O Governo pode dizer o que quiser sobre reformas estruturais redentoras e sobre o sucesso do ajustamento português. No mundo real, as únicas transformações estruturais vísiveis são o agravamento da recessão, o aumento do desemprego, a queda do investimento público e privado e um sector exportador com as encomendas em retracção. Em suma: uma economia bloqueada. E as más notícias, infelizmente, não acabam aqui. O Pacto Orçamental recentemente aprovado e que este governo entusiasticamente apoia, se for mesmo para levar a sério, vai constitucionalizar a austeridade e comprometer a economia europeia com uma estratégia de desalavancagem colectiva que irá inevitavelmente resultar numa profunda recessão. Tirando tudo isto, sim, está tudo a correr muitíssimo bem.
Na senda da atenção à evolução da social-democracia, que o Alexandre Abreu aqui bem justificou, proponho-vos que comparem a análise de João Galamba, aprofundada em artigo no último Le Monde diplomatique – edição portuguesa de sugestivo título – “vamos construir um futuro melhor, mas só depois de destruir o presente” –, com a de um dos intelectuais que melhor exprime a colonização ideológica da social-democracia pelo ordoliberalismo, por um europeísmo feliz e funcionalista que penosamente anda há não sei quanto tempo a saudar todas as “soluções” europeias para uma crise que não cessa de se agravar devido precisamente às opções austeritárias inscritas em tratados. Falo obviamente de Vital Moreira. Qual destas duas posições antagónicas, porque assentes em diagnósticos radicalmente distintos sobre a crise, suas origens, dinâmicas e meios de superação, prevalecerá no PS? Veremos em breve: esperemos que não seja a de aceitar o irracional reforço de um pacto fracassado em nome de concessões que ninguém fez ou fará em matéria de euro-obrigações, orçamento europeu ou fim da balcanização fiscal ou laboral que conduz a corridas para o fundo. No campo dos eurodeputados do PS, Ana Gomes tem dado indicações interessantes. Estará Vital isolado? Duvido. A armadilha europeia está bem montada desde Maastricht. A social-democracia tem caído nela para sua desgraça, para nossa desgraça.
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6 comentários:
Eu sei que é off-topic, mas os dados para portugal aqui são verdadeiros?? Eu se calhar vivo num portugal diferente....
http://graphics8.nytimes.com/images/2012/02/25/opinion/022512krugman2/022512krugman2-blog480.jpg
uma das teorias mais interessantes que ouvi recentemente é que o que se passa na europa é uma deseperada tentativa da alemanha para germanizar competitivamente a europa para esta poder competir com china.
nesta teoria, a unica potencia mundial capaz de contrariar a hegemonia competitiva mundial da china em termos de comércio mundial (e de domínio mundial?) seria a alemanha e esta não tem actualmente uma dimensão que lhe permita contraria essa hegemonia.
Nesta perspectiva, as crises austeritárias da Europa correspondem uma chinesiação/germanização dos países menos competitivos da europa para os tornar parte do "espaço vital" (e não utilizo esta expressão por acaso) alemão
se esta teoria tiver alguma validade, tenho que admitir que prefiro um mundo dominado por uma alemanha democrática do que um mundo dominado por um pais "social-fascista" (no verdadeiro sentido do termo independentemente da conotação folclórica maoista que lhe está associado) em que, por exemplo, impera a pena de morte em larga escala e em que os condenados à morte são préviamente condenados/entrevistados na televisão em prime time, num reality show apoiado pelo governo para gáudio das massas.
“O europeísmo feliz e funcionalista” de funcionários e outros burocratas da EU é muito curto para a desejável Europa de cidadãos. Digamos que se fica pelo umbigo. É esse presente que é preciso destruir.
Bem, quanto ao PS, penso que esse partido acabou por se tornar num albergue espanhol. Se há pessoas no seu seio que têm ideias a subscrever sem reservas, digamos, socialistas, outros há que se devem ter enganado de partido. É a vida, cada um escolhe os amigos que quer…
A social-democracia caiu na armadilha ou a social-democracia é uma armadilha?
http://graphics8.nytimes.com/images/2012/02/25/opinion/022512krugman2/022512krugman2-blog480.jpg este gráfico sobre o défice do estado português não parece verdadeiro.... e é do Krugman...
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