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A análise de Daniel Amaral pode ser prolongada, tentando perceber as causas reais da tal hipocrisia nas suas várias declinações. Aqui, economistas políticos convencionais e marxistas – Simon Johnson e Daren Acemoglu do MIT, por um lado, e Costas Lapavitsas da SOAS, por outro – podem convergir no reconhecimento do poder do sector financeiro na actual economia política. Tratou-se no caso da Grécia, e no fundo trata-se noutros casos periféricos, de adiar ao máximo a reestruturação da dívida para dar tempo aos bancos internacionais para transferir o máximo de encargos para o sector público, reduzindo assim o poder dos Estados periféricos, a sua capacidade negocial, até porque a nova dívida deixa de estar submetida a lei nacional, o que significa, entre outras coisas, que em caso de saída do euro a dívida não pode ser convertida legalmente na nova moeda. É por estas e por outras que nos últimos dois anos também aqui temos defendido uma reestruturação da dívida para ontem.
De resto, hoje mais do que nunca, a política transformadora precisa de todo o realismo, ou seja, de toda a disponibilidade intelectual para identificar mecanismos, relações ou estruturas com impactos bem reais no processo da vida na actual fase do capitalismo. Falhar-se-á muitas vezes, claro, e também daí ser tão importante o debate e o pluralismo, as melhores formas de eliminar o erro e de gerar correcções, nunca perdendo de vista que a intervenção deve ser compatível com as verdades que, apesar de tudo, desta forma se vão revelando por aí. Quando se perde isto de vista a manipulação e os jogos de poder ocupam todo o espaço num mundo em que vale tudo porque tudo se equivale.
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