração das regras do subsídio de desemprego, com vista a se reduzir fortemente a protecção aos desempregados: 1) a subida desejada do desemprego tem de pesar menos nas contas públicas; 2) os desempregados estariam mais disponíveis para aceitar salários mais baixos; 3) a própria lei forçou-os a aceitar empregos mais "convenientes"; 4) as políticas activas de emprego, com apoios comunitários, traduz-se na subsidiação de empregos de baixos salários. Algo que foi de mão dada com a descida do peso dos salários nas contas das empresas. Não foi por acaso que o FMI quis em 2011 uma descida da TSU patronal entre 3 a 4% do PIB. Não foi por acaso que a troika quis em 2012 uma subida da TSU dos empregados de 11 para 18% dos salários (ou seja, uma quebra dos salários líquidos de 7%, de um dia para o outro), acompanhada de uma descida 5,75pontos percentuais nos descontos sociais patronais (o correspondente a uma descida da massa salarial nominal de 4,6%, de um dia para o outro). Não foi por acaso que cortaram tudo o que se podia cortar no rendimento salarial por via fiscal.

Portugal está a reverter as "reformas". O desemprego parece atenuar-se. Os desempregados que vêm de novo se inscrever nos centros de emprego - novos desempregados - estão a ser cada vez menos.

Mas isso para a Alemanha não funciona. E quando os plebeus se revoltam, o chicote estala no ar.

12 comentários:

Jose disse...

Os nossos progressos são a inveja da Europa!
Falam mas é de inveja.

Jaime Santos disse...

Só para lembrar que as melhorias de que fala são obra de um Governo com um programa moderado e que está a conseguir fazer uma boa gestão orçamental. Claro, a situação económica degradou-se com as quebras de exportações para mercados como Angola, China e Brasil, mas como dizia Ferreira do Amaral anteontem na SIC, não fora o aumento do consumo privado e o País já teria entrado em recessão, à conta da dita quebra de exportações. Por isso, em vez de respostas maximalistas sobre referendos (inconstitucionais) ao Tratado Orçamental ou sobre cimeiras para o repelir (o nosso Parlamento basta para o fazer, mas já se sabe o que seguiria) eu aconselhava que se fizessem figas para que a dita execução orçamental continue a correr bem. O principal medo de Schaeuble et al é de serem derrotados no seu próprio jogo e com as suas próprias regras...

Jose disse...

O aumento da actividade económica, sobretudo se pela via do consumo, assegura um aumento da cobrança de impostos para o Estado.
Para além disso, não só foram aumentados impostos como está diminuído ao ínfimo o montante do investimento público.
A acrescente-se-lhe o aumento da dívida e do atraso em pagamentos e ficamos com uma ideia do sucesso da gestão orçamental da geringonça.
Sendo que no segundo semestre tudo isto permanece e aumenta a despesa pela plena aplicação das políticas geringonçosas e logo saberemos porque o que é certo acontecer só será reconhecido lá para Outubro.
Dando por não esclarecida a cena do BANIF, e sabido o que se sabe, logo se entende porque os financiadores da geringonça estão tão mal dispostos.
E não me venham com a treta dos trabalhadores, que tudo são políticas para trabalhadores COM TRABALHO!
Os desempregados que imigrem...

Jose disse...

Uma ressalva: estar no desemprego vai tornar-se mais cómodo!

Edgar Carneiro disse...

É a fuga para a frente, de qualquer maneira. Os predadores andam assustados.

Rui disse...

Houve um aumento correspondente do número de trabalhadores ativos?
É que a descida do desemprego pode acontecer simplesmente porque deixou de haver procura ativa de emprego, as pessoas ou emigram, reformam-se, deixam cair a inscrição no centro de emprego etc.
Se realmente houver uma subida dos números de emprego (postos de trabalho) são noticias muito boas.

Anónimo disse...

E´ minha natureza conviver com toda a gente e se possível dar-me bem com todos, mas também e´ da minha natureza aceitar o que julgo certo ou rejeitar o que julgo errado.
Sem ser Luterano admito, o que Lutero disse em certa altura, pouco mais ou menos isto: “que as aves voem no céu e´ da sua natureza, mas que deixemos que ponham o coco´ por cima do nosso nariz não”. Aquilo a que intitulamos de Eixo Franco-Alemão - monsenhores da arquidiocese Pentagonal dos USA - podiam e deviam ser menos egoístas.
Exímios cobradores de impostos, argutos engenheiros cambiais do Xerifado UE, nada os impediria de serem mais solidários com sua periferia.
Alem de que se podem tranquilizar por que o Robim dos bosques esta´ de partida.
De Adelino Silva

Anónimo disse...

Aturdido está este jose.
Bosta, perdão posta de enfiada de forma desaustinada, raivosa, empapada

"E não me venham com a treta dos trabalhadores, que tudo são políticas para trabalhadores COM TRABALHO!
Os desempregados que imigrem..."

Heil herr Schauble?
Heil jose

Jose disse...

Cuco, sempre te conforta imaginar-me em estados emocionais extremos, como se isso aumentasse a segurança pela solidez dos teus mantras porque tanto anseias .

Que emoção pode derivar deste déjá vu que tem por única dúvida o tempo de duração filme?
É claro que ainda faltam algumas fases, mas começam já a haver sinais de se aproximarem.
Para teu conforto, o Bateira já não me publica, o que significa que o PREC se vai instalando. Quando lá chegarmos terás um coral a teu gosto.

R.B. NorTør disse...

O comentário do Rui é pertinente. Uma breve consulta ao INE indica que os números (população empregada e taxa de emprego), não sendo muito díspares de 2015 (apesar de um poucochinho melhores), estão muito acima do que foram os anos de políticas hardcore da PaF. Ou da PAEF, como se preferir.

No entanto o dado com que se constrói o post é mesmo os novos desempregados. Até ver, "novos desempregados" estão a diminuir, o que contribui assaz para o aliviar das pressões que são mencionadas no texto.

É difícil, para não dizer impossível, recuperar metade dos emigrados que se verificou durante os últimos quatro anos. O que pode ainda ser possível é evitar que fujam os que ainda cá estão. Se de facto não houver criação de emprego, os novos desempregados podem diminuir porque "a malta" já nem vai ao IEFP inscrever-se, segue logo para fora. Ou não?

Anónimo disse...

Cuco é uma espécie parasita, o que significa que, em vez de construir ninho, deposita os seus ovos nos ninhos de outras aves.

Terá particular motivo de agitação o das 1 e 42. Pelo que ficou confirmado na resposta anterior. Pelo que se confirma agora às 1 e 42, com o salivar "cuco" a traduzir um trauma familiar qualquer.

Mas lá por que um cuco anónimo perturbou a harmonia do dito sujeito no seu ninho, não quer dizer que ele invista furiosamente assim, vendo cucos em cada esquina.

Percebeu o dito?

Agora ide fazer o papel a Herr Sclauble. Schnell!

E por favor páre com essas choraminguices sobre o que lhe fizeram ou deixaram de fazer porque isso no seu caso é infelizmente recorrente. Uma das vezes que me lembre foi no Aventar, quando decidiu fazer a apologia directa de Salazar e do fascismo.
Mas os casos somam-se. Já se re-inscreveu na sua agenda dos coitadinhos ?

Anónimo disse...

O PREC está de volta para um tipo aí em cima.

Coitado do tipo. O PREC ocorreu durante uns meses e foi o resultado da queda dum regime execrável que durou 48 anos. A revolução portuguesa foi espantosamente pacífica e foram mais as vítimas tombadas do lado dos democratas do que de qualquer outro lado. A começar logo pelos assassínios da Pide junto à sua sede.

A opinião é quase unânime sobre o rumo pacifico traçado pelo 25 de Abril.

Pois ainda há quem goste mais de agitar o medo pelo PREC do que pelo fascismo, com todos os seus horrores durante 48 anos. É natural. A conivência e a simpatia com a ditadura obriga involuntariamente a estes exercícios, a que não está alheia a cobardia experimentada na altura da gesta gloriosa do 25 de Abril.