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No entanto, julgo que ao designar por “loja” o que é um bom exemplo de modernização do Estado ao serviço dos cidadãos, os servidores públicos que tiveram esta ideia estavam, de forma talvez não intencional, já a promover um enquadramento comercial. As metáforas são poderosas. E, de facto, a palavra loja remete para uma lógica comercial, o contrário do que deve estar subjacente aos serviços públicos, que cuidam de direitos e deveres cidadãos, de bens sociais, de necessidades, e não de preferências suportadas pela carteira por mercadorias. Dir-me-ão que muitos serviços disponíveis loja do cidadão já são provisionados por privados. Esse é precisamente um dos problemas.
A moda das lojas pegou: por exemplo, um dos serviços da FCT chama-se “loja do cientista”, mas que eu saiba ninguém acede a estes serviços por ter pago algo para o efeito, chamar-se-ia corrupção a isso, mas sim devido a outros critérios, como o mérito científico, tal como é avaliado por uma determinada comunidade. Passaremos a ter loja Microsoft do cientista, agora que já temos cátedras e salas de aulas com patrocínios e nomes de empresas e tudo o mais que a imaginação empresarial consiga inventar? João Duque, que defende a censura em nome dos negócios, acha tudo isto normal.
Esta confusão de esferas abre as portas a uma das moralmente mais desgraçadas tendências de um tempo em que só nos saem Duques, como argumenta Michael Sandel, um dos filósofos que mais atenção tem prestado ao tempo em que tudo se compra e tudo se vende, ao tempo da “corrupção geral, da venalidade universal”.
3 comentários:
Que censura é que João Duque supostamente defende?
Não é censura é "filtragem" e não é a bem dos negócios mas sim a "bem da nação"...
Dois links para avivar a memória:
http://www.publico.pt/Pol%C3%ADtica/duque-rtp-internacional-deve-estar-sob-orientacao-do-mne-1521015
e
http://arrastao.org/2402629.html
Uma extensão ao parlamento, com patrocínio de uma conhecida marca americana de roupas, daria até bom resultado: Assembleia da Banana Republic!
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